segunda-feira, 28 de março de 2016

COMPETIÇÃO MAIS ACIRRADA


ALTA RODA, Fernando Calmon


A briga no relevante segmento das picapes compactas – hoje restrito Strada, Saveiro, Montana e a anabolizada Duster Oroch – agora será bem mais acirrada. Apesar de haver apenas quatro modelos em oferta, é o terceiro maior segmento do mercado brasileiro, atrás apenas dos compactos e perdendo por pouco para os médios-compactos (27 modelos, sem contar à parte sedãs e hatches).


Nos últimos anos a Strada com suas opções de cabine simples, estendida e dupla (três-portas) dominou 50% das vendas. A chegada da Oroch quatro-portas começou a mudar o cenário. Porém, a nova Saveiro 2017, à venda a partir de abril, promete dificultar bastante a vida fácil da líder.

A Volkswagen, pela primeira vez, dá identidade própria à picape (lançada em 1982), diferente do Gol e do Voyage. Toda a parte frontal mudou de forma clara. Foi além, ao procurar contrastar com recursos estilísticos, a versão básica – Robust – da de topo – Cross. As intermediárias Trendline e Highline também apresentam pequenas diferenciações. Todas são de duas portas, mas a cabine dupla oferece mais espaço atrás do que a Strada, apesar do acesso limitado.

Painel, quadro de instrumentos e volante novos, aliados a materiais melhores de acabamento, dão um ar de modernidade ainda não visto no segmento. Isso se estende aos quatro sistemas de infotenimento – disponíveis conforme a versão – com telas táteis de até 6,3 pol. e conectividade de alto padrão. Suporte removível para telefone celular é muito bem projetado, facilita a visualização segura da tela e inclui entrada USB para recarregar a bateria com fio curto.

Saveiro já era superior mecanicamente às concorrentes, inclusive a única oferecer de série freios a disco nas quatro rodas. Adicionou recursos eletrônicos como ABS com função para freada em estrada de terra e auxílio para partida em rampa. Também tem controle eletrônico de estabilidade/tração e bloqueio eletrônico do diferencial (via frenagem da roda que perde tração). Em trecho fora de estrada, durante avaliação no interior de São Paulo, mostrou-se muito superior ao limitado sistema Locker (bloqueio mecânico só até 20 km/h) da Strada, que exige a parada do veículo para ser acionado.

Outra mudança, que deveria ter ocorrido bem antes, foi elevar a altura de rodagem em 1,5 cm. Ao mesmo tempo, o desenho da parte inferior do para-choque dianteiro permitiu aumentar o ângulo de ataque, ponto fraco da Saveiro anterior tanto ao rodar em pavimentação ruim quanto com carga total ao passar por quebra-molas e valetas. A tampa da caçamba, como antes, inclui uma mola a gás (exclusiva) para manuseio mais suave.

Versão Cross é a única disponível com o motor 1,6 L mais moderno da marca: bloco de alumínio, duplo comando de válvulas, 120 cv (etanol) e funcionamento particularmente suave desde a marcha lenta. As demais continuam com o 1,6 L antigo de apenas 104 cv.

Por fim, a VW mudou a política comercial para tornar a Saveiro um competidor de peso frente às envelhecidas concorrentes diretas. Em especial ao se compararem versões equivalentes e diferenças na segurança ativa. Preços vão de R$ 43.430 a R$ 69.250, fora opcionais.

RODA VIVA

CROSSOVER compacto da Renault, menor que o Duster e com nova arquitetura, será lançado antes na Rússia. Para não se confundir com o Captur francês (baseado no Clio), pode se chamar Kaptur. O mesmo modelo estará no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro. Provavelmente, vendas se iniciarão depois do subcompacto Kwid, prioridade para a marca.

ARGENTINA endurece, de novo, o jogo com o Brasil quanto ao livre comércio de veículos entre os dois países. Acordo bilateral tem sido renovado anualmente por meio de um mecanismo torto de cotas. Este é um dos furos do Mercosul. Surgiu expectativa de acertar um cronograma plurianual, pois há câmbio flutuante, agora, nas duas economias. Virou só esperança.

CITROËN Aircross aos poucos inverte tendências. Ao longo de 2016, versão com estepe externo terá 40% das vendas (hoje 60%). No dia a dia, o motor de 1,5 L e câmbio manual revela-se insuficiente, quando transporta cinco passageiros. O 1,6 L automático (quatro marchas) vai bem melhor. Falta, em ambos, um simples botão para desligar o bom sistema multimídia.

GOOGLE liberou versão do Android Auto com comandos e telas em português. Agora, é possível conectar telefones inteligentes com S.O. Android à central multimídia dos carros e utilizar comandos de voz para aplicativos como Maps, Play Música e a Busca em si. Modelos Chevrolet, Honda e VW nacionais, além de vários importados, oferecem a conexão antes inacessível.

ESCLARECIMENTO: na coluna da semana passada ficou uma dúvida sobre marcas centenárias. Citou-se a Audi, mas faltou incluir a Bugatti, como exemplo de marca que desapareceu por décadas e voltou ao mercado. Todas as demais, fundadas há 100 anos ou mais, nunca pararam. Nesta lista inclui-se a Daihatsu, que começou com motores estacionários em 1907 (primeiro carro, 1930).


Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

Nenhum comentário:

Postar um comentário