Certas experiências, além de seu real valor, são tão imprevisíveis que acabam ganhando um gosto especial. São daquelas que trazem de volta a energia perdida num dia cheio ou que ocupam um espaço tão único na memória que a limpam imediatamente de qualquer lembrança ruim.
Era o primeiro dia reservado à imprensa no Salão do Automóvel e a Chevrolet, durante sua coletiva, resolveu presentear 2 jornalistas. O sorteio correu de forma simples: bastou que procurássemos, embaixo de nossos assentos, um dos 2 vouchers disponíveis - e este que vos escreve teve a sorte de encontrar um. O prêmio? Uma viagem de helicóptero no dia 29 até o Campo de Provas da GM em Indaiatuba, interior de SP, e algumas voltas na famosa pista circular que simula uma reta infinita, com seus 4,3 km de extensão, 1,4 km de diâmetro e inclinação que chega a 56º.
Conhecer o Campo de Provas da Cruz Alta por si já é excelente, considerando todas as restrições de acesso. Mas havia mais: o carro, ou melhor, supercarro escolhido para o circuito era nada menos que o Chevrolet Corvette Stingray em sua nova geração. Embaixo do capô um motor V8 com 6,2 litros de deslocamento, produzindo 460 cv e capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,8 segundos. E o piloto... Bem, o que dizer de Emerson Fittipaldi, bicampeão de Fórmula 1 em 1972 e 1974, campeão de Fórmula Indy em 1989 e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis?
Dormi mal, ansioso, e acordei atarantado. Perderia todas as coletivas do período da tarde. Whatever! Press kits e fotos poderiam ficar para depois. Esforcei-me para manter o foco no período da manhã, aproveitando para ensaiar mentalmente algumas perguntas. O que um cara que tem tanto a aprender poderia perguntar a um mestre em tão curto período de tempo? Bobagem; não seria necessário.
Surpreende a simplicidade e cordialidade de Emerson Fittipaldi. Conversa sempre tranquila, em tom baixo, fazendo questão de deixar quem estiver ao redor à vontade, e histórias para ele corriqueiras mas que, para mim, soavam como aventuras incríveis. No lounge dedicado ao Corvette no stand da GM, uma pequena entrevista e logo saímos em direção ao Campo de Marte, onde embarcamos num vôo tranquilo - o meu primeiro num helicóptero - até Indaiatuba. "Voar de helicóptero é realmente muito bom, né? Muito conveniente, uma beleza" - disse Fittipaldi, mais uma vez com a boa intenção de nos deixar à vontade.
Meia hora de vôo e já avistamos o campo de provas, bem como um pontinho vermelho que nele reluzia à nossa espera. O helicóptero pousou bem ao lado do Corvette, cena de novela. Em meio à agitação de cinegrafistas, equipe técnica e apoio, Emerson nos explicou que a inclinação da pista circular da GM permitia que qualquer carro andasse a 160 km/h sem as mãos no volante, mas a velocidade a que chegaríamos o obrigaria a "segurar o carro" bem mais. Afinal, qualquer 1.0 com 80 cv chega aos 160 por hora hoje em dia; desperdiçar 380 cv pra quê?
O escapamento quádruplo rugiu metálico, quente, visceral como um grande felino marcando seu território, no momento da partida. Veio o primeiro frio na barriga, contido pela gentileza em deixar Selma Morais, a outra jornalista contemplada (e que não veio conosco por ar) embarcar primeiro. Devagar a princípio mas logo afundando o pé, Emerson lançou o Corvette adiante como num grid de largada, escapes pipocando a cada troca de marcha. Os mais de 4 km de extensão do círculo foram percorridos em instantes e o Vette voou baixo em nossa frente, seguindo adiante para mais uma volta - que mesmo tão rápida parecia não ter fim; eu queria o meu lugar. O sorriso de Selma ao sair do carro, minutos depois, junto com o anúncio da marca atingida - 282 km/h - denunciaram o que me aguardava.
Demorei para me ajeitar. Meu sedentarismo certamente me torna bem diferente dos pilotos fisicamente bem preparados que superesportivos estão acostumados a receber. Mas, enfim acomodado, Emerson dispara: "Está ansioso?" Não, eu não estava. É interessante como a velocidade sozinha pode causar tensão, mas a confiança no piloto faz adrenalina e endorfina trabalharem completamente coesas. A mesma largada lançada, o corpo gordo espremido para trás e a paisagem passando cada vez mais rápido, virando um borrão. É notório o downforce agindo sobre o Corvette, ao mesmo tempo em que pequenas irregularidades na pista, que certamente não seriam sentidas num carro comum, ficam tão evidentes naquela velocidade.
Mesmo assim o carro surpreende pela suavidade, atípica para um superesportivo. Nada de solavancos, pescoço travado ou punho fechado na alça que aqui chamamos costumeiramente de PQP. Chegar aos 160, 200, 250 por hora foi fácil; estacionamos nos 281 km/h com impressão de potência para ir além. Mas costuma-se dizer que o que é bom dura pouco... As voltas terminaram tão rápido quanto o próprio Vette. Pneus e escapamentos fumegantes deram uma ideia da quantidade de força e de calor produzidos pelo V8 quando em alta velocidade: o felino virou dragão devorador de asfalto.
Para a Chevrolet esta foi mais uma bem-sucedida ação de Brand Experience. Celebrando a ação, um belo vídeo foi editado e pode ser conferido logo abaixo. Para mim, por outro lado, a primeira vez num helicóptero, a primeira vez em um superesportivo, a primeira vez a mais de 280 km/h e a primeira vez com um ícone das pistas soam mais como uma história para contar para os netos.
Fotos: Maximiliano Moraes / Selma Morais / Chevrolet (divulgação)
Vídeo: Dy Jay
Conhecer o Campo de Provas da Cruz Alta por si já é excelente, considerando todas as restrições de acesso. Mas havia mais: o carro, ou melhor, supercarro escolhido para o circuito era nada menos que o Chevrolet Corvette Stingray em sua nova geração. Embaixo do capô um motor V8 com 6,2 litros de deslocamento, produzindo 460 cv e capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,8 segundos. E o piloto... Bem, o que dizer de Emerson Fittipaldi, bicampeão de Fórmula 1 em 1972 e 1974, campeão de Fórmula Indy em 1989 e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis?
Dormi mal, ansioso, e acordei atarantado. Perderia todas as coletivas do período da tarde. Whatever! Press kits e fotos poderiam ficar para depois. Esforcei-me para manter o foco no período da manhã, aproveitando para ensaiar mentalmente algumas perguntas. O que um cara que tem tanto a aprender poderia perguntar a um mestre em tão curto período de tempo? Bobagem; não seria necessário.
Surpreende a simplicidade e cordialidade de Emerson Fittipaldi. Conversa sempre tranquila, em tom baixo, fazendo questão de deixar quem estiver ao redor à vontade, e histórias para ele corriqueiras mas que, para mim, soavam como aventuras incríveis. No lounge dedicado ao Corvette no stand da GM, uma pequena entrevista e logo saímos em direção ao Campo de Marte, onde embarcamos num vôo tranquilo - o meu primeiro num helicóptero - até Indaiatuba. "Voar de helicóptero é realmente muito bom, né? Muito conveniente, uma beleza" - disse Fittipaldi, mais uma vez com a boa intenção de nos deixar à vontade.
Meia hora de vôo e já avistamos o campo de provas, bem como um pontinho vermelho que nele reluzia à nossa espera. O helicóptero pousou bem ao lado do Corvette, cena de novela. Em meio à agitação de cinegrafistas, equipe técnica e apoio, Emerson nos explicou que a inclinação da pista circular da GM permitia que qualquer carro andasse a 160 km/h sem as mãos no volante, mas a velocidade a que chegaríamos o obrigaria a "segurar o carro" bem mais. Afinal, qualquer 1.0 com 80 cv chega aos 160 por hora hoje em dia; desperdiçar 380 cv pra quê?
O escapamento quádruplo rugiu metálico, quente, visceral como um grande felino marcando seu território, no momento da partida. Veio o primeiro frio na barriga, contido pela gentileza em deixar Selma Morais, a outra jornalista contemplada (e que não veio conosco por ar) embarcar primeiro. Devagar a princípio mas logo afundando o pé, Emerson lançou o Corvette adiante como num grid de largada, escapes pipocando a cada troca de marcha. Os mais de 4 km de extensão do círculo foram percorridos em instantes e o Vette voou baixo em nossa frente, seguindo adiante para mais uma volta - que mesmo tão rápida parecia não ter fim; eu queria o meu lugar. O sorriso de Selma ao sair do carro, minutos depois, junto com o anúncio da marca atingida - 282 km/h - denunciaram o que me aguardava.
Demorei para me ajeitar. Meu sedentarismo certamente me torna bem diferente dos pilotos fisicamente bem preparados que superesportivos estão acostumados a receber. Mas, enfim acomodado, Emerson dispara: "Está ansioso?" Não, eu não estava. É interessante como a velocidade sozinha pode causar tensão, mas a confiança no piloto faz adrenalina e endorfina trabalharem completamente coesas. A mesma largada lançada, o corpo gordo espremido para trás e a paisagem passando cada vez mais rápido, virando um borrão. É notório o downforce agindo sobre o Corvette, ao mesmo tempo em que pequenas irregularidades na pista, que certamente não seriam sentidas num carro comum, ficam tão evidentes naquela velocidade.
Mesmo assim o carro surpreende pela suavidade, atípica para um superesportivo. Nada de solavancos, pescoço travado ou punho fechado na alça que aqui chamamos costumeiramente de PQP. Chegar aos 160, 200, 250 por hora foi fácil; estacionamos nos 281 km/h com impressão de potência para ir além. Mas costuma-se dizer que o que é bom dura pouco... As voltas terminaram tão rápido quanto o próprio Vette. Pneus e escapamentos fumegantes deram uma ideia da quantidade de força e de calor produzidos pelo V8 quando em alta velocidade: o felino virou dragão devorador de asfalto.
Fotos: Maximiliano Moraes / Selma Morais / Chevrolet (divulgação)
Vídeo: Dy Jay
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