sexta-feira, 5 de julho de 2013

REVOLUÇÃO ENERGÉTICA


ALTA RODA, Fernando Calmon


Quem ainda não ouviu falar de gás de xisto, mais ou cedo ou mais tarde vai ouvir. Trata-se de extrair do subsolo gás natural impregnado em rochas ou areias betuminosas por meio de nova técnica conhecida como fratura hidráulica. Aplicado em grande escala nos EUA, significou um corte de mais de 70% no preço daquele combustível. Pode-se obter petróleo dessa forma também, porém a custo maior.

Ainda se discutem todos os riscos ambientais já que exige quantidade enorme de água. Por outro lado, gás é combustível fóssil e, portanto, colabora para o aquecimento do planeta. Formar uma rede de seu abastecimento para veículos exige grandes investimentos. Entretanto, gás muito barato pode impactar o preço do petróleo. Alguns falam até em revolução energética, talvez um exagero, mas existe potencial de tirar competitividade da exploração de petróleo mais caro, em águas marítimas muito profundas, como o nosso Pré-sal.

Essa novidade igualmente traz incertezas à política brasileira de combustíveis líquidos. Depois de congelar o preço da gasolina para combater a inflação, o governo viu o consumo e importações subirem muito pela falta de capacidade nas refinarias. Ao mesmo tempo, inviabilizou o etanol. Em 2009, a soma de consumo de etanol hidratado (para motores flex) e anidro (adicionado à gasolina) superou o de gasolina. Como a frota aumentou e houve migração para gasolina por seu preço convidativo, o biocombustível recuou de mais de 50% para 30% de participação.

Mais complicado: as duas novas refinarias, em construção pela Petrobrás (Rio de Janeiro e Pernambuco), foram planejadas com foco no diesel. Então, ou se importa mais gasolina ou se estimula a produção de etanol. Durante a recente conferência internacional Ethanol Summit 2013, organizada a cada dois anos pela Única (entidade do setor sucroenergético de São Paulo), não se constatou grande entusiasmo para investir em novas usinas. Isso apesar de a Anfavea ter anunciado, no último dia 28, que se atingiu a produção de 20 milhões de veículos com motores flex.

Falta, de fato, definir a matriz energética de combustíveis do País. O atual governo já deu sinais de pouca importância ao etanol. Agora, como precisa dele, acena com afagos, sem a firmeza necessária para que de 2013 a 2020 a produção desejada suba de 26 bilhões para 73 bilhões de litros/ano, metade do que produzirá os EUA.

Um ponto que mereceu bastante atenção na conferência foi o etanol de segunda geração (2G). Ao aproveitar palha e bagaço da cana, a produtividade subirá até 50%, numa primeira etapa, a preço competitivo. Primeira unidade industrial será inaugurada em 2014, em Alagoas, pela GranBio. Paralelamente, se desenvolveu a chamada cana-energia, com o dobro da quantidade de fibra (celulose) e metade da sacarose (açúcar). Pode ser plantada em solos degradados, exige menos água e insumos, além do potencial de colheita três vezes maior na mesma área.

Não se trata, aqui, de qualquer revolução energética, mas de uma enorme evolução de processos e tecnologias que se estudam há mais de uma década. Do ponto de vista ambiental, o etanol 2G é superior, porém antes de tudo precisa ser levado a sério de verdade, sem políticas de oportunismo.

RODA VIVA

MUDANÇA de patamar na cotação menor do real frente a outras moedas começa a enfraquecer comparações de preços com o exterior. Se a referência, então, for automóveis europeus, poderá causas surpresas. Boa parte dos carros fabricados aqui já apresenta preços iguais ou menores do que os vendidos na Europa, igualados os equipamentos e, claro, os impostos.

IMPASSE com argentinos deixou, até o final do ano, comércio livre com Brasil. Dessa vez o País decidiu endurecer o jogo. Situação sempre contrariou regras do Mercosul. Para complicar, aumento de inflação (e salários) no país vizinho puxou os custos por lá. Prevê-se para o final deste ano nova Política Automotiva Comum que possa conduzir à abertura total das fronteiras.

FOX BLUEMOTION traz novas referências em termos relação consumo-desempenho para um motor de 1 litro de cilindrada. É o primeiro três-cilindros ciclo Otto fabricado no Brasil. Versão flex do motor mais moderno da VW (EA211) tem a maior potência com etanol (82 cv) do mercado, claramente sentida ao guiar o carro. Com gasolina são 75 cv, aqui e na Alemanha.

REDUÇÃO do consumo energético de 17%, nessa versão do Fox, visa o programa Inovar-Auto. Em trecho urbano de Campinas (SP), esse colunista alcançou 18,9 km/l (gasolina), sem ar-condicionado e pouco trânsito. Suspensões, câmbio e aerodinâmica seguem o pacote Bluemotion (R$ 745,00), sem prejuízo do prazer de dirigir. Mesmo motor estreará no VW up! em 2014.


MITSUBISHI descartou, no momento, fabricação do compacto Mirage em Catalão (GO). Investimento de US$ 550 milhões do Grupo Souza Ramos, no período 2010-15, incluiu as duas picapes L200 Triton (cabine simples e dupla) e os SUV Dakar e ASX. Sedã Lancer chega no próximo ano. No total, 330.000 veículos em 16 anos.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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