ALTA RODA, Fernando Calmon
Exportação
parece um tema sem grande importância para quem compra um automóvel produzido
no Brasil. No entanto, esse é um motivo de preocupação. Afinal, o que dá grau
de competitividade à indústria automobilística de um país é o seu nível de
produção. O País é o quarto maior mercado do mundo e apenas o sétimo maior
produtor, justamente por ter perdido sua capacidade de exportar.
Impacto
positivo das exportações significa aumento de escala de produção. Isso, frequentemente,
viabiliza tecnologias sensíveis a volume, em especial as maravilhas da eletrônica
de bordo para segurança e conforto, além de melhorias de qualidade. No novo
regime automobilístico Inovar-Auto estão contemplados investimentos fortes em
pesquisa e inovação, mas não há objetivos claros para o mercado externo. Luiz
Moan Yabiku Jr., novo presidente da Anfavea, coloca como bandeira de sua gestão
a recuperação das exportações até 2017.
Ter produto
com bom preço no exterior passa, obviamente, pela cotação do real. Tanto que em
2005, com câmbio favorável, quase 900.000 unidades (montadas e desmontadas),
35% da produção anual, deixaram os portos. No ano passado, apenas 470.000
unidades saíram do país, 14% do produzido. A meta para daqui a cinco anos é exportar
1 milhão de veículos (20% da produção). Seria um incomum cenário de equilíbrio:
5 milhões de unidades em vendas internas, 5 milhões produzidas, 1 milhão de
veículos exportados e o mesmo tanto de importados.
No ano
passado o Brasil importou 795.000 veículos, 70% mais do que exportou. Uma saída
indica a desvalorização cambial – boa para exportar e segurar importações –,
porém só colocaria a sujeira do custo Brasil para baixo do tapete. Um real
fraco, por sua vez, aumenta os custos de certos componentes sofisticados, que
continuarão a vir do exterior e aplicados em produtos nacionais.
Há várias
sugestões de estímulos às vendas externas: simplificação do processo aduaneiro,
mudanças na legislação burocrática e retirada de encargos fiscais indiretos ou
invisíveis, na longa cadeia produtiva, estimados em quase 9%. Nenhum país se dá
ao luxo de exportar impostos, típico cacoete brasileiro.
Alguns dos
problemas históricos se concentram nos portos e o governo enfrenta resistências
para vencer o arcaísmo. Só agora alguns deles passam a funcionar 24 horas por
dia, fundamental para escoar volumes. Faltam, até, pátios para estocagem de
veículos. Faz pouco tempo a guerra fiscal entre os portos estaduais, com desconto
de alíquotas do ICMS, levava automóveis vindos do exterior a reconquistar boa
parte da competitividade perdida com o imposto de importação. Em outros termos,
desestímulo a quem produz internamente.
RODA VIVA
PARA fábrica de Betim (MG), Fiat também
reserva novidades, que a coluna antecipa. Cronograma refere-se ao início de
vendas. Começo de 2014: novo Fiorino (cara de novo Uno); um ano depois, início
de 2015, novo Doblò (projeto 263); segundo trimestre de 2015, o aguardado
subcompacto (projeto 344) sucessor do Mille. Strada cabine dupla de três portas,
fácil de produzir, ainda sem confirmação.
ALÉM da GM, que já decidiu entrar no
mercado de subcompactos (provável inspiração no sucessor do Opel Adam), Renault
também vai mergulhar nos modelos pequenos de uso urbano preferencial. Projeto
para o Brasil será específico, sem aproveitar quase nada do Twingo francês. Assim
o VW Up!, talvez ainda no final do ano, terá muita concorrência à frente.
LEVANTAMENTO da Anfavea indica: 62
marcas de veículos leves e pesados – total de 1.744 modelos e versões – estão
em lojas hoje. Compara-se apenas à China, estima a coluna. Ou seja, opções de
sobra, concorrência acirrada.
ESCALADA dos juros básicos (Selic) não
deve ser repassada para taxas do crédito ao consumidor. Estas dependem bem mais
da inadimplência (que resiste a cair) e da disputa entre bancos e financeiras.
NOVO Maserati Quattroporte, por R$
950.000, ficou maior (5,26 m de comprimento) e ao mesmo tempo apertado em nicho
minúsculo do mercado. Impressiona pelos materiais internos de acabamento, em especial
na parte inferior do painel, além de itens de conforto. Motor V-8, biturbo
novo, de 3,8 L/530 cv/66,3 kgf∙m, apesar de 1.900 kg do carro, confere 0 a 100
km/h em apenas 4,7 s.
IMPORTAÇÕES recuaram 25% no primeiro
quadrimestre de 2013 frente a 2012, segundo Abeiva, associação de empresas sem
produção nacional. Por enquanto, a entidade não revisou suas previsões. Há
sinais contraditórios, como a recuperação em abril de suas marcas, atribuída ao
sistema de cotas do México que afetou, no mês passado, veículos importados por
associados da Anfavea.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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