Como exemplo
de país tropical e por suas dimensões continentais, o Brasil deveria ter-se
tornado o paraíso para os fabricantes de ar-condicionado para automóveis.
Ocorre que problemas técnicos, de custo dos aparelhos e de baixo poder
aquisitivo dos compradores, levaram a uma taxa de aplicação relativamente baixa
durante muitos anos.
Para as
concessionárias também não era producente ter muitos modelos estocados à espera
de compradores interessados nesse equipamento. E tudo conspirava contra. Há uns
20 anos o sistema drenava parte relativamente elevada da potência do motor (10%
ou até mais). Por consequência, o desempenho caía e o consumo de combustível
aumentava, em alguns casos de forma expressiva, ao rodar no para-e-anda do
trânsito urbano. Isso quando não fazia subir a temperatura do motor ou
sobrecarregava a bateria.
Para
complicar, em 1993 surgiu o carro popular. O primeiro foi o Fusca renascido,
mas os demais optaram pelo motor de 1.000 cm³ (1 litro) de cilindrada já
instalado nas versões de entrada, desde que o IPI teve sua alíquota nominal
reduzida quase à metade em 1990. As potências eram baixas e tentar instalar
ar-condicionado nem pensar. Automóveis de baixa cilindrada e de menor preço
tomaram conta do mercado: em 2001 representavam incríveis 71% das vendas de
automóveis e peruas.
Aos poucos,
porém, os motores de 1 litro evoluíram e todo o conjunto de ar-condicionado, ainda
mais. Os componentes diminuíram de peso e volume, além dos compressores ficarem
mais leves e eficientes. Já era possível instalar o aparelho mesmo em carros de
baixa cilindrada, desde que o motorista aceitasse uma perda mais ou menos
tolerável de desempenho.
O que ajudou
também foi o início do gerenciamento eletrônico dos motores. Antes disso, ainda
no tempo dos carburadores, já era possível desligar o compressor, quando se
pisava até o fim do curso do acelerador, bastante útil numa manobra de
ultrapassagem. Hoje, sistemas de ar-condicionado, além de confiáveis e de baixo
custo de manutenção, subtraem em torno de 5% da potência de um motor de 1,6 l e
100 cv ou 10% no caso de propulsor de 1 litro e 70 cv. O consumo de combustível
aumenta cerca de 10%, em cidade, e 6%, em estrada, graças aos novos
compressores de deslocamento variável.
Temperatura amena
no habitáculo melhora a chamada segurança preventiva, ou seja, recursos de
conforto que oferecem ao motorista condições ideais de conduzir o veículo. O
corpo humano se sente bem em ambientes a 22° C e umidade relativa do ar de 50%:
aumentam a concentração ao dirigir e a capacidade de reação.
Estudos
recentes, divulgados pela Mahle, indicam que já a 27° C a pulsação e a
temperatura corporal sobem, levando ao cansaço e até à agressividade. Elevação
de mais 10° C significa risco de acidente 20% maior. O motorista se sente, sob
essa condição climática, da mesma forma que se tivesse nível alcoólico no
sangue de 0,5 g/l. Esse é, praticamente, o limite de 0,6 g/l da Lei Seca,
quando o motorista poderá ser preso em flagrante, receber multa de R$ 1.915,40
e pena entre seis meses e dois anos de reclusão.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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