quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

NA PONTA DO LÁPIS


Volkswagen Fox

Se fôssemos separar os consumidores de carros por categorias, acredito que seria possível estabelecer pelo menos 3: a dos que compram por diversão (analisam desempenho, dirigibilidade e design, às vezes preferindo um usado mais equipado e potente), a dos que compram pensando em investimento (o que importa é o valor de compra, a liquidez e a desvalorização, e por isso geralmente compram carros queridos pelo mercado) e a dos que compram por necessidade (seus critérios são custo x benefício, consumo e custo de manutenção, pouco importando beleza e desempenho).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FIAT LINEA HLX DUALOGIC




O Fiat Linea é um paradoxo. Claro, ele não é o único no mercado nacional; na própria Fiat ele tem uma companheira, a Strada Cabine Dupla. O caso dela, que quer ser 2 coisas (automóvel e picape) e não consegue ser nenhuma, não deixa de ser curioso. E só para citar outro caso curioso, vamos nos lembrar do Honda City, o pequeno que quer ser médio.



















As contradições do Linea, porém, parecem ser um pouco mais sérias. Lançado como sedã médio, ele não foi bem aceito e se tornou pivô da discórdia entre entusiastas da Fiat – felizes e animados com o lançamento – e conhecedores do mercado – que não entendiam como um sedã derivado de um hatch pequeno um pouco anabolizado poderia ser considerado um carro médio. Depois, temendo um destino semelhante ao do Marea (que caiu no ostracismo), a Fiat lançou uma versão mais despojada e o reposicionou no mercado, o que acabou gerando resultados bem mais positivos em vendas. Mesmo assim, isso não resolveu um dos maiores dilemas que cercam o modelo: ser um carro com comprimento e distância entreeixos de sedã médio, mas com espaço interno de hatch premium e motorização com pouca tecnologia, típica de hatch médio de entrada.

Isso nos faz pensar sobre os motivos que levam uma pessoa a comprar um Linea. Sabe-se que compradores de sedãs premium ou médios levam muitíssimo em consideração pelo menos 5 aspectos: itens de série, design, desempenho, tecnologia e espaço. Mas com tantos sedãs bem definidos em sua proposta e posicionamento no mercado, qualidade reconhecida e custo x benefício semelhante (ou até melhor), por que alguém escolheria um, digamos, “Punto Sedã alongado”?

Itens de série






















Analisando pontualmente a versão mais vendida (segundo a Fiat), a HLX Dualogic, já encontramos o primeiro (bom) motivo: muitos itens de série por preço atraente. É bom lembrar que a Fiat reposicionou o Linea no mercado e isso faz com que esperemos mais de um carro de R$ 61.816,00 (com pintura metálica). E o Linea não decepciona: ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico (com acionamento elétricos dos vidros para as 4 portas), airbag duplo, freios a disco nas 4 rodas com ABS, rodas de alumínio, abertura interna do portamalas, CD player com MP3, volante revestido em couro com ajuste de altura e profundidade e comandos do rádio, câmbio dualogic, chave-canivete com controle para abertura de portas, vidros e portamalas, computador de bordo, piloto automático e porta-óculos. Sim, existe uma versão mais em conta (R$ 55.430,00), mas que também vem recheada: exclua da versão acima somente as rodas de alumínio, o ABS e o câmbio dualogic, essencialmente.

Design




















Também pode ser um bom chamariz para o comprador. Por ser derivado do Punto, o Linea aproveitou um pouco de suas belas linhas, mas com detalhes que imprimem identidade própria ao modelo com um resultado muito bom. Sóbrio e dinâmico ao mesmo tempo, tem cromados na quantidade e no lugar certo, e a dianteira, diferenciada em relação ao Punto, conversa muito bem com a traseira – com destaque para as lanternas, de desenho harmonioso e muito bonito. Por dentro, o Linea também agrada com bom acabamento e materiais de boa textura, além do bonito e agradável layout do painel, especialmente à noite.

Desempenho




















Outro bom motivo de compra. O ronco do motor, grave e metálico, entusiasma e chega a lembrar, em certas rotações, um Alfa 4 cilindros. É áspero, mas não incomoda. De rodar macio e construção sólida, ele filtra bem as imperfeições do asfalto e acomoda muitíssimo bem o motorista, graças às regulagens do banco e do volante (ambos em distância e altura), que, inclusive, tem ótima pega. E ele anda bem, apesar de acelerar menos que alguns concorrentes – 11,3 segundos para ir de 0 a 100 km/h e retomada de 80 a 120 km/h em 8 segundos cravados, auxiliado pelo câmbio dualogic. Mas aí começam os problemas...

Em consumo, o Linea deixa a dever: média de 5,8 km/l na cidade e de 8,2 km/l na estrada, com álcool. Além disso, o câmbio dualogic não ajuda muito em termos de comodidade no dia-a-dia. Suportar os trancos nas trocas de marchas por semanas, meses ou anos é uma coisa que requer muito amor pelo carro ou muita paciência. Querendo ou não, você olha para o câmbio e imagina que está guiando um carro automático, literalmente. Mas aí, resolve acelerar um pouco mais numa saída de sinal e... Tranco. Na estrada, se precisa ultrapassar, pisa fundo e... Tranco. Nem mesmo câmbios automáticos em carros mais antigos geravam tanto desconforto. Disse-me o vendedor que isso pode ser amenizado caso você tire o pé do pedal a cada troca de marcha, como faria com um carro com câmbio manual normal, com a única diferença de não ter que apertar um pedal de embreagem. Neste caso, porém, a proposta de conforto de um câmbio automático ou automatizado perde um pouco o sentido.

Tecnologia






















Falta de tecnologia não é um problema, se você não souber disso. Parece que é o que pensa a Fiat em relação ao Linea. Sim, os donos do carro têm um carro que roda com um propulsor 1.9 16v com bloco de ferro fundido, sem variador do comando de válvulas, de alto consumo, com potência específica mais baixa e relação entre peso e potência mais alta que a de seus concorrentes, além de uma suspensão simples; mas isso tudo eles não vêem nem sentem. Enquanto isso, contam com freios ABS, podem ter 6 airbags à disposição, equipamento de som com leitor de MP3, entrada USB e Bluetooth, navegação por GPS, sensores de estacionamento, de chuva e crepuscular – e isso tudo se vê e se sente. A máxima aplicada pela Fiat é muito lógica e faz muito bem para as vendas.

Espaço




















Neste aspecto não há como disfarçar: o Linea sofre as conseqüências de ser derivado de um carro pequeno. Mesmo comprido (4,56 m) e com entreeixos interessante (2,60 m), ele é mais estreito que seus concorrentes e tem menos espaço para a cabeça dos ocupantes do banco traseiro. Comparando-o com o Corolla, por exemplo, que tem exatamente o mesmo entreeixos, isso fica ainda mais evidente – e não deixa de ser interessante, já que o Corolla é mais baixo mas tem melhor aproveitamento interno do espaço. Mesmo na frente, onde o motorista se senta com conforto, o passageiro sofre um pouco por causa do espaço ocupado pelo console central. Quanto ao portamalas, com 500 litros declarados e articulações pantográficas (que não ocupam espaço no compartimento), não se pode reclamar do espaço: as bagagens vão bem acomodadas. Mas o vão de entrada é um pouco estreito; pais de crianças pequenas, que precisam carregar carrinhos e/ou cadeirinhas de viagem, eventualmente, podem não gostar disso.

Enfim, o Linea não é ruim. Só é pior que muitos modelos com os quais concorre. Em contrapartida, ele tem o mérito de ter atingido um público muito específico e que, surpreendentemente, é maior do que muitos poderiam supor. Um grupo de pessoas que:
- prefere VER a tecnologia do que SABER de sua existência;
- prefere QUANTIDADE à QUALIDADE;
- gosta de dirigir, mas não se preocupa muito com o conforto de quem vai junto;
- gosta da idéia de ter algo diferente dos demais (por exemplo, um carro com câmbio automatizado em vez de automático) e está disposto a arcar com as conseqüências de algum desconforto;
- não abre mão da suposta confiança em uma marca estabelecida em nosso mercado, por mais que isso possa redundar em prejuízo da qualidade.

Todos os dados de desempenho e consumo foram retirados do site Best Cars.