terça-feira, 11 de setembro de 2012

COMPARAÇÕES BIZARRAS


ALTA RODA, Fernando Calmon



Voltar a comentar sobre os preços dos carros no Brasil parece redundância, mas de tempos em tempos surgem comentários fora da realidade. Virou até manchete de jornal. Mais do que óbvio, o que se paga aqui é muito alto. O problema começa ao apontar os vilões por essa diferença, quando se comparam outros países. E aqui, convém ressaltar, a importância da relação cambial entre moedas, em geral, é pouco citada por “analistas”.

No País, o dólar já valeu até menos de um real. Mas, também, beirou os R$ 4,00. A maior cotação aconteceu em outubro de 2002 e os carros brasileiros ficaram entre os mais baratos do mundo. Um jornal citou o fato, em um canto de página. Obviamente, os mesmos modelos se alinharam entre os mais caros, mesmos reajustados abaixo da inflação, com o dólar perto de R$ 1,50, em abril de 2011.

Agora, a R$ 2,05, veículos lá fora encareceram 33%, em reais, e ninguém noticiou. Continuou grande a diferença, mas se o dólar subisse, por hipótese, para R$ 3,00 e se retirados todos os impostos, aqui e lá fora, para a comparação correta, nada se falaria. Ainda assim, desvalorização cambial é só consolo e não solução.

Há erros primários em algumas comparações de preços. No Brasil, o frete é único, embutido e extremamente elevado. Além disso, desconsideram os equipamentos, como no caso do Fit (Jazz na França). O equivalente ao vendido aqui custa perto de R$ 49.000. Retirados frete e diferença de impostos, os valores ficam quase iguais.

Ideais seriam preços divulgados sem impostos e acrescidos na hora da compra, a exemplo de outros países. Nos EUA, um veículo custa 100 e tem preço de 94, sem impostos. Carga fiscal: 100 dividido por 94, igual a 6,3%. Aqui, custa 100 e preço médio na fábrica, 67. Carga fiscal: 100 dividido por 67, igual a 49%. Automóvel produzido no Brasil sobe quase 50% da fábrica para a loja, fora o frete. Essa conta vale para tudo que se vende aqui, de roupa a alimentos.

Sobre os custos de produção nem adianta argumentar. Poucos levam em conta seu peso crucial na formação de preços. Se perguntar a uma pessoa comum quanto é o lucro da fábrica no valor de venda de um carro, muitos responderão 30%. Porém, a margem média mundial, hoje, está em 5%, deprimida pela crise econômica. Fabricantes como Toyota ou o Trio de Ferro alemão (Audi, BMW e Mercedes) ganham 12%, ou mais, em tempos normais. Rentabilidade sustentável sobre as vendas é de 8% e as fábricas generalistas convergirão para essa meta, como anunciou a Nissan.

Só a Fiat publica balanços de seus resultados aqui. O lucro sobre as vendas foi de 11%, em 2011. Muito ou pouco? Muito, se comparado à média (atual) no exterior. Ajudou o fato de o mercado ter dobrado de tamanho em seis anos, embora sujeito a graves depressões, como de 1998 a 2003. E dinheiro atrai dinheiro, ou seja, novos concorrentes. Os três maiores fabricantes dominam, de fato, cerca de 60% do mercado. Nos EUA, há poucos anos, a proporção era até superior. No Japão e outros países é comum os três principais terem mais de 50% do mercado.

Se o lucro, agora, fosse de 3%, ainda teríamos automóveis muito caros. Para acabar com comparações bizarras e uso de matemática frívola, custos e impostos têm que ser atacados – e resolvidos – de verdade.

RODA VIVA

NISSAN ainda não anunciou, mas também fabricará motores no complexo que constrói em Resende (RJ). A exemplo da Toyota, há necessidade de novos investimentos para atingir a proporção exigida, no novo regime automobilístico, entre peças importadas e compradas no mercado interno. Resta saber que motores serão produzidos para March e Versa.

COBALT agora exibe desempenho compatível ao oferecer motor de 1,8 l/108 cv. Potência específica é baixa, porém torque aumentou para 17,1 kgf·m (etanol) e consumo diminuiu, segundo o fabricante, que está fora do programa de etiquetagem Inmetro. Câmbio automático de seis marchas tem seleção manual no pomo da alavanca: prático, basta acostumar.

PARA quem aprecia desempenho, Audi A1 Sport, 185 cv, traz sensações poucas vezes vistas entre compactos premium. Partindo de salgados R$ 109.900, o motor tem respostas impressionantes, mesmo em baixas rotações: combina compressor e turbocompressor. Casa à perfeição com caixa automatizada de duas embreagens, sete marchas.

VOLKSWAGEN terá cinco produtos com pacote R Line, todos importados, conjunto de itens de esportividade de bom gosto e discrição. Depois do CC, agora é a vez do Touareg V-8/360 cv. Por R$ 26.300, inclui teto solar, indicador de ponto cego e controlador ativo de velocidade. Transmite sensação de solidez e é bom no asfalto (principalmente) e na terra.

EDITORA Alaúde lança o livro do inglês Michael Scarlett, sob título Porsche 911: O esportivo mais respeitado do mundo. Modelo completará 50 anos, em 2013. Com 160 páginas e muitas fotos, original é da inglesa Haynes Publishing. Tradução de Bob Sharp e Daniel Miranda. Preço de pré-venda: R$ 67,00 (informações, tinyurl.com/9sryuec).


Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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