sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PENSAR, ANTES DE DECIDIR


ALTA RODA, Fernando Calmon


A primeira refinaria do País que terá 75% de sua produção direcionada ao diesel começa agora a processar cargas (trens, no jargão próprio) de petróleo. Localizada em Ipojuca, Pernambuco, continua envolvida na confusão atual da Petrobrás e em um inexplicável aumento de custos – cerca de 10 vezes – que envergonha os brasileiros. Exige um tempo até alcançar os 200 mil barris diários de diesel, que podem diminuir, mas não eliminar de todo a dependência de importação desse derivado. Há duas novas refinarias projetadas, sem data nem de início das obras.

Esse acontecimento traz à discussão o momento de liberar o uso de diesel em automóveis no Brasil. Existe até lobby de produtores de autopeças em esforço de convencimento, porém curiosamente nenhuma fábrica de veículos. Mais curioso ainda foi a decisão do governo francês, anunciada semana passada, de desestimular veículos de passeio a diesel. Na França 70% das vendas de modelos novos das marcas locais, Citroën, Peugeot e Renault, se concentram em motores diesel. Será estreitada a diferença de preço para a gasolina e tomadas as providências para diminuir a frota que usa o mesmo combustível de caminhões, ônibus, trens e outros veículos e máquinas comerciais.

Note-se que o governo tem 15% das ações da Renault e 14% da PSA Peugeot Citroën. Ambas se queixaram de perda de competitividade, maior dificuldade em atender as emissões de CO2 (gás carbônico), mas nada se reverteu. No entanto, utilização de turbocompressor em motores a gasolina de menor cilindrada (chamado de downsizing) vem tirando a desvantagem de consumo e de nível de torque frente aos a diesel. Mesmo na França é preciso rodar 20.000 km por ano para valer a pena porque um automóvel a diesel tem custos (e preços) até 10% superiores. Com essa rentabilidade camarada é fácil compreender a existência de lobbies, mesmo que desbalanceie a estrutura de refino de combustíveis.

Nos EUA, o governo também “atrapalha” a dieselização de veículos leves e autorizou apenas gasolina no programa de forte redução de consumo (e também de CO2) até 2022. Como sobra diesel no país exportam para a Europa que, há décadas, investiu nesse combustível para se defender dos carros japoneses a gasolina.

Quanto ao Brasil, existe o etanol nessa equação, alternativa capaz de reduzir em 80% as emissões de CO2 no ciclo fechado da produção ao consumo. Se liberado diesel indiscriminadamente para automóveis, emissões de gás carbônico aumentarão, autossuficiência em diesel ficará difícil de alcançar e tornará ainda menos rentável produzir etanol – cerca de 50 usinas já fecharam.

Ao contrário do que se pensa, há poucos estímulos no Brasil para etanol. Cide, por exemplo, incide apenas sobre gasolina, mas foi zerada para “combater a inflação”. Propulsor de 1 litro responde por quase metade das vendas e tem a mesma alíquota de IPI para flex ou gasolina. IPVA, idem, para gasolina ou flex, enquanto motor só a etanol tem alíquota apenas 1% menor.

Colocar o diesel com Arla 32, contaminável por água depois de 30 dias armazenado e biodiesel de várias fontes como quarto combustível (somado o GNV), precisa ser muito bem pensado e pesado.

RODA VIVA

CASO as vendas em 2014 caiam um pouco menos de 10% frente a 2013 já será um pequeno alívio. Ao longo deste ano atípico se temeu queda ainda maior. Estoques voltaram a subir de 40 para 42 dias entre outubro e novembro. Este mês se espera pequena reação pela maior oferta de crédito e compras antecipadas para fugir do aumento do IPI em janeiro próximo.

FORD antecipou, sem pormenores, que terá oito novidades em 2015, sendo duas em caminhões leves. Já se tem como certo reestilizações de Focus (hatch e sedã), Ranger (cabines simples e dupla), nova geração do crossover Edge (estreia em janeiro no Salão de Detroit) e, a concluir o processo de homologação, o Mustang.

ARGENTINO Citroën C4 Lounge 2015 tem versões intermediárias e de topo com primeiro motor turboflex, 1,6 L, do segmento de médios-compactos. Importado da França e desenvolvido em conjunto com engenharia brasileira, ganha 7 cv (agora, 173 cv) quando abastecido a etanol. Câmbio automático também foi melhorado e o conjunto impressiona bem. Preços: R$ 78.790 a 85.490.

NISSAN não importará o Nissan GT-R, de 545 cv e nada menos de 64 kgfm, pela dificuldade de homologar e nem tanto pelo preço que seria competitivo (menos de R$ 500 mil) em relação ao desempenho excepcional. Afinal, baixar de três segundos de 0 a 100 km/h o coloca em um clube que se conta os sócios pelos dedos de uma mão. Sua produção muito limitada também é empecilho.

EMPRESAS de rastreamento estão se sofisticando. A Ituran, multinacional israelense, já oferecia seguro total contra furto/roubo de veículo que usasse seu sistema e não fosse recuperado. Agora agregou também seguro contra danos materiais e físicos a terceiros, cobertura acessível e muitas vezes pouco valorizada. A empresa espera atrair mais clientes das classes C e D.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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