ALTA RODA, Fernando Calmon
Primeiro
compacto produzido pela Toyota no Brasil aguça as análises. Afinal, o Etios é produto
do atual maior fabricante de veículos do mundo, mas parece que faltou alguma
coisa. O carro foi lançado em dezembro de 2010 na Índia. Claro que a marca
japonesa fez modificações como melhor isolamento acústico, índice de rigidez da
carroceria 15% superior, alguns materiais de acabamento diferenciados, porém o
carro essencialmente é o mesmo.
Como não é oferecido
com motor de 1 litro
no exterior, já aparece em desvantagem de preço. Parte de R$ 30.000, no entanto
com menos equipamentos que os rivais, pois o IPI onera em 4% seu custo. Em
torno de 45% dos carros vendidos hoje têm motores de 1 litro , mas entre os
compactos a proporção está próxima de 60%. Desconsiderar esse cenário talvez
funcione para a versão sedã do Etios e nada no hatch.
Estilo não se
destaca: faróis, laterais, além do perfil do sedã, estão longe de agradar. Em
relação à sobriedade do Gol, a atualização do Palio ou o arrojo do HB, destoa
bastante. Problema maior está no interior: má visibilidade do quadro de
instrumentos central, saídas de ar assimétricas, macaco sob o banco do
motorista (mesmo no sedã, com seu enorme porta-malas de 562 litros ). Há
regulagem da altura do volante, mas não do banco e nem de ancoragem do cinto.
Espaço
interno, especialmente para cabeça e pernas no banco traseiro, além do assoalho
quase plano, o redimem em parte. Vidros das amplas portas traseiras do sedã abrem
só até a metade, embora espaço atrás rivalize com Logan, Cobalt e Grand Siena. Porta-malas
do hatch (270 litros )
está na média do segmento. O tanque de 45 litros limita a
autonomia. A Toyota colocou aviso, sem sentido, na portinhola do tanque, para
abastecer com gasolina a cada 10.000
km . Afinal, é flex ou não? O que acontecerá se rodar
apenas com etanol?
Rodar com o
Etios ameniza suas fraquezas. Motor moderno, em alumínio (multiválvulas e duplo
comando), de 1,3 l/90 cv é vivo, silencioso e forma um conjunto particularmente
agradável com o câmbio. A 120
km/h o motor está a confortáveis 3.500 rpm. Versão XLS
do hatch oferece o de 1,5 l/96,5 cv por R$ 42.800 e até sobra, considerando seu
peso abaixo de 1.000 kg .
No sedã, este é o único motor disponível, e ainda mais agradável em estradas. Seus
preços vão de R$ 38.900 a
R$ 44.700 e, novamente, não se enquadra na melhor relação preço-benefício.
A fábrica
espera enquadrar ambos em nível A, no programa de etiquetagem de consumo do
Inmetro. Característica diferente é que, no caso do motor de 1,3 l , a diferença é muito
pequena entre cidade e estrada: 8,5 km/l e 9 km/l, etanol; 12,5 km/l e 13 km/l,
gasolina.
Suspensões
mostram a tradicional eficiência da marca quanto ao equilíbrio entre firmeza e
conforto, além de absorver com eficiência as piores condições de piso. Passa
sensação de solidez construtiva e sem ruídos. É ponto alto do carro. Direção eletroassistida,
também precisa e macia, tem volante de boa pega, mas ligeiramente enviesado.
O que deixa
sensação de pouco foco nas diferenças entre os mercados indiano e brasileiro
aparece em economias explícitas. Tampa traseira do hatch possui apenas uma mola
a gás e uma cordinha de sustentação do tampão do porta-malas. Compartimento do
motor e parte interna do capô sem pintura igual à da carroceria. Não há
para-brisa degradê e nem opção de câmbio automático ou automatizado.
O Etios pode
vender as 70.000 unidades/ano esperadas, apenas pela força da marca. Ambição
modesta, como o carro.
RODA VIVA
NOVO compacto da Chevrolet, Onix estará
à venda no final de outubro. Pensava-se, inicialmente, que utilizaria a
arquitetura mais nova GSV (em português, veículo pequeno global), presente nos
Sonic, Cobalt e Spin. Parece, no entanto, mais uma derivação do Corsa de
primeira geração, que já gerou o hatch argentino Agile. GM não confirma e nem
desmente.
VOLKSWAGEN anunciou que airbags
dianteiros e freios ABS passam a vir de série no Fox, com motor de 1,6 l , ao preço de R$ 1.000.
Portanto, está aí a referência mais direta sobre quanto os modelos na faixa acima
de R$ 35.000 podem encarecer até 2014, quando a obrigatoriedade surgir. Com
motor de 1 litro
(IPI menor) adicional deve ser um pouco menos.
PALESTRA de Marcos Borges, do Inmetro, em
seminário da Ford sobre eficiência energética, em São Paulo, confirmou que
emissões de CO2 terão metas de redução oficiais. O instituto prepara
um guia para o consumidor, a ser lançado no próximo Salão do Automóvel, em
outubro, no Anhembi. O fabricante detalhou o downsizing do motor EcoBoost (2 l/240 cv) do novo Fusion.
LACRADAS as portas do Museu do
Automóvel, em Brasília, depois do Ministério dos Transportes ter requisitado o
imóvel, de sua propriedade, para uso menos nobre. Para a capital federal não ficar
sem memória histórica sobre a máquina que mudou o mundo, era necessária mais
sensibilidade pelo menos por parte da administração distrital da cidade.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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