ALTA RODA, Fernando Calmon
Entre os
eventos mais tradicionais no setor está o Congresso Fenabrave, a associação das
concessionárias de todos os tipos de veículos motorizados terrestres, incluídos
motocicletas, máquinas agrícolas e implementos rodoviários. Embora focado nos
negócios, várias pautas discutidas interessam ao mercado como um todo e ao
comprador final do veículo.
A XXII
edição, realizada semana passada em São Paulo, mostrou que assuntos abordados em
outros anos começam a evoluir e há sinais de mudanças para melhor. Na palestra
de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, não passou despercebido para
esta coluna a afirmação de que, em breve, se regulamentará o cadastro positivo.
Trata-se de
um instrumento importante para graduação da taxa de juros nos financiamentos de
carros. Quem tem histórico de honrar compromissos pagará menos juros. Mas o
processo de amadurecimento é longo e se atrasou por ação de entidades de falsa
defesa dos consumidores com viés apenas ideológico.
Outra dívida
do poder público mostra, agora, chance de solução. O vice-governador de São
Paulo, Guilherme Afif, anunciou no congresso a criação dos primeiros pátios ou
depósitos destinados à reciclagem. “É o início da chamada indústria
desmontadora de veículos”, saudou. No Brasil, apenas 1,5% é reciclado. Graças à
iniciativa, a inspeção técnica veicular, eternamente adiada por demagogia
política, quando implantada trará benefícios adicionais para renovação da frota
circulante sucateada, além de óbvios ganhos de segurança e ambientais.
Sobre a
conjuntura atual, se confirmou que a taxa recorde de 6% de inadimplência nos
financiamentos começou a cair e deve chegar a 5% até o final do ano, ainda
longe dos 3% históricos. Em grande parte ela se deve menos aos financiamentos
de 60 meses sem entrada (sempre “mosca azul” no mercado) e mais ao afrouxamento
excessivo das exigências bancárias. Agora, 55% dos cadastros de clientes de
automóveis novos são aprovados (normalidade, 80%). Problema continua nos carros
usados, importantes no processo comercial, cuja aprovação cadastral estacionou
nos 30%.
Interessante
foi a pesquisa da J.D. Power mostrando que 48% dos automóveis novos, hoje
vendidos, são em substituição a outro veículo, 27% fazem a primeira compra e
25%, um carro adicional. Demonstração do grande potencial do mercado brasileiro
em relação a países maduros, onde a troca do usado pelo novo pode representar
até 80% do total.
Flávio
Meneghetti, presidente da Fenabrave, mostrou confiança de que as vendas de 2012
superem em mais de 4% o recorde de 2011. Deixou a entender que, mantidas as
condições atuais de IPI reduzido até o final do ano, o mercado poderia crescer
até mais de 5%, resultado que, poucos meses atrás, quase ninguém cogitava. Ainda
não ficou claro se o crescimento é sustentável ou significa antecipação de
vendas de 2013. Dependerá de a economia arrancar do atoleiro atual com a
desenvoltura de um bom veículo 4x4.
O congresso teve
40 palestrantes do Brasil e do exterior e exposição de 15.000 m² que reuniu 70
fornecedores. Presença institucional de alguns fabricantes incluiu a Hyundai
Brasil. Ela monta uma nova rede, a partir do zero, apenas para o seu novo
compacto nacional HB20.
RODA VIVA
HONDA terá versão do Fit com visual
“aventureiro”, a ser lançado no Salão do Automóvel de São Paulo (24/10 a 4/11).
Nada de protótipo de verdadeiro SUV baseado na arquitetura do modelo. Assim, HB20
não estará sozinho nessa estratégia. Marca japonesa não exibirá o compacto de
entrada Brio, apesar de previsto para produção no Brasil.
EXPECTATIVA de vendas elevadas do novo
EcoSport, se confirmada, trará efeitos colaterais aos planos da Ford. Kuga,
utilitário esporte com base no Focus, andava meio de lado na filial argentina.
Mas, poderá, finalmente, sair de conjecturas e entrar em produção mais adiante.
A empresa avalia: SUVs avançarão sobre outros segmentos e quer surfar na onda.
VOYAGE Comfortline 1,6/104 cv, com
câmbio automatizado de uma embreagem (I-Motion), abre opção interessante na
faixa de preço pouco acima dos R$ 40 mil. Linhas recém atualizadas, bom
acabamento, suspensões firmes sem provocar desconforto e motor que tem “vida”
em baixas rotações são pontos altos. Instrumento combinado exige melhor
visibilidade.
APESAR de otimismo sobre possível
recorde de 380.000 unidades vendidas até o fim de agosto, F. Meneghetti, presidente
da Fenabrave, preocupa-se com oportunismo de alguns escritórios de advocacia.
“Ações revisionais de financiamentos, questionando juros contratuais, são
propostas sem critérios. Algumas vezes, logo depois de paga a primeira
prestação.”
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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