ALTA RODA, Fernando Calmon
Ao entrar no
quarto ano de inspeção técnica ambiental para toda a frota da cidade de São
Paulo, pode-se afirmar que se trata de uma ação bem sucedida. Em 2011, cerca de
3.200.000 veículos passaram pelas linhas de inspeção, incluindo automóveis,
motocicletas, caminhões e ônibus.
A partir das
estatísticas da concessionária do serviço, Controlar, um mito já pode ser
desfeito. A maior cidade do país está longe da frota “monstruosa” de sete
milhões de veículos que lhe é atribuída pelos dados distorcidos do Denatran. A empresa
estima a evasão – veículos antigos que poluem muito, mas rodam relativamente
pouco – em 30%. A frota real estaria, portanto, em torno de 4,5 milhões de
unidades. Simplesmente, o Denatran não pondera o sucateamento natural de
veículos ao impor regras complicadas ao último proprietário.
O controle
da frota é fundamental para qualquer planejamento viário, análise de poluição
do ar, inspeção de segurança e incidências de mortos e feridos no trânsito.
Números artificialmente elevados de veículos em circulação mascaram as taxas de
acidentalidade. Se o divisor fosse próximo da realidade, os 40.000 mortos por
ano colocariam o Brasil em posição ainda mais vexaminosa no quadro mundial.
Hoje, apenas
a cidade de São Paulo e o Estado do Rio de Janeiro fazem inspeções regulares.
No segundo caso, além de emissões, há checagem de poucos itens de segurança, de
forma superficial e tarifa muito cara. Uma verdadeira e confiável inspeção
técnica veicular (incluindo a ambiental) ainda está esquecida no Congresso
Nacional. O que existe é a obrigatoriedade de inspeção de emissões, imposta
pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) a todos os Estados sob
critérios discutíveis e desconectada da realidade.
Uma inspeção
unificada permitiria tarifas menores e atacaria o problema maior, os riscos de acidentes
por falta de controle de manutenção. Não se trata de menosprezar a qualidade do
ar e seus reflexos na saúde. Clama-se por racionalidade. Afinal, São Paulo e
uma cidade à beira-mar no Nordeste mostram cenários bem distintos de poluição.
A Controlar,
depois de muita insistência, abriu alguns de seus números e se esforçou para tentar
provar a importância de inspecionar automóveis de até três anos de uso. Em
2011, o índice de reprovação na primeira vistoria para carros fabricados em
2010 foi de ridículo 1%; em 2009, 2%; em 2008, 3%. Nesses percentuais se
incluem táxis e veículos de frota que, por rodarem bastante, ficam mais
sujeitos a desconformidades e devem ser inspecionados em intervalos menores.
Veículos com
motor a diesel, incluídos picapes e SUVs, tiveram índices elevados de
reprovação inicial: 15%, 16% e 14%, respectivamente. Motocicletas: 4%, 7% e 18%
para os mesmos anos de fabricação (2010, 2009 e 2008). As frotas problemáticas são essas e não os
carros com motores a gasolina, etanol ou flex com três anos de uso. Os movidos
a GNV foram os piores por falta de controle sobre a instalação de kits de
adaptação. A melhora do ar na cidade ocorre com ajuda da inspeção, mas fatores
atmosféricos aleatórios também influenciam.
A
concessionária insiste em inspecionar carros seminovos pelo equilíbrio
financeiro do seu negócio, pois a evasão é baixíssima. Se fossem dispensados, como
a regra nos demais países, a renovação de frota poderia se acelerar. Haveria estímulo
para troca de automóvel e se livrar, a cada ano, do maçante processo
burocrático (agendamento, boleto e inspeção).
Tarifa
cobrada pela Controlar baixou para R$ 44,36, mas deveria ser menor para automóveis
recentes. Estes dispõem de sistema de diagnose a bordo, mais confiável e que encurta
o tempo de inspeção.
RODA VIVA
AUMENTA a fila de marcas que querem instalar
fábricas no Brasil, mas pedem uma solução ao governo para o adicional de IPI
para quem hoje é apenas importador. A JAC jogou a toalha e está à espera, como
BMW, Land Rover, Habin Hafei e Changan, de uma abertura de “sobrevivência” com
cotas de importação até o início da produção.
GRUPO Caoa confirma o início da
montagem do SUV compacto Hyundai ix35, no final do ano, em suas instalações de Anápolis
(GO). Mas não marcou data para encerrar a produção do Tucson, que no exterior
foi substituído pelo ix35. Pelo jeito, a convivência de duas gerações de um
mesmo modelo é vírus disseminado no mercado brasileiro.
EQUILIBRAR bem esportividade e
acabamento de alto padrão é a fórmula que a Citroën achou no DS3. O compacto de
duas portas conta com motor turbo 1,6 l/165 cv, de estirpe BMW, e acerto de
suspensões bem firme para aproveitar ao máximo a emoção nas curvas. Opção única
de câmbio manual de seis marchas está adequada ao espírito do modelo, na faixa
dos R$ 80.000.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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