Depois da grande polêmica por causa do comparativo de QR entre sedãs médios, muitos ainda se perguntam se não teria sido melhor para a Honda posicionar o City num segmento de mercado inferior. Até a própria QR, em edição anterior, lançou o seguinte comentário: “O City poderia ser o novo padrão entre os sedãs compactos, se a Honda quisesse.” (Edição 594, agosto de 2009) Suas vendas refletem a aprovação de muitos, que vêem no modelo uma boa alternativa ao Honda Civic – mesmo sendo menor. Porém, paremos para pensar: se fosse mais barato, será que ele não seria ainda mais vendido, com a vantagem de ser amplamente aprovado pela crítica e pelos entusiastas como nova referência no mercado entre sedãs compactos premium?
Este é o ponto de vista deste comparativo. Considerando o que o comprador de sedãs compactos premium procura (mais espaço, mais desempenho, mais conforto e um pouco mais de status num sedã mais em conta que um médio), agrupamos aqui 6 modelos que, em tese, entregam o que se pede e mais um pouco: 5 considerados realmente pequenos – Fiat Siena HLX 1.8, VW Polo Sedan Comfortline 1.6, Ford Fiesta Sedan Class 1.6, Peugeot 207 Passion XS 1.6 16v e Renault Symbol Privilége 1.6 16v – mais o pseudo-compacto Honda City. Para facilitar a análise, foram definidos 6 quesitos: design, desempenho, conforto, segurança, consumo e custo x benefício. O vencedor de cada quesito levará 6 pontos, o segundo levará 5 e assim por diante.
Design
Cada um tenta conquistar o consumidor com armas diferentes, mas neste critério – apesar de subjetivo – podem-se classificar os modelos em 3 blocos distintos: os belíssimos, os bonitos e os indecisos. No primeiro bloco, City e Siena se destacam. O Honda, apesar de parecer despersonalizado, tem um desenho cosmopolita (para agradar a gostos diferentes nos vários países onde é comercializado) e bem resolvido, além de ter sido lançado recentemente. Já o modelo da Fiat teve a reforma visual mais feliz desde o seu lançamento, quando era considerado o patinho feio da linha Palio; frente agressiva com belos faróis, traseira à la Alfa Romeo, cromados na medida certa e bonitas rodas de alumínio formam um conjunto bastante agradável aos olhos. No segundo bloco estão Polo Sedan e Fiesta Sedan, ambos com um design correto e equilibrado, mas já um pouco desgastados pelo tempo. Em último lugar ficam Passion e Symbol, com um design “ame-o ou odeie-o”. O Passion, por causa da polêmica reforma visual inspirada no 207 europeu, desproporcional em relação ao 206 (ainda que seja ele o modelo mais equilibrado da linha 207); o Symbol por causa do conservadorismo e falta de agressividade do design, bem como da clara inspiração no modelo do qual deriva, o Clio Sedan – que sempre foi considerado feio.
City e Siena – 6 pontos
Polo e Fiesta – 4 pontos
Passion e Symbol – 2 pontos
Desempenho
Este foi um dos quesitos mais difíceis de julgar. Primeiro, porque houve alternância de vencedores em aceleração (City, 10,2 s), retomada de 60 a 100 km/h (Siena, 9,5 s) e retomada de 80 a 120 km/h (Symbol, 14,1 s). Depois, porque muitos modelos têm virtualmente a mesma potência (Fiesta, 111 cv; Passion, 113 cv; Siena, 114 cv; Symbol, 115 cv; City, 116 cv), o que os colocou em pé de igualdade na disputa. Foram detalhes e pequenas diferenças nos números que possibilitaram a escolha de um vencedor, e ele acabou sendo o Symbol. Apesar de ter ficado em segundo lugar no 0-100, o Renault foi mais ágil, de modo geral, nas retomadas, com menor diferença de tempo nas passagens de 60-100 e 80-120 que o Siena (4,4 s contra 5,8). Além disso, ele também ficou em segundo em torque (o Siena ganha esta), mas por ter 16 válvulas, sua curva de torque acaba sendo mais aproveitável (pico de torque aos 3.750 rpm; pico de potência aos 5.750 rpm). Em segundo ficou o City, com a melhor marca no 0-100 e boas retomadas, mas com pouco torque (o que, em tese, prejudica seu desempenho quando cheio) e com pico em altíssima rotação. Em terceiro fica o Siena, com boas marcas de retomada, mas somente o 4º lugar em aceleração e funcionamento áspero do motor 1.8 em altas rotações. Em quarto fica o Passion, que fica à frente do Siena em aceleração, mas perde nas retomadas. Já em quinto fica o Polo, e sua colocação se dá mais pelo bom rendimento do motor de 104 cv do que por seus resultados, onde ele praticamente empata com o Fiesta – que fica em último justamente por se igualar ao VW, apesar de ter mais potência e torque.
Symbol – 6 pontos
City – 5 pontos
Siena – 4 pontos
Passion – 3 pontos
Polo – 2 pontos
Fiesta – 1 ponto
Conforto
Conforto é algo que se mede sob vários pontos de vista. Um carro mais espaçoso que outro é, teoricamente, mais confortável; mas se este tem melhor acabamento e é mais silencioso, a teoria se desfaz. Neste quesito a briga entre City e Polo foi feia. O primeiro tem maior entreeixos, mais espaço interno, maior portamalas, boa qualidade de montagem e bom acabamento, apesar de um layout interno bastante impessoal, ainda que moderno. O segundo tem ótima qualidade de montagem, excelente dirigibilidade, um câmbio praticamente perfeito e ótimo acabamento. Mas enquanto o City tem rodar mais macio graças à suspensão mais mole e aos pneus mais altos (e finos), o Polo é um carro mais “na mão”, com suspensão firme e mais estabilidade. Ambos empataram ainda na média de nível de ruído, com 64,8 dBA. Mas por causa de seu rodar macio e silencioso, o City acabou ganhando do Polo, que ficou em segundo lugar. Na seqüência vem o Passion (atrás de Polo e City em nível de ruído, com 65,6 dBA), com uma suspensão bem acertada que proporciona ao motorista um meio-termo entre firmeza e maciez, além de acabamento de primeira, ótimos bancos e bom espaço para motorista e passageiro da frente, ainda que falte espaço para os de trás e no portamalas. O Symbol fica em quarto lugar menos pelo layout do painel (bastante sem sal) e mais pelo ótimo acabamento da cabine, que é silenciosa e tem espaço razoável para o motorista e os passageiros, além do excelente portamalas de 506 litros – onde empata com o City. O Fiesta fica em quinto porque oferece a mais que os outros espaço interno, onde fica atrás somente do City, e articulações pantográficas no portamalas (único do comparativo), que permitem melhor arrumação da bagagem. Seu acabamento, porém, é o pior de todos, com plásticos de qualidade inferior e em maior quantidade que o esperado para um modelo com este preço, além de qualidade inferior de montagem e o último lugar do comparativo em nível de ruído. Já o Siena, apesar do bom acabamento, perde de todos graças às suas linhas internas já cansadas, ao mau posicionamento das saídas do ar condicionado e ao pouquíssimo espaço interno (resultado de sua menor largura e entreeixos diminuto), o que é um paradoxo em relação ao portamalas generoso.
City – 6 pontos
Polo – 5 pontos
Passion – 4 pontos
Symbol – 3 pontos
Fiesta – 2 pontos
Siena – 1 ponto
Segurança
Quando tratamos de carros familiares como os sedãs, segurança é fundamental. Alguns carros aqui foram testados com ABS e outros sem o equipamento, mas ainda assim serão consideradas as marcas absolutas. Neste comparativo 2 carros brilharam: Polo Sedan e Symbol. Ainda que o VW não tenha se sobressaído nas retomadas, são dele as melhores marcas de frenagem, graças à presença do ABS. Também com ABS, o Renault ficou em segundo lugar em frenagem, mas se redime com ótimas retomadas e um comportamento excelente da suspensão, garantindo ótima estabilidade – assim como o Polo. O Fiesta Sedan também surpreende com as melhores marcas de frenagem sem o ABS (opcional), garantindo o terceiro lugar. O Siena fica com o quarto lugar, com marcas próximas às do City, quinto lugar (ambos sem ABS), mas com menor diferença entre as distâncias consideradas. Quanto ao City, é imperdoável a decisão da Honda de não oferecer o equipamento nem como opcional, mesmo caso do Passion mecânico – último lugar neste quesito –, onde quem quiser o ABS terá, obrigatoriamente, que escolher o modelo automático. Porém, enquanto o City ostenta melhores marcas de retomada, sua estabilidade é comprometida justamente pela suspensão macia e pelos pneus finos, enquanto o Passion, mais baixo, com pneus mais grossos e rodas maiores, apresenta um comportamento mais neutro em curvas. Ambos empatam em último lugar.
Polo e Symbol – 6 pontos
Fiesta – 4 pontos
Siena – 3 pontos
City e Passion – 2 pontos
Consumo
Aqui não há o que discutir: vence quem gasta menos. E a surpresa do teste foi o modelo da Ford, com a melhor média ponderada de consumo (cidade / estrada). Segundo lugar para o City; terceiro para o Polo; quarto para o Passion; quinto para o Symbol e sexto para o Siena, único do comparativo com motor 1.8.
Fiesta – 6 pontos
City – 5 pontos
Polo – 4 pontos
Passion – 3 pontos
Symbol – 2 pontos
Siena – 1 ponto
Custo x Benefício
Todos os modelos avaliados tinham o que se considera como item fundamental para um sedã premium: ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, CD player com MP3, airbag duplo, alarme e rodas de liga leve. Por isso, o preço considerado foi de modelos com, no mínimo, esses itens no pacote. Outra briga feia, desta vez entre Symbol e Passion. Com tudo o que se pode esperar de um sedã premium e mais os diferenciais do ar digital, computador de bordo, ABS e um portamalas imenso por preço razoável, o Symbol empata com o Passion, que compensa a falta de ABS não somente com o sistema de ar igualmente digital e o computador de bordo, mas ainda com sensores crepuscular e de chuva, mais o menor preço do comparativo: R$ 44.500,00. O Polo Sedan e o Fiesta Sedan os perseguem no terceiro lugar, também empatados. O Polo se destaca graças à grande oferta de equipamentos (que inclui o ar digital e à regulagem de altura e profundidade da coluna de direção) – apesar da ausência do controle elétrico para retrovisores, presente em pacote de opcionais que o tiraria da média de preço do comparativo. Já o Fiesta tem a menor quantidade de equipamentos do teste (o ar condicionado é comum e ele não tem computador de bordo), mas ainda assim ele tem o suficiente e traz ainda bom espaço interno e bom portamalas (algo a se considerar num sedã), sendo o segundo mais barato do comparativo. Em quinto lugar fica o Siena, com uma imensa quantidade de opcionais que podem levar seu preço a mais de 60 mil reais. Porém, com os opcionais sugeridos para o teste – e ainda que some a eles o computador de bordo e o ABS –, seu preço fica próximo ao do Polo Sedan, um carro superior em muitos aspectos. E o City, finalmente, tem preço, muitíssimo superior aos dos concorrentes. Além do mais, ainda que seja o único a trazer direção elétrica, o sistema de ar condicionado é comum e, como já foi dito, ele não traz ABS nem como opcional. Sua única vantagem, virtualmente, é o status agregado, algo difícil de se considerar numa análise de custo x benefício. Como seu tamanho avantajado em relação aos outros não justifica seu preço, ele fica em último lugar no quesito.
Symbol e Passion – 6 pontos
Polo e Fiesta – 4 pontos
Siena – 2 pontos
City – 1 ponto
Conclusão
O resultado deste comparativo não poderia ser mais surpreendente. Com 25 pontos, City, Polo Sedan e Symbol acabaram empatados. O Fiesta Sedan ficou em quarto, com 21 pontos, enquanto o 207 Passion terminou com 20 pontos. Na lanterninha ficou o Siena, com parcos 17 pontos. Porém, analisando todos os quesitos, é justo dar a vitória do comparativo ao carro mais equilibrado dentre todos: o VW Polo Sedan. Sua maior qualidade é ser suficientemente bom em todos os aspectos, ainda que tenha um desempenho ligeiramente inferior ao da concorrência (mas nada que o comprometa). City e Symbol, por sua vez, são ótimos em vários aspectos, mas são bem ruins em outros e isso acaba comprometendo tanto o resultado do teste quanto a imagem do produto. O Fiesta Sedan, antes referência entre os sedãs compactos, acabou sofrendo as desvantagens de ser um projeto um pouco defasado em relação à concorrência, mas ganha pontos por ainda ser um dos poucos sedãs compactos que entrega bom espaço interno com ótima dirigibilidade. O Passion tem o demérito de ser nada mais que uma adaptação para o mercado brasileiro, ainda que seja um produto interessante. Quanto ao Siena, seu design não é suficiente para fazer frente à concorrência nesta faixa de preço; tanto é que a participação da versão HLX no mercado é muitíssimo tímida.
No final das contas, quem definirá qual o melhor sedã deste comparativo é o consumidor. De posse dos dados da tabela abaixo, basta que o comprador dê peso maior àquilo que considera mais importante. E ele mesmo sairá ganhando.
Todos os dados desta tabela foram obtidos no site BestCars e em várias edições da revista Quatro Rodas.