Por Alberto Martins
O deslumbrante Opel Insignia Sports Tourer, último lançamento da Opel... |
...e o luxuoso DS 7 Crossback, último lançamento do grupo PSA |
Na manhã do último dia 6 de março o Grupo PSA formalizou com a GM a compra de toda a operação europeia da marca americana. O negócio de US$ 2,3 bi compreende a operação das marcas Opel, Vauxhall e seus bancos de financiamento, e altera o desenho do mercado mundial de automóveis significativamente. Do lado de quem vende, o suspiro cansado de quem entrega uma operação com bons produtos, mas sem rentabilidade.
Pioneiro em mobilidade não só no mercado de automóveis, o Grupo PSA controlava até então as marcas Peugeot, Citroen e DS (esta recentemente dissociada da anterior). As três marcas sofrem com movimentos de concorrência apesar de seus prestígios e a operadora não negava a dificuldade financeira para desenvolver novas soluções e ampliar a participação de seus produtos. Exemplo clássico no Brasil é o modelo 2008 sem opção de cambio automático na versão mais completa, desenvolvimento inviabilizado por falta de recursos.
Interior do DS 7 Crossback se diferencia pelo painel digital, a imensa tela ao centro do painel e muito couro |
A aquisição soa para a francesa como o fim de uma década de contingências. Sucessivos resultados negativos, especialmente na virada da década, levaram a empresa a apertar os cintos e ficar acuada no mercado com um portfolio enxuto e com pouca flexibilidade. Carlos Tavares, o português que hoje responde pela companhia, é conhecido pela gestão focada em corte de custos e busca por resultados, que determinaram a retomada da empresa após um período de crise e entraves.
Com esta aquisição a PSA leva da GM um amplo portfólio de produtos, centros de desenvolvimento e penetração em mercados importantes como o Reino Unido e a Alemanha, sedes das duas marcas compradas. Além disso o grupo torna-se vice-líder em vendas na Europa, ultrapassando a Renault (onde o executivo fez carreira) e ficando atrás apenas da VW.
Design do Opel Insignia Sports Tourer nos faz sentir saudades das peruas no Brasil |
Em 2015, diante de uma proposta da FCA (Fiat-Chrysler), a GM foi enfática em dizer que não entregaria sua operação na Europa - mas os franceses conseguiram o feito. Agora a americana parece feliz em se livrar de um abacaxi que amargava em déficit desde 1999 e não respirava os mesmos ares de prosperidade da matriz do Novo Mundo. Enquanto Mary Barra, presidente da GM, afirma: "Acreditamos que este é o início de uma nova era de conquistas para a Opel-Vauxhall, bem como de um compromisso audacioso e fundamental para o próprio futuro de crescimento rentável e sucesso da GM", Tavares responde: "A GM não tem que estar aliviada, mas orgulhosa de entregar à Opel-Vauxhall um futuro melhor”.
A Casca do Abacaxi: Estratégia e Política
O funcionamento operacional do novo grupo promete agilidade e eficiência. A crise mundial de 2008 tornou a Opel ainda mais distante da matriz, levando à perda de mercados e à extrema demora no lançamento de veículos como o compacto Adam, essencial ao consumo europeu mas sem nenhum sentido na terra do Tio Sam. Barra afirmou que apenas 20% do portfólio apresentava familiaridade, o que complicava bastante o compartilhamento de componentes e plataformas.
O Adam é um dos modelos que distanciou a Opel da matriz americana: faz todo sentido na Europa, mas não nos EUA |
As operações da GM na Ásia e Américas, mercados férteis e sem necessidade de tecnologia de ponta como o europeu, seguem a todo vapor. A retração de consumo e o novo lifestile compartilhado e colaborativo dos europeus ainda é visto como oportunidade de negócios pelos americanos. "Nosso investimento futuro, e eu acho que é uma enorme oportunidade, é o transporte como serviço", afirma a presidente da GM ao esclarecer o posicionamento da marca, e ainda conclui que não são necessárias fábricas para oferecer os serviços.
Enquanto a GM tira o dedo do Presidente Trump dos negócios na Europa, a PSA se torna peça importante na fragmentação europeia. A Vauxhall trabalha com enormes dívidas trabalhistas (parte delas levadas pela GM), num mercado que acaba de se isolar da Europa e tem 80% da sua produção exportada. Na Alemanha o cenário é um pouco mais estável, mas os franceses parecem apostar em captar tecnologia a curto prazo e produzir para demandas regionais após a nova acomodação da Europa.
As tesouras afiadas de Tavares terão que esperar muita costura antes de trabalharem nos custos, ou se amolarão pelas beiradas. O governo francês é dono de 16% da PSA, a Vauxhall esta amarrada em inúmeros acordos trabalhistas que seguram a produção de Astra e outros modelos até 2022, e a Alemanha tem um modelo invejável de desenvolvimento industrial participativo. Ainda assim as peças grandes deste xadrez já andaram bastante em volta desta negociação, incluindo a primeira ministra britânica Theresa May e outros líderes políticos, especialmente da França e do Reino Unido.
E o Brasil?
A GM Brasil vai bem, obrigado. E agora entendemos porque os produtos Opel não apareceram mais por aqui, apesar dos apelos dos entusiastas da marca. Ao longo da ultima década a planta brasileira nutriu a Ásia com pessoal especializado e tecnologia para que nossos projetos pudessem ser compartilhados, tirando a Europa do nosso eixo operacional.
Opel Crossland X, substituto do Meriva na Europa, não virá para o Brasil |
A PSA, que tem se posicionado de forma mais agressiva em nosso país, deve apresentar novidades em prazo médio. O acordo fechado marca o território dos modelos já lançados e impede que sejam posicionados em novos mercados. O recém lançado Crossland X, por exemplo, fica restrito aos mercados já planejados pela Opel. O novo Corsa que era esperado para 2019 já voltou para as pranchetas para poder desbravar novos caminhos. Sem reprojeto ficaria restrito aos planos iniciais da GM.
Portanto, se você sente saudades dos GM dos anos 90 e tem esperança de ver um Opel 0 km vendido oficalmente no Brasil, pode se acalmar. Caso um dia isso aconteça, será com bastante sotaque francês.
Fotos: Divulgação
PRÓXIMOS DESTINOS é uma coluna quinzenal. Propõe um olhar à frente, junto à nova economia, à hiperconectividade e aos novos arranjos sociais.
Alberto Martins é técnico em Mecânica, Designer de Produtos, MBA em Gestão de Negócios, entusiasta de história, sociedade e antigomobilismo, e apaixonado por novas tecnologias e novas possibilidades do dia a dia.
Alberto Martins é técnico em Mecânica, Designer de Produtos, MBA em Gestão de Negócios, entusiasta de história, sociedade e antigomobilismo, e apaixonado por novas tecnologias e novas possibilidades do dia a dia.
Fotos: Divulgação
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