O Fiat Mille Economy é o carro mais barato do Brasil. Não, espere! O Effa M100 que é o carro mais barato do Brasil. Os mais apaixonados por carro diriam que, nesta disputa, nem um dos dois poderia entrar, porque não são carros – para muitos o Mille é só um meio de transporte e o M100 é um brinquedo.
Apesar do título da avaliação, começo falando do modelinho da Effa. De cara já dá pra dizer que não há comparação entre ele e o Mille. E não é só por causa dos equipamentos de série (ar condicionado, vidros e travas elétricas com travamento remoto, alarme, CD player e faróis de neblina) ou da configuração diferente de carroceria (o Mille é um hatch pequeno e o M100 é uma microvan).
Apesar da aura de ótimo custo X benefício que paira sobre o M100 (ele custa, hoje, R$ 22.980,00), em todos os aspectos que se possa analisar ele é um carro (opa!) ruim. É econômico, mas o Mille é mais. O portamalas é grande para o porte do carro, mas carregá-lo seria um perfeito indício de masoquismo. O motor 1.0 da Suzuki, com 47 cv e 7,4 mkgf, torna seu desempenho sofrível na estrada e apenas adequado na cidade – e mesmo assim ele padece nas arrancadas. A suspensão molinha deveria filtrar mais as imperfeições do asfalto, mas o que ocorre é o contrário: senti milimetricamente tudo o que se passou lá fora. Ele é instável nas curvas e o centro de gravidade alto transmite muita insegurança (fato comprovado pela interrupção do teste de 60.000 km realizado pela revista Quatro Rodas). Como se não bastasse, ele é barulhento, mal acabado, mal montado, tem péssima assistência técnica e dá a impressão de que, em médio ou longo prazo, vai desmanchar.
Aliás, falando em resistência, estive em um posto de combustível em Campinas, SP, e descobri que eles tinham 2 Effa M100 em sua frota. Resolvi perguntar sobre os carros; uma onda de sarcasmo tomou conta de todos. Um deles me disse: “A mídia diz que é o melhor carro vendido no Brasil atualmente. Carrinho muito bom mesmo. Se quiser, a gente vende os dois pra você, baratinho. Quer? Pelo amor de Deus, leva!”
Não sendo possível uma comparação direta (e concluindo que o modelo da Effa não compensa), resta saber se, dentre os mais baratos, o Mille Economy realmente vale a pena. Ele já goza da boa fama de resistência e baixo custo de manutenção, e some a isso o fato de ser barato num país onde o preço é um dos principais, senão o principal argumento de vendas – ele tem sido encontrado em concessionárias por R$ 21.990,00 na versão 2 portas básica e, em sua versão mais completa, não passa de R$ 30.734,00: pronto, eis a receita do sucesso. Há anos ele se mantém entre o terceiro e o quarto lugares no ranking de vendas de modelos novos. E sua liquidez é espetacular: anunciou, vendeu.
Mas vender muito não é, necessariamente, sinal de qualidade. A maior crítica ao Mille recai sobre a falta de segurança e isso pode ser comprovado diretamente de várias formas: na pouca espessura das portas, no posicionamento do estepe no cofre do motor (que se, por um lado, abre espaço no portamalas, por outro impede qualquer projeto de deformação programada), na inexistência de airbags e ABS nem como opcionais. Por outro lado, ainda falando em segurança, mesmo sendo um projeto antigo o Mille guarda boas qualidades: suspensão independente, ótima estabilidade, ótimo desempenho para um 1.0 (o que garante ultrapassagens mais seguras) e ótima visibilidade.
Falando especificamente em desempenho, o Mille surpreende. Fazendo de 0-100 km/h em 14,1 segundos, ele é mais ágil que todos os seus concorrentes e até que Punto 1.4, Idea 1.4, Palio Weekend 1.4 e Stilo Dualogic 1.8 (este, sim, uma vergoooonha). Suas retomadas de velocidade igualmente não deixam a desejar, transmitindo segurança. Mas o melhor de tudo isso é ter desempenho sem gastar muito. Com médias de 9,3 km/l na cidade e 12,6 km/l na estrada (com álcool), resultando numa autonomia de 668 km, ele deixa para trás Celta, Clio, Ka e Gol G4.
No decorrer dos anos o acabamento do Mille foi melhorando. Não dá pra esperar, num carro de menos de 22 mil reais, materiais nobres ou revestimentos de primeira linha. Mas ao utilizar peças (como o volante e a alavanca de câmbio, por exemplo) e itens de acabamento do Palio, ele perdeu um pouco daquela aparência franciscana que costumava ter desde quando ainda era Uno Mille, nos idos de 1994. Mesmo a versão ELX (que inaugurou o segmento de compactos de luxo, incorporando itens como ar condicionado, vidros e travas elétricas), lançada em 1995, não tinha materiais com aspecto tão bom. Vá lá, os encaixes das peças são irregulares, a montagem do carro como um todo é escalafobética e a ergonomia (com o rádio lá embaixo, o volante alto e os pedais idem) é estranha, mas as tonalidades mais claras, a mudança dos tecidos nos bancos, da alavanca de câmbio e do volante, e ainda o uso de plásticos um pouco melhores e mais agradáveis ao tato, sem falar no novo painel, deixam ele muito mais arejado e vistoso.
O painel, aliás, é muito bonito à noite e a tonalidade branca tem um “quê” de sofisticação, apesar de a fraca iluminação dos instrumentos do console destoar um pouco. Com rádio fica melhor. O econômetro faz bem o seu papel e chega a viciar, como um minigame. É praticamente impossível não querer pisar cada vez menos para manter o ponteiro cada vez mais no verde. É dirigindo dessa forma que o Mille consegue suas melhores marcas de consumo – e, convenhamos, ele não precisa de mais que isso para andar bem na cidade. Leve (apenas 830 kg), ele consegue perfeitamente manter velocidade média de 60 km/h em quinta marcha sem ratear e retomando velocidade com disposição quando solicitado, mostrando que o motor Fire 1.0 com até 66 cv de potência e 9,2 mkgf de torque é bem elástico. Na verdade, é possível andar até a 40 km/h em quinta marcha sem que ele reclame, mas você corre o risco de ser chamado de domingueiro. Melhor não.
Falar de conforto no Mille Economy é relativo. Ele é espaçoso apesar de estreito, e a direção é leve mesmo sem ser hidráulica (com o opcional fica melhor ainda, mas não é item essencial). O câmbio tem engates suaves (apesar de, às vezes, parecerem meio bambos) e o isolamento acústico melhorou bastante com o passar do tempo. No Mille Way, por causa dos pneus de uso misto, mais ruidosos, o nível de ruído aumenta um pouco, mas nada exagerado. Porém, a suspensão é dura e faz o carro sacolejar horrores nas ruas lunares de São Paulo. Na versão Way a coisa piora: dependendo do trecho, parecia que os pneus eram cocos. A ergonomia, como já foi dito, é ruim e os bancos não seguram o corpo nas curvas. E o silêncio em velocidades reduzidas se transforma numa gritaria convicta acima de 100 km/h. Algumas coisas o comprador pode relevar: os vidros de trás, como é sabido, só abrem até a metade, mas ninguém vai pagar pedágio por lá; e o portamalas é pequeno, mas não é o menor dentre todos os concorrentes; dá pro gasto em afazeres urbanos.
Colocando tudo na ponta do lápis, o Mille Economy, na versão comum ou Way, não parece tão ruim assim, mesmo sendo o carro mais barato do Brasil. Peraí, eu disse carro? Pois é, disse. E não me arrependo. Ele pode ser datado, mas os inúmeros aperfeiçoamentos da Fiat no seu modelo de entrada impediram que ele se tornasse arcaico. Pelo contrário, continuam colocando-o em pé de igualdade na disputa pelo compacto de entrada preferido dos brasileiros. E como todo entusiasta trata de carros considerando seu desempenho, não dá pra dizer que, neste aspecto, o Mille é só um meio de transporte. Ele anda bem demais para isso.
Nota: Todos os dados de desempenho e consumo são de testes realizados pela revista Quatro Rodas.
hauahuahauhauahau'
ResponderExcluirexelente matéria,mas continuo pensando que ele é apenas um meio de transportes hauahuaha'
Tadinho, dá um voto de confiança pro Millezinho!
ResponderExcluirObrigado e um abraço!
Max...obrigado por ter aceito a minha sugestão....a matéria ta excelente! Parabéns!
ResponderExcluirVo continuar passando sempre por aki pra ver as novidades....
Comentário de Isabel, Porto Alegre, RS (que teve dificuldade para inserir seu post):
ResponderExcluir"Eu só acho que estes preços são apenas para São Paulo (e isso vale para praticamente todas as matérias).
Aqui no RS, os carros sempre são mais caros.
Um amigo comprou um Mille, há pouco, e mesmo não colocando opcionais pagou bem mais caro, à vista."
E em sp já é muito caro... 22 mil em um quadrado com motor...
ResponderExcluirMatéria tendenciosa, comprei uma Towner Passageiro da Hafei(chinês) e estou gostando. Ela possue o mesmo motor Suzuki 1.0 do M100. Indico, veio devagar e ficou.
ResponderExcluirVocê comprou um Towner, não um M100. São carros diferentes e com propostas diferentes. Além do mais, sua compra não anula o fato de o M100 ter sido reprovado pela revista Quatro Rodas em um teste sob o ponto de vista do consumidor comum, ou seja, no dia-a-dia. A falta de qualidade na montagem do carro e a falta de preparo da rede autorizada ainda são problemas que devem ser sanados o quanto antes para que os carros da Effa possam ser considerados boas compras. Por enquanto, não são.
ResponderExcluirEu tenho um Mille Fire Economy 2011, e acho que a matéria o define bem. O carro anda muito pra um 1.0, tem uma arrancada surpreendente (sem o a/c ligado e com 03 pessoas no máximo, afinal é um 1.0), é super economico na gasolina, super robusto, freia bem.
ResponderExcluirO carro tem 50.000 km, e nunca tive nenhum problema em congestionamentos de 42º com o ar ligado, já percorrí até estradas de terra péssimas, e o carrinho firme e forte.
Os pontos negativos, como a matéria descreveu, são o conforto (os bancos são péssimos para o motorista e passageiro - haja coluna!), a suspensão é estilo "carro de boi", o acabamento muito ruim, as marchas muitas vezes arranham, principalmente a 2ª, a direção às vezes é meio bamba, mas nada que comprometa severamente o carro.