ALTA RODA, Fernando Calmon
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comentar sobre os preços dos carros no Brasil parece redundância, mas de tempos
em tempos surgem comentários fora da realidade. Virou até manchete de jornal.
Mais do que óbvio, o que se paga aqui é muito alto. O problema começa ao
apontar os vilões por essa diferença, quando se comparam outros países. E aqui,
convém ressaltar, a importância da relação cambial entre moedas, em geral, é pouco
citada por “analistas”.
No País, o
dólar já valeu até menos de um real. Mas, também, beirou os R$ 4,00. A maior
cotação aconteceu em outubro de 2002 e os carros brasileiros ficaram entre os mais
baratos do mundo. Um jornal citou o fato, em um canto de página. Obviamente, os
mesmos modelos se alinharam entre os mais caros, mesmos reajustados abaixo da
inflação, com o dólar perto de R$ 1,50, em abril de 2011.
Agora, a R$
2,05, veículos lá fora encareceram 33%, em reais, e ninguém noticiou. Continuou
grande a diferença, mas se o dólar subisse, por hipótese, para R$ 3,00 e se
retirados todos os impostos, aqui e lá fora, para a comparação correta, nada se
falaria. Ainda assim, desvalorização cambial é só consolo e não solução.
Há erros
primários em algumas comparações de preços. No Brasil, o frete é único, embutido
e extremamente elevado. Além disso, desconsideram os equipamentos, como no caso
do Fit (Jazz na França). O equivalente ao vendido aqui custa perto de R$ 49.000.
Retirados frete e diferença de impostos, os valores ficam quase iguais.
Ideais seriam
preços divulgados sem impostos e acrescidos na hora da compra, a exemplo de outros
países. Nos EUA, um veículo custa 100 e tem preço de 94, sem impostos. Carga
fiscal: 100 dividido por 94, igual a 6,3%. Aqui, custa 100 e preço médio na
fábrica, 67. Carga fiscal: 100 dividido por 67, igual a 49%. Automóvel produzido
no Brasil sobe quase 50% da fábrica para a loja, fora o frete. Essa conta vale
para tudo que se vende aqui, de roupa a alimentos.
Sobre os
custos de produção nem adianta argumentar. Poucos levam em conta seu peso crucial
na formação de preços. Se perguntar a uma pessoa comum quanto é o lucro da
fábrica no valor de venda de um carro, muitos responderão 30%. Porém, a margem
média mundial, hoje, está em 5%, deprimida pela crise econômica. Fabricantes
como Toyota ou o Trio de Ferro alemão (Audi, BMW e Mercedes) ganham 12%, ou
mais, em tempos normais. Rentabilidade sustentável sobre as vendas é de 8% e as
fábricas generalistas convergirão para essa meta, como anunciou a Nissan.
Só a Fiat
publica balanços de seus resultados aqui. O lucro sobre as vendas foi de 11%,
em 2011. Muito ou pouco? Muito, se comparado à média (atual) no exterior.
Ajudou o fato de o mercado ter dobrado de tamanho em seis anos, embora sujeito a
graves depressões, como de 1998 a 2003. E dinheiro atrai dinheiro, ou seja,
novos concorrentes. Os três maiores fabricantes dominam, de fato, cerca de 60%
do mercado. Nos EUA, há poucos anos, a proporção era até superior. No Japão e
outros países é comum os três principais terem mais de 50% do mercado.
Se o lucro, agora,
fosse de 3%, ainda teríamos automóveis muito caros. Para acabar com comparações
bizarras e uso de matemática frívola, custos e impostos têm que ser atacados –
e resolvidos – de verdade.
RODA VIVA
NISSAN ainda não anunciou, mas também fabricará
motores no complexo que constrói em Resende (RJ). A exemplo da Toyota, há
necessidade de novos investimentos para atingir a proporção exigida, no novo
regime automobilístico, entre peças importadas e compradas no mercado interno.
Resta saber que motores serão produzidos para March e Versa.
COBALT agora exibe desempenho
compatível ao oferecer motor de 1,8 l/108 cv. Potência específica é baixa, porém
torque aumentou para 17,1 kgf·m (etanol) e consumo diminuiu, segundo o
fabricante, que está fora do programa de etiquetagem Inmetro. Câmbio automático
de seis marchas tem seleção manual no pomo da alavanca: prático, basta acostumar.
PARA quem aprecia desempenho, Audi A1
Sport, 185 cv, traz sensações poucas vezes vistas entre compactos premium. Partindo
de salgados R$ 109.900, o motor tem respostas impressionantes, mesmo em baixas
rotações: combina compressor e turbocompressor. Casa à perfeição com caixa automatizada
de duas embreagens, sete marchas.
VOLKSWAGEN terá cinco produtos com
pacote R Line, todos importados, conjunto de itens de esportividade de bom
gosto e discrição. Depois do CC, agora é a vez do Touareg V-8/360 cv. Por R$
26.300, inclui teto solar, indicador de ponto cego e controlador ativo de
velocidade. Transmite sensação de solidez e é bom no asfalto (principalmente) e
na terra.
EDITORA Alaúde lança o livro do inglês
Michael Scarlett, sob título Porsche 911:
O esportivo mais respeitado do mundo. Modelo completará 50 anos, em 2013. Com
160 páginas e muitas fotos, original é da inglesa Haynes Publishing. Tradução
de Bob Sharp e Daniel Miranda. Preço de pré-venda: R$ 67,00 (informações, tinyurl.com/9sryuec).
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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