Esta é a última reportagem de 2009. Por isso, achei que seria interessante incluir uma análise mais próxima à realidade da maioria. E por ter sido o Siena EL escolhido em vários sites e publicações especializadas como um dos carros com melhor custo x benefício de nosso mercado, nada mais próprio do que verificar se ele realmente é uma boa compra. Aliás, com o 13º salário na conta e as corriqueiras promoções de janeiro, muita gente vai correr para as concessionárias esperando trocar de carro e fazer um bom negócio.
De série, o Siena EL já vem com 2 itens bastante importantes: direção hidráulica e computador de bordo. Basicão ele não é. Fora isso, ele traz vários itens de conveniência que não aparecem nos modelos básicos da concorrência: espelhos de cortesia nos 2 retrovisores, porta-revistas nos bancos dianteiros, Follow-Me-Home (sistema que mantém os faróis acesos por algum tempo depois de desligado o motor), alerta de limite de velocidade e 3 encostos de cabeça traseiros – além, é claro, do design renovado. Só fica devendo os novos e belos faróis; ele usa os antigos faróis do novo Palio. Por R$ 30.570,00, não parece mau negócio.
Porém, várias pesquisas de mercado mostram que a maioria dos compradores de sedãs, mesmo pequenos, sempre pede o carro com ar condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas. Então, vamos considerar o modelo completo; neste caso os opcionais somam R$ 3.586,00 ao preço de entrada do Siena EL, elevando-o para R$ 34.156,00 e ainda acrescentando rodas com aro 14 e abertura interna de portamalas e tanque de combustível. Ainda é um bom preço, considerando que seus concorrentes são todos mais caros: o Prisma VHC E 1.0 Maxx com os mesmos opcionais (mais alarme, menos computador de bordo e todos os penduricalhos do Siena) sai por R$ 34.786,00, o Logan UP 1.0 16v (que adiciona CD player com MP3 e comandos no volante, alarme, rodas com aro 15 e alarme de faróis acesos, mas não tem computador de bordo) sai por R$ 35.080,00 e o Fiesta Sedan 1.0 (que não adiciona nada) sai por R$ 36.790,00. O preço do Voyage não pode ser conferido porque o configurador do site estava em manutenção.
No entanto, naquilo que o comprador mais espera de um sedã – espaço – o Siena só concorre com o Prisma – neste caso, POUCO espaço. O maior paradoxo é que seu portamalas só perde para o do Logan, mas seu entreeixos é o menor de todos – fato difícil de entender, já que sua irmã de projeto, a Palio Weekend, tem 9 cm a mais. Além disso, se a posição de dirigir e a ergonomia do Prisma são péssimas, as do Siena não ficam muito atrás. Os ajustes de distância dos bancos dianteiros, por exemplo, trazem os bancos OU para a frente e para cima OU para trás e para baixo; os tamanhos das pernas dos motoristas não são levados em conta e isso pode fazer com que motoristas menos proporcionais, ou seja, mais baixos porém com pernas mais compridas, dirijam literalmente com o volante entre elas. Como se não bastasse, a Fiat poderia ter revisto o posicionamento dos difusores do ar condicionado ao renovar o modelo, mas eles continuam baixos e refrigerando mal a cabine.
No trânsito, o Siena também mostra alguns defeitos irritantes. Até que o motorista se acostume, os freios superdimensionados e mal modulados o jogarão bruscamente para a frente – e no trânsito pesado isso pode ser até perigoso, dependendo da distância do carro de trás. Sua suspensão, se por um lado agrada pela maciez no asfalto ruim, por outro transmite muita insegurança em curvas, especialmente em dias de chuva, por permitir uma inclinação da carroceria além da razoável. Na estrada a coisa pode ficar mais feia ainda se o carro estiver cheio. Mas nada mais incompreensível do que a trava para a ré, que a Fiat insiste em manter. Se o engate fosse à frente, próximo à primeira marcha, ela até seria justificável. Mas para trás, à direita, em oposição à quinta marcha e com os próprios sincronizadores do câmbio impedindo o seu acionamento quando em marcha à frente? Não dá para entender.
Na estrada, o novo motor Fire com até 75 cavalos dá conta do recado, desde que o motorista não resolva levar a família toda e encher o portamalas de tralhas. Depois que embala, na reta, ele vai bem; às vezes nem parece 1.0. Mas nas subidas o mau escalonamento de marchas, com “buracos” que causam grandes quedas de rotação nas trocas, acaba por praticamente anular o novo acerto do motor, que ampliou a rotação de torque máximo para 4.500 rpm – fator que poderia trazer melhor desempenho em altas rotações, situação típica de subida de serra. Nessas horas, o motor com 16 válvulas do Logan (mais esperto em altas rotações) ou o VHC do Prisma (mais potente, rendendo mais até que alguns 1.4) são melhores. Além disso, como já foi dito, a suspensão mole demais não transmite a segurança que deveria nas curvas; a sensação de que o carro vai sair de traseira é constante, especialmente com o portamalas cheio.
Claro, o Siena tem algumas ótimas qualidades. A cabine é bem tratada e bem acabada. Na cidade, em velocidade mediana e só com o motorista ele é muito agradável de dirigir. O bom isolamento acústico mantém a balbúrdia do trânsito pesado do lado de fora, o câmbio é bem macio e o seu consumo não é maior que o dos concorrentes, com médias próximas a 8 km/l na cidade e 11 km/l na estrada, com álcool. Só não espere proporcionar conforto aos caronas: ele é o mais apertado na frente e atrás. Neste aspecto, o Logan continua imbatível e o Fiesta Sedan oferece mais que a maioria.
Sendo mais barato que os concorrentes, o Siena acaba conquistando - mas não necessariamente pela qualidade. Oferecer mais itens de série e pedir menos por opcionais sempre foi uma ótima estratégia de vendas. Mas se você precisar de mais desempenho, o Prisma oferece mais; se quiser mais espaço e mais segurança, tanto Logan quanto Fiesta oferecem mais. O Siena EL é um carro que atende melhor a um público-alvo específico: famílias pequenas (em quantidade e em estatura) ou caixeiros viajantes, que não levam ninguém mas enchem o portamalas com tranqueiras para vender.