ALTA RODA, Fernando Calmon
Renault estuda nacionalização do Captur em 2016 para lançá-lo como nova geração do Duster |
Embora a
atividade de lobby não seja regulamentada no Brasil, nada impede empresas se
juntarem e, legitimamente e às claras, trabalhar por suas propostas. Exemplo
recente é a campanha Aprove Diesel, em vínculo muito próximo à SAE Brasil, organização
de engenheiros da mobilidade. A entidade congênere, AEA, manteve-se neutra
nesse assunto.
De fato, o
Brasil é o único país em que uso do diesel em veículos leves não está
autorizado por razões, no passado, de origem econômica. Aprove Diesel quer
mudar essa situação e apresenta argumentos técnicos e ambientais no mínimo discutíveis.
Primeiro ao afirmar que motores diesel modernos são muito superiores em termos
de consumo de combustível. Este cenário já virou e os números apresentados
estão distorcidos. Os de ciclo Otto (gasolina, etanol e flex) tiveram um salto
tecnológico e continuarão a evoluir rapidamente.
Ao se
comparar motores europeus modernos, de mesma potência, a diferença de consumo
em relação à gasolina caiu de 25% para 12%. Há projeções para menos de 10%.
Como um motor a diesel custa até 50% mais, em breve estará inviabilizado na
Europa para automóveis menores e baratos. Combustíveis europeus são muitos
caros e isso ajudou na quilometragem mínima anual para amortizar a diferença de
custo do veículo (quanto maior e menos accessível, melhor).
Quem
acompanha lançamentos constata que novas gerações de motores são quase todas a
gasolina, mais baratos de produzir. Fabricantes europeus despejaram muito dinheiro
para “limpar” a sujeira do diesel com ajuda de muletas técnicas e, claro,
querem convencer o resto de mundo a entrar nessa aventura.
No Japão e
China, diesel é liberado para automóveis, mas sua participação, meramente
simbólica. Na vizinha Argentina, menos de 3%. Nos EUA, só motores a gasolina
estão no programa oficial de metas de redução de consumo, o que não deixa de
ser uma “discriminação”, segundo o lobby de marcas europeias. Diesel é
insubstituível em caminhões, razoável para utilitários e SUVs pesados, mas do
petróleo vem também gasolina adequada aos veículos leves.
Onde entra o
Brasil nessa história? O vilão ambiental do momento é o gás carbônico (CO2)
e a única forma de combatê-lo é diminuir o consumo de combustíveis fósseis.
Pessoal do Aprove Diesel esqueceu-se de dizer que as emissões desse gás poderão
aumentar aqui e não diminuir. Etanol de cana-de-açúcar é praticamente neutro em
CO2, no ciclo de produção/consumo. Então, automóveis que usam gasolina,
com 25% de etanol, quase se equivalem aos a diesel em termos de CO2.
E se utilizarem apenas etanol nem dá para comparar, mesmo com nosso atual
atraso tecnológico.
Empresas que
mostram posição antiCO2 na Europa, aqui mudam o discurso. Para dourar
a pílula, acenam com a possibilidade de o País produzir biodiesel e diesel de
cana. Essas alternativas, porém, são inviáveis economicamente, se sabe não é de
hoje. Mesmo o etanol mal consegue competir com a gasolina subsidiada.
Exageros nos
argumentos sempre são abomináveis. Há pouco tempo os engajados diziam que o
Brasil estava em desacordo com a Declaração Universal de Direitos Humanos, da
ONU, ao proibir o acesso dos cidadãos aos avanços do motor diesel. Pode?
RODA
VIVA
EMBORA a Renault ainda esconda, há
planos ambiciosos para o SUV compacto Captur além da importação, no início de
2014. Derivado da arquitetura do atual Clio francês, a empresa estuda
nacionalizar o modelo, com simplificações, e lançá-lo aqui como a próxima
geração do Duster, em 2016. Afinal, a competição será cada vez maior nesse
segmento.
ALINHADA ao cenário menos otimista para
o mercado de veículos este ano, Abeiva (de importadores sem fábricas no País)
rebaixou as previsões de vendas. Antes, projetava 120.000 unidades entre seus mais
de 30 associados. Agora, com resultados até agosto computados, imagina algo em
torno de 117.000 unidades, em 2013, independentemente da variação cambial.
CAIU o queixo da bancada do diesel, na Europa, após resultado obtido por um
Focus com motor de 1 litro EcoBoost a gasolina. O carro completou uma viagem em
estrada abertas, na Escandinávia, de pouco mais de 1.600 km, com um tanque de
55 litros. Obteve assim, 30,3 km/l, a uma velocidade média de 66,6 km/h,
compatível com o tráfego normal.
BUSCA de menor peso nos veículos e economizar
combustível chegou também aos vidros. Recurso é comum no automobilismo, pelo uso
de acrílico, para ganhar em desempenho. Saint-Gobain Sekurit anuncia o primeiro
para-brisa com vidro de menor espessura, mais leve e mesma resistência. Novo
produto se enquadra no programa de eficiência energética Inovar-Auto.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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