ALTA RODA, Fernando Calmon
Quem ainda
não ouviu falar de gás de xisto, mais ou cedo ou mais tarde vai ouvir. Trata-se
de extrair do subsolo gás natural impregnado em rochas ou areias betuminosas
por meio de nova técnica conhecida como fratura hidráulica. Aplicado em grande
escala nos EUA, significou um corte de mais de 70% no preço daquele
combustível. Pode-se obter petróleo dessa forma também, porém a custo maior.
Ainda se
discutem todos os riscos ambientais já que exige quantidade enorme de água. Por
outro lado, gás é combustível fóssil e, portanto, colabora para o aquecimento
do planeta. Formar uma rede de seu abastecimento para veículos exige grandes
investimentos. Entretanto, gás muito barato pode impactar o preço do petróleo.
Alguns falam até em revolução energética, talvez um exagero, mas existe
potencial de tirar competitividade da exploração de petróleo mais caro, em
águas marítimas muito profundas, como o nosso Pré-sal.
Essa
novidade igualmente traz incertezas à política brasileira de combustíveis
líquidos. Depois de congelar o preço da gasolina para combater a inflação, o
governo viu o consumo e importações subirem muito pela falta de capacidade nas
refinarias. Ao mesmo tempo, inviabilizou o etanol. Em 2009, a soma de consumo
de etanol hidratado (para motores flex) e anidro (adicionado à gasolina) superou
o de gasolina. Como a frota aumentou e houve migração para gasolina por seu
preço convidativo, o biocombustível recuou de mais de 50% para 30% de
participação.
Mais
complicado: as duas novas refinarias, em construção pela Petrobrás (Rio de
Janeiro e Pernambuco), foram planejadas com foco no diesel. Então, ou se
importa mais gasolina ou se estimula a produção de etanol. Durante a recente conferência
internacional Ethanol Summit 2013, organizada a cada dois anos pela Única
(entidade do setor sucroenergético de São Paulo), não se constatou grande
entusiasmo para investir em novas usinas. Isso apesar de a Anfavea ter
anunciado, no último dia 28, que se atingiu a produção de 20 milhões de
veículos com motores flex.
Falta, de
fato, definir a matriz energética de combustíveis do País. O atual governo já
deu sinais de pouca importância ao etanol. Agora, como precisa dele, acena com
afagos, sem a firmeza necessária para que de 2013 a 2020 a produção desejada suba
de 26 bilhões para 73 bilhões de litros/ano, metade do que produzirá os EUA.
Um ponto que
mereceu bastante atenção na conferência foi o etanol de segunda geração (2G).
Ao aproveitar palha e bagaço da cana, a produtividade subirá até 50%, numa
primeira etapa, a preço competitivo. Primeira unidade industrial será
inaugurada em 2014, em Alagoas, pela GranBio. Paralelamente, se desenvolveu a chamada
cana-energia, com o dobro da quantidade de fibra (celulose) e metade da
sacarose (açúcar). Pode ser plantada em solos degradados, exige menos água e
insumos, além do potencial de colheita três vezes maior na mesma área.
Não se trata,
aqui, de qualquer revolução energética, mas de uma enorme evolução de processos
e tecnologias que se estudam há mais de uma década. Do ponto de vista
ambiental, o etanol 2G é superior, porém antes de tudo precisa ser levado a
sério de verdade, sem políticas de oportunismo.
RODA VIVA
MUDANÇA de patamar na cotação menor do
real frente a outras moedas começa a enfraquecer comparações de preços com o
exterior. Se a referência, então, for automóveis europeus, poderá causas
surpresas. Boa parte dos carros fabricados aqui já apresenta preços iguais ou
menores do que os vendidos na Europa, igualados os equipamentos e, claro, os
impostos.
IMPASSE com argentinos deixou, até o
final do ano, comércio livre com Brasil. Dessa vez o País decidiu endurecer o
jogo. Situação sempre contrariou regras do Mercosul. Para complicar, aumento de
inflação (e salários) no país vizinho puxou os custos por lá. Prevê-se para o
final deste ano nova Política Automotiva Comum que possa conduzir à abertura
total das fronteiras.
FOX BLUEMOTION traz novas referências em termos relação
consumo-desempenho para um motor de 1 litro de cilindrada. É o primeiro
três-cilindros ciclo Otto fabricado no Brasil. Versão flex do motor mais moderno
da VW (EA211) tem a maior potência com etanol (82 cv) do mercado, claramente
sentida ao guiar o carro. Com gasolina são 75 cv, aqui e na Alemanha.
REDUÇÃO do consumo energético de 17%,
nessa versão do Fox, visa o programa Inovar-Auto. Em trecho urbano de Campinas
(SP), esse colunista alcançou 18,9 km/l (gasolina), sem ar-condicionado e pouco
trânsito. Suspensões, câmbio e aerodinâmica seguem o pacote Bluemotion (R$
745,00), sem prejuízo do prazer de dirigir. Mesmo motor estreará no VW up! em
2014.
MITSUBISHI descartou, no momento, fabricação
do compacto Mirage em Catalão (GO). Investimento de US$ 550 milhões do Grupo
Souza Ramos, no período 2010-15, incluiu as duas picapes L200 Triton (cabine
simples e dupla) e os SUV Dakar e ASX. Sedã Lancer chega no próximo ano. No
total, 330.000 veículos em 16 anos.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário