A efervescência do segmento de sedãs médios torna imprescindível a diferenciação. Por serem objeto de desejo da classe média as fábricas os vêem como minas de ouro. Mas a oferta é grande e abrir mão da fidelidade a um determinado emblema já não é mais difícil; proprietários bairristas que defendem uma marca a tapa, se preciso, são raros. Foi pensando nisso que a Chevrolet deu um "tapa" (com o perdão do trocadilho) no visual do Cruze, que avaliamos aqui na versão LTZ automática. A linha 2015 ganhou novo para-choque que engloba grade e faróis de neblina novos, além de luz diurna em led inédita. O revestimento interno tem nova padronagem, há mais equipamentos de série e o câmbio foi reprogramado para garantir mais agilidade e economia.
As mudanças pontuais têm o objetivo claro de manter o sedã interessante a ponto de não cair no conceito do público até que a nova geração chegue por aqui. Ano passado o Cruze garantiu o terceiro lugar em vendas no segmento, com 24.507 unidades comercializadas - bem abaixo de Corolla e Civic, mas mais de 10 mil unidades emplacadas acima do Sentra. Este ano, porém, na soma dos meses de janeiro e fevereiro o GM está em quarto lugar, com o Nissan tomando sua posição por hora.
É pouco tempo para saber se as mudanças surtirão efeito no ranking. O bom é que mesmo as mudanças sutis fizeram do Cruze 2015 um carro melhor do que antes. O motor continua exatamente o mesmo 1.8 Ecotec Flex, com até 144 cv de potência e 18,9 kgfm de torque a 3.800 rpm, mas com novo mapeamento da injeção e a nova geração do câmbio sequencial de 6 marchas o sedã ficou realmente mais ágil. Antes a impressão era de indecisão nas trocas, mas agora a transmissão ficou mais "inteligente", reduzindo até 3 marchas se preciso para fazer o Cruze deslanchar mais rapidamente nas retomadas. Ao mesmo tempo, se for dirigido sem pressa, a tendência é de manter marcha em cima e rotações embaixo, o que trouxe o consumo para a casa dos 8 km/l em média - antes era comum ficar nos 6.
Na disputa predominantemente oriental pelas primeiras posições do mercado, ao contrário do que possa parecer, o Cruze não é nenhum estranho no ninho. A escola coreana de design, por exemplo, está presente em muito do que compõe o interior do Cruze. Mas, americana que é, a Chevrolet buscou referência no médio-grande Malibu no arranjo de cores e texturas do interior desta nova versão. A mistura de preto com marrom nos bancos, portas e painel, mais a junção de plásticos imitando alumínio e no padrão black piano na seção central, tornou o ambiente mais requintado que antes. Mesmo assim há informação demais, num resultado que tende a se tornar cansativo com o tempo. O acabamento, por sua vez, é bem feito em quase tudo o que se vê, exceção à tampa do porta-luvas desalinhada na unidade avaliada.
Espaço na frente é mais que suficiente e posição de dirigir agrada... |
...mas atrás o espaço é menor do que os 2,60 m de entre-eixos sugerem |
Quem compra sedã médio quer conforto. Do ponto de vista do espaço o Cruze não desaponta, ainda que ofereça menos espaço no banco de trás do que o comprimento de 4,60 m e o entre-eixos de 2,68 m sugerem. Na frente, porém, a posição de dirigir é privilegiada; há ajustes amplos para a altura e distância do banco, para a regulagem do encosto e para altura e distância da coluna de direção. Mesmo não sendo um esportivo é fácil, ainda, simular uma posição de dirigir apropriada a uma condução mais dinâmica, se o motorista quiser, com o banco próximo ao chão e as pernas esticadas, mais um generoso apoio para o pé esquerdo.
Volante multifuncional é revestido em couro e tem comandos do sistema multimídia e do controlador de velocidade |
Os bancos são excelentes, com apoio mais que suficiente nas laterais e espuma de densidade correta. O volante multifuncional é, como os bancos e parte das portas, revestido em couro e oferece boa pega. Da ergonomia, aliás, não se pode reclamar. Tudo está ao alcance, com comandos intuitivos e fácil visualização. A central multimídia MyLink entrega excelente qualidade sonora, sem distorção alguma em qualquer frequência mesmo em volumes mais altos. As imagens da câmera de ré são excelentes. Acessar as funções do sistema é fácil de forma geral, mas destoam do conjunto a tela touch-screen, que fica um pouco longe da mão, e o pareamento de celular, que não é tão prático quanto deveria ser.
Do ponto de vista da qualidade de rodagem há prós e contras. O nível de ruído é contido com rotações mais baixas do motor, mas nas acelerações, especialmente quando passa das 4.000 rpm, o Cruze grita um pouco. Manobras são feitas muito facilmente graças ao auxílio da direção eletroassistida, que assume peso correto em velocidade. São os buracos no asfalto que pedem um pouco mais de cuidado porque o Cruze às vezes é duro, permitindo pancadas secas na suspensão e transmitindo essa rigidez aos ocupantes. Parte disso pode ser atribuído ao perfil baixo dos pneus de medida 225/50 R17, que, por outro lado, seguram o sedã com competência em curvas de raio mais fechado, auxiliados pela suspensão justinha, e ajudam também na obtenção de excelentes resultados de frenagem: ele pára com decisão.
Outra abordagem sobre o conforto considera a quantidade de itens de conveniência presentes num sedã. Nisso o Cruze LTZ não faz feio pra ninguém. A lista é extensa e inclui, além de tudo o que já foi citado, ar condicionado com controle eletrônico de temperatura, chave presencial que permite abertura de portas e porta-malas, acionamento do alarme, partida do motor e acionamento do ar condicionado à distância, botão de partida, sensores crepuscular e de chuva, computador de bordo, descanso de braço dianteiro com porta-objetos e descanso de braço traseiro com 2 porta-copos, controlador de velocidade de cruzeiro, retrovisor interno eletrocrômico e externos com ajuste e rebatimento elétricos, luzes individuais de leitura para motorista e passageiro, porta-óculos e comandos elétricos com one-touch para todos os vidros.
Câmera de ré, sistema Isofix, 6 airbags e controles de estabilidade e tração fazem parte do pacote de segurança |
No quesito segurança o Chevrolet Cruze também é muito bem servido. São 6 airbags - 2 frontais, 2 laterais e 2 de cortina -, cintos de segurança de 3 pontos para todos os ocupantes, Isofix no banco traseiro, controles de estabilidade e tração, ABS com distribuição eletrônica de frenagem (EBD) e auxílio à frenagem de emergência (PBA), sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré, leds diurnos, faróis e lanternas de neblina e alarme.
O Chevrolet Cruze 2015 foi lançado com preço sugerido, na versão LTZ, de R$ 86.900,00. Para a região de Valinhos (SP) a apólice mais em conta foi oferecida pela Azul Seguros, pelo valor de R$ 2.577,00 com franquia de R$ 3.050,00. O conteúdo pode até justificar o preço, mas não dá pra fugir ao fato de que vários de seus concorrentes oferecem atrativos que ele não consegue mais superar. O Honda Civic EXR (R$ 88.400,00) tem melhor dirigibilidade e fama de resistência; o Nissan Sentra SL (R$ 78.390,00) traz mais espaço e lista de equipamentos recheada por preço mais em conta; o Citroën C4 Lounge THP Exclusive (R$ 89.490,00) conquista com o aclamado motor 1.6 turbo flex. O Cruze se vale de uma ampla rede de concessionárias e do carisma que a marca ainda mantém junto ao seu público fiel. Isso pode segurar as vendas num bom patamar por algum tempo, mas uma nova geração não cairia mal. A concorrência não perdoa.
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