Fernando Calmon
Entre as
visões sobre o futuro do automóvel nas cidades aparece uma dúvida. Os carros
continuarão a ser comprados (à vista ou financiados) como hoje ou a
comercialização vai evoluir para a utilização partilhada em que o interessado
pagaria exclusivamente pelo uso? Tudo indica que as duas opções coexistirão,
mas a tendência é o avanço na direção dessa espécie de aluguel por horas ou
mesmo por alguns dias.
Independentemente
de uma concessionária vir a se tornar também uma locadora e vice-versa,
dependendo da legislação específica de cada país, há experiências em curso. Compartilhar
carros por curto prazo não é, de fato, uma novidade. Várias empresas especializadas
em locação na América do Norte, Europa e até no Brasil já oferecerem esse
serviço. Alguns fabricantes de veículos, porém, decidiram aprofundar esse
negócio a fim de avaliar o real interesse de compradores em abrir mão da
propriedade física em troca do simples uso em momentos convenientes.
Tudo começou
em outubro de 2008 com a criação do projeto car2go, em Ulm, Alemanha. A
iniciativa da Mercedes-Benz envolve o microcarro de dois lugares smart, sempre escrito
em letras minúsculas, como o nome do projeto. A alternativa, no caso, foi que
os automóveis não ficassem obrigatoriamente em postos fixos. Podem ser reservados,
apanhados e devolvidos também em locais públicos, dentro de uma área
previamente conhecida. Por isso, iniciou naquela cidade de 120.000 habitantes,
a 100 km de Stuttgart, onde se poderia avaliar o funcionamento da operação com
200 unidades.
No momento
está em 17 cidades da Europa, EUA e Canadá, a frota é pouco superior a 5.000
unidades e passou a incluir versões elétricas do smart. Recentemente, recebeu o
reforço de uma plataforma de mobilidade, por meio da rede de telefonia celular,
batizada de moovel (também em minúsculas).
O moovel é
um aplicativo capaz não apenas de localizar e reservar os microcarros de aluguel
de curto prazo. Também oferece um modo de avaliar as alternativas de transporte
público com horários disponíveis, tempo de deslocamento e tarifas. O serviço
inclui a possibilidade de chamar um táxi e até de pagar antecipadamente o
serviço de ônibus, trem, bonde ou metrô. Existe a facilidade adicional de interagir
às redes de programas de caronas, onde elas existirem. A flexibilidade, assim,
é ampla, mas se aplica, por enquanto, às cidades de Stuttgart e Berlin.
A car2go
parece uma operação consolidada e tem uma base internacional de mais de 200.000
clientes porque o sistema permite alta rotatividade da frota relativamente
pequena. Não quer dizer que deu certo em todos os lugares: foi suspenso em
Lyon, França.
BMW e
Volkswagen também iniciaram experiências semelhantes. Já Renault e Peugeot-Citroën
introduziram seus carros elétricos, por meio de uso compartilhado, em esquema
parecido.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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