Por Maximiliano Moraes
Fotos: Maximiliano Moraes / Rodrigo Fernandes
O Camaro está completando 50 anos. Para comemorar a Chevrolet lançou uma geração completamente nova e, junto a essa, uma série especial com visual e detalhes de acabamento exclusivos - a série Fifty. De sua primeira aparição em 1966 até hoje foram 6 gerações lançadas, motivo que nos fez pensar que seria legal, em vez de apresentar mais uma reportagem sobre o comportamento dinâmico do carro - coisa que você vai encontrar aos montes na Internet -, apontar 6 verdades sobre o ícone.
A gente pensou nisso porque na semana que ficamos com o Camaro descobrimos mais coisas do que uma avaliação fria nos diria. Achamos interessante falar (não estranhe) sobre o custo x benefício do Camaro, já que nosso foco é esse, mas medindo isso de uma forma pouco usual. Além do mais ícones proporcionam experiências diferentes ao volante, coisas que às vezes marcam mais do que o funcionamento do carro em si e sobre as quais é impossível não falar.
PRIMEIRA VERDADE
O Chevrolet Camaro não é nada confortável no trânsito urbano
Poxa, começar já falando mal do carro? Não nos leve a mal. Acontece que o comprador do Camaro pode considerar usá-lo diariamente na cidade e, por este motivo, é justo fazer essas considerações. A Chevrolet poderia ter pensado em desenvolvê-lo mais como um GT, mas pensamos que isso talvez traria ao comprador memórias sobre a geração anterior, que conseguia ser confortável no trânsito às custas de não oferecer um handling decente.
Porém o Chevrolet Camaro 2017 é um esportivo de fato e, em tese, não tem obrigação nenhuma de ser confortável. Estamos falando de um carro pesado, muito baixo, com curso de suspensão curtíssimo, rodas aro 20 e pneus 245/40 na frente e 275/35 atrás. Ainda sonhamos com o dia em que poderemos dirigir em vias urbanas bem conservadas, mas enquanto isso não acontece cada solavanco e batida seca são sentidos sem dó na cabine. Ele compensa parte desse desconforto com equipamentos que auxiliam a condução e as manobras, como os sensores de aproximação lateral e de movimentação traseira, a câmera de ré e um novo sistema de direção elétrica que não chega a ser suave como manteiga mas não exige esforço hercúleo na hora de estacionar.
SEGUNDA VERDADE
O Chevrolet Camaro é um devorador de curvas
Ruim na cidade, maravilhoso fora dela. Falando ainda sobre o handling da geração anterior, o problema estava na falta de equilíbrio do chassi, que jogava para a traseira a compensação por qualquer movimentação brusca da direção, e na maneira abrutalhada que a potência chegava às rodas traseiras, coisa que requer muito mais braço para domar. O Camaro 2017, por outro lado, conta com um chassi extremamente equilibrado, é um pouco menor que o anterior e carrega algumas features que o tornam um monstro na hora de devorar a estrada e suas curvas: controles de tração e estabilidade, sistema de vetorização de torque e 4 modos distintos de condução (passeio, esportivo, neve e pista), cada um deles com parâmetros diferentes para suspensão, acelerador, direção e câmbio.
Isso torna o carro muito mais civilizado para o motorista comum - que, via de regra, é quem compra Camaro. Explorar a esportividade do carro não é difícil, portanto: até quem não tem toda a expertise de um piloto profissional conseguirá extrair do carro esportividade suficiente para fazer jus ao nome e ao preço. Leve o Camaro para a estrada e seja feliz.
TERCEIRA VERDADE
O sistema de áudio é excelente, mas é melhor deixá-lo desligado
O Camaro 2017 usa sistema de som da Bose. Coisa fina, com qualidade sonora para agradar do agroboy ao baladeiro. Apesar disso temos críticas à falta de faixas de equalização: o MyLink mostra somente 1 faixa de ajuste para cada frequência (agudos, médios e graves), o que é insuficiente para quem tem ouvidos mais sensíveis e faz questão de um som mais refinado. Aliás, nenhum modelo da Chevrolet vendido no Brasil oferece um bom equalizador; já não é sem tempo.
À parte as críticas, bom ou não, o sistema de som não é o que há de melhor para se ouvir no Camaro. Dê a partida e entenda: o ronco do motor 6.2 V8 e o rugido que sai dos escapamentos faz a gente esquecer que existe música. Rugido sim, que vira uma coisa ardida e visceral à medida que o giro sobe e ainda nos dá de presente pipocos a cada troca de marcha feita com o carro em aceleração máxima. São 461 cv de potência e quase 63 kgfm de torque à disposição para fazer você sorrir. Que som Bose o quê.
QUARTA VERDADE
Nenhum carro chama tanta a atenção quanto um Camaro (mais ainda se for amarelo)
Alguém nos EUA teve, um dia, a ideia de (perdão pelo trocadilho) transformar o Camaro num Transformer. Escolheram a cor amarela para deixá-lo mais perceptível e emblemático no filme, e daí para que ele se tornasse um sucesso entre os fãs da franquia - e não somente entre entusiastas - foi um pulo. Mas outro alguém no Brasil teve, um dia, a ideia de compor uma música falando sobre um Camaro amarelo. Como se já não fosse suficiente a fama pelo filme, a canção tornou o esportivo um sonho de consumo entre quem gosta de carros, de motores V8, de desempenho bruto, de design e de baladas sertanejas universitárias.
Há algo sobre este Chevrolet, porém, que ultrapassa o espectro da fama midiática. Há quem discorde, mas fato é que no trânsito um Camaro amarelo - ou de qualquer outra cor, especialmente nesta nova geração - chama mais a atenção que qualquer outro carro que já dirigimos, arriscamos dizer que mais que Porsches ou Ferraris. Isso porque estes são muito menos vistos e, por isso, menos conhecidos. Pouca gente vai saber diferenciar um 911 Carrera 4 de um 911 Turbo S (e é possível que confundam esses com um Cayman), e o mesmo acontece com Ferraris. E, pior, menos gente ainda vai chamá-los pelo nome próprio: serão sempre Porsches ou Ferraris.
Um Camaro é um Camaro, não é um "Chevrolet". Outros superesportivos, inacessíveis demais, não conseguem se aproximar do público como o Camaro, que parece um sonho possível até para quem não tem dinheiro para comprá-lo. "Meu vizinho tem um, dei uma volta um dia." E fica na memória pra sempre. Ele arranca sorrisos do entusiasta, do frentista, do senhorzinho que sente saudade dos bons tempos com motores grandes e potentes e da criança que o vê de longe, começa a pular e grita: "Olha, mãe! O Bumblebee!"
QUINTA VERDADE
Você não fica doce $#&@% nenhuma num Camaro
Fizemos menção ainda à musiqueta porque discordamos com força de seu refrão. Nunca é demais citar: QUATROCENTOS E SESSENTA E UM CAVALOS, tudo isso ali embaixo do enorme capô. É o mesmo motor do Corvette Stingray (que o Emerson Fittipaldi, sorry, pilotou comigo a bordo em 2014 - leia aqui) num carro ainda mais assentado ao solo. A diferença de peso, aliás, faz o Corvette atingir os 100 km/h a partir de zero em 3,8 segundos, enquanto o Camaro faz o mesmo em 4,2 segundos, o que não é lá grande diferença.
A questão é que basta entrar no carro para incorporar um espírito de bad boy. Você quer se manter humilde, mas se sente orgulhoso; quer ficar "de boas" mas não consegue passar indiferente às centenas de olhares. Vira centro da atenção onde quer que vá. Acelera um pouquinho no trânsito urbano, ouve o growling do motor e quer acelerar mais. Sai da multidão, procura uma estrada vazia e afunda o pé. Você se sente parte da máquina e ela absolutamente na mão, curvas feitas como se os pneus fossem feitos de velcro e o asfalto fosse carpete. Você volta para a cidade, passa de novo em frente à multidão, nota os olhares e pensa: "Vocês não fazem ideia do que esse cara aqui é capaz. E eu tô dirigindo!"
SEXTA VERDADE
O custo x benefício do Camaro é melhor do que você pensa
Olha a gente falando sobre custo x benefício de novo. É que, ao contrário do que muita gente pensa, não é só quem compra carro barato que considera isso na hora de fechar negócio. Como o Camaro não tem ainda um concorrente direto no Brasil, já que não há outros muscle cars sendo importados oficialmente, orientamos nossa análise a partir da equação preço x cv.
É justo pensar em outros cupês para comparar. Pensamos no BMW M2 Coupé, que é empurrado por um motor de 6 cilindros biturbo que gera 370 cv e tem preço, no site da marca, de R$ 389.950,00, ou seja, R$ 1.054,00 por cv. A Audi tem no TTS um forte concorrente para o Camaro, mas que cobra ainda mais caro pelo que entrega: custa R$ 309.950,00 e tem 286 cv de potência, ou R$ 1.083,00 por cv. Considerando coisa menos cara, mas ainda falando em cupês, a Honda ainda traz para o Brasil o Civic Si baseado no modelo antigo, que também chama a atenção mais que a média. Com motor de 206 cv de potência e custando R$ 132.100,00, ele chegou à média de R$ 641,00 por cv. É algo bem próximo ao que o Camaro 2017 oferece: R$ 661,00.
Vamos lá: o BMW M2 Coupé é um absurdo de bom, mas é caro demais. O Audi TTS, mais leve, chega perto do Camaro em termos de performance e dirigibilidade, mas é carro mais para quem curte tecnologia e prefere discrição na hora de acelerar. O Honda Civic Si é mais acessível, mas aqui só serviu para estabelecer um parâmetro de comparação. O Camaro guarda o verdadeiro espírito do muscle car, imponente, indiscreto, dono do pedaço, carro para quem quer ser notado. E que nos desculpem os downsized, mas V8 é V8.
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