ALTA RODA, Fernando Calmon
Até o momento o grande foco dos programas de avaliação de segurança de carros novos tem sido a proteção aos ocupantes dos bancos dianteiros. Motorista e passageiro estão realmente mais expostos em acidentes, além de a frequência de passageiros no banco de trás ser bem menor. Em uso urbano, por exemplo, a média é de apenas 1,5 ocupantes por carro, ou menos. Em estradas, mal alcança duas pessoas por veículo na maioria dos países, salvo em viagens e feriados.
Nos testes de colisão em laboratórios, há dois dummies (bonecos com sensores) que simulam crianças, de oito meses e três anos de idade, no banco de trás. A avaliação, basicamente, é dos sistemas de retenção dos bancos infantis e robustez de fixação. Em breve, o Euro NCAP (programa europeu de avaliação) adotará dummies que utilizam assentos de elevação para crianças até 7,5 anos de idade e também bonecos que reproduzem adultos.
Segundo a TRW, fabricante de cintos e airbags, “a segurança de passageiros no banco traseiro não pode ser considerada menos importante do que a dos ocupantes dos bancos dianteiros. Testes de impactos frontal, lateral e traseiro, nos próximos anos, exigirão soluções inovadoras”.
Uma delas é o airbag de interação lateral, colocado entre os dois passageiros do banco traseiro. Tem a função de proteção adicional em acidentes em que outro veículo colide transversalmente ou há um choque lateral contra poste e outros obstáculos. Mesmo protegidos por cintos de segurança e bolsas de ar laterais e de cortina, a dinâmica do acidente frequentemente leva a um choque de cabeças dos ocupantes. Lesões mortais podem ocorrer.
Colisões laterais são bem perigosas e respondem por um terço das mortes em estradas. O grau de intrusão de outro veículo e o espaço restrito para superfícies absorvedoras de energia (em acidentes frontais e traseiros existem grandes massas deformáveis) limitam a ação protetora dos dispositivos existentes. Por isso, a empresa desenvolve duas novas tecnologias.
Uma solução é o airbag externo lateral capaz de reduzir a invasão do habitáculo e a onda de choque transmitida aos ocupantes. Critérios biomecânicos de danos no tórax, abdômen e pélvis dos dummies mostraram bons resultados quando comparados a acidentes na vida real.
Outro dispositivo avançado, o airbag lateral interno de grandes dimensões, trabalha em conjunto com bancos dianteiros capazes de se deslocar para o centro do carro, em movimento rotacional, 50 ms (milissegundos) antes do impacto. Isso permite criar espaço adicional para a superbolsa inflar. Cintos de segurança de dois estágios são utilizados para o pré-choque e o choque real. A bolsa, então, é disparada 15 ms antes da colisão de tal forma a estar completamente expandida e na posição correta, quando o obstáculo começa a invadir a cabine. Análises dos dummies comprovam diminuição de danos corporais.
Ambos os dispositivos trabalham associados aos sistemas de bordo pré-impacto, que utilizam câmeras e radares. Detectam colisões laterais iminentes e identificam características como tempo até o choque, velocidade de impacto, além de dimensões, trajetória e posição do objeto que atingirá o veículo. Permitem estratégias de ativação, no momento certo.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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