ALTA RODA, Fernando Calmon
Finalmente,
o aguardado novo regime automobilístico brasileiro foi anunciado na semana
passada, às vésperas dos feriados da Páscoa. Apesar de fama (merecida) do País de
quebra de regras, protecionismo e excesso de intervenção na economia, é apenas o
terceiro programa, em mais de meio século, desde o pioneiro em 1956, quando se
criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia). O segundo, em 1995,
também se implantou sem grandes sobressaltos.
Depois de 56
anos, o mundo mudou bastante. E ficou mais fechado ao comércio, depois da crise
financeira mundial de 2008. Seria ingenuidade supor que o Brasil devesse bancar
a vestal em baile de Carnaval. Aliás, pesquisa de instituto especializado no
exterior aponta o País só em nona posição, com 49 medidas de “defesa comercial”
no período, contra 242 da União Europeia, 112 da Rússia e 111 da Argentina.
Em setembro
do ano passado, anunciaram-se as linhas gerais da nova política para o setor. Implicou
aumento de 30 pontos percentuais (pp) do IPI para veículos leves de todas as
origens, inclusive os produzidos aqui. Ao mesmo tempo, criaram-se regras para
dispensar esse aumento, se cumpridas certas condições agora anunciadas. Na época,
os importadores gritaram que os compradores seriam prejudicados e a ausência de
concorrência externa elevaria os preços. Seis meses depois não subiram e até
diminuíram, à exceção de modelos importados de médio e alto preço. Ainda assim,
se absorveu parte dos ônus, pois a taxa de câmbio camarada para importação deixa
grande margem de manobra.
O regime anunciado
é complexo e tomou a maior parte dos debates no III Fórum da Indústria
Automobilística, da Automotive Business, nessa 2ª feira, em São Paulo. Nem tudo
ficou completamente esclarecido pelo pouco tempo para análises pré-fórum. Mas
se trata de um programa coerente, com começo, meio e fim, entre 2013 e 2017,
focado na atração de novos fabricantes, aumento de investimentos, incentivo ao
uso de peças nacionais e pesquisa/inovação dentro do País. Acaba com o
tradicional índice de nacionalização, substituindo-o por cálculo de compras
internas vinculado à redução total dos 30 pp adicionais de IPI, o que poderá
dobrar o uso de componentes regionais do Mercosul.
Marcas que
se aproveitaram da frouxidão de regulamentos anteriores terão dificuldade em
manter operações rentáveis no Brasil. A previsão para 2017 é um mercado interno
de 5 milhões de unidades (com caminhões e ônibus), a partir de 3,8 milhões em
2012. Até aquele ano, a concorrência será bem maior, com mais fabricantes
produzindo internamente sob as mesmas regras e estimulados a oferecer modelos
atuais e inovadores para obter redução de impostos.
Outros
aspectos desses regimes serão abordados pela coluna, inclusive sobre o provável
cenário de preços reais, considerada a inflação, aquilo que realmente interessa
ao consumidor. Abriu-se, na verdade, uma janela de cinco anos para melhorar
competitividade e modernização da produção brasileira. Ao governo, porém, caberão
ações fundamentais de combate às ineficiências estruturais e aos altos custos visíveis
e invisíveis do País, de sua responsabilidade, sem as quais vamos nadar, nadar e
morrer na praia.
RODA VIVA
PRIMEIRO recuo de vendas no trimestre inicial,
desde 2003, aconteceu agora em 2012. Na realidade foi de apenas 0,8% em relação
a 2011, atribuído às dificuldades de aprovação de financiamentos ao consumidor.
A considerar, ainda, notícias de que o governo patrocinaria redução de juros,
via bancos estatais. Pode ter tido impacto sobre expectativas dos compradores.
CRUZE Sport6 engrossa disputa entre
hatches médios-compactos, de visual tão atual como o do Peugeot 308. Espaço
interno igual ao do sedã Cruze, mesmo motor de 1,8 l/144 cv, câmbio manual ou
automático de seis marchas e até teto solar na versão de topo LTZ. Suspensões e
direção muito bons. Preços, puxados por equipamentos, de R$ 64.900 a R$ 79.400,
limitarão vendas.
RACIONALIZAÇÃO do número de versões foi
a estratégia da Mercedes-Benz para seu roadster SLK enfrentar o aumento do IPI.
Antes havia três opções, agora só a de R$ 249.990 e, mais adiante, a AMG sob
encomenda. Fábrica espera redução próxima a 50% na comercialização de 2012 em
relação a 2011. Ano passado compras foram antecipadas para fugir do imposto.
VERSA apresenta estilo algo controverso.
No entanto, destaca espaço interno, motor adequado e preço realmente
diferenciado, pelo que oferece, a partir de R$ 35.590. Redução de oferta em
função das cotas de automóveis mexicanos atrapalhará planos da Nissan.
Incomodam bancos dianteiros de assentos curto demais, incompatíveis à proposta
de modelo espaçoso.
PARA quem deseja acompanhar debates
sobre embriaguez ao volante e assinar petição pública há um site bem estruturado:
www.naofoiacidente.org. Participa de redes sociais (Facebook e Twitter). Iniciativas
desse naipe são bem-vindas para engajar pessoas por mais segurança no trânsito.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e
apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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