ALTA RODA, Fernando Calmon
No próximo
mês a indústria atingirá a produção de 20 milhões de veículos leves cujos
motores podem ser abastecidos indiferentemente com etanol ou gasolina. Mais
conhecidos como motores flex, em pouco mais de 10 anos (completados em março
último) conseguiram crescente aceitação. Hoje, respondem por cerca de 90% das
vendas de veículos leves com motores de ciclo Otto, inclusive de modelos de
origem sul-coreana e chinesa que tiveram desenvolvimento no exterior.
É preciso
lembrar que essa tecnologia chegou a ser ridicularizada no início, em 2003. No
entanto, ela veio para ficar e, aos poucos, superou problemas. Esta semana, a
Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) relembrou a trajetória de
sucesso dos motores flex. Um dos poucos exemplos em que o Brasil vem mostrando
competência em termos de pesquisa e inovação. Na sétima edição do Prêmio AEA de
Meio Ambiente, o trabalho acadêmico vencedor de Jorge Tenório (Universidade de
São Paulo) e Joner Alves (Aperam, ramo siderúrgico) tratou da geração de
energia a partir de resíduos da produção de etanol.
Combustível
e veículo se complementam. Motores flex nasceram para que os proprietários de
automóveis tivessem uma alternativa em função do preço de cada combustível nos
postos de abastecimento. Entretanto, há de se administrar previsíveis conflitos
de interesse entre a indústria petrolífera e a de biocombustíveis. Essa
arbitragem deveria caber ao mercado, mas não dá para deixar de reconhecer ou
abrir mão do papel dos governos. No caso do Brasil isso ocorre de forma
errática: hora estimula, hora desestimula a produção de etanol.
Como bem
lembrou o professor Francisco Nigro, em sua palestra durante a premiação
referida, se há objetivo sincero de redução de emissões de gás carbônico (CO2),
o biocombustível de cana-de-açúcar é imbatível. Para ele, faltam ações
coordenadoras ao governo brasileiro, participante do programa mundial de
limitação daquele gás de efeito estufa que provocaria mudanças climáticas. A
descoberta de petróleo na difícil camada pré-sal, muito abaixo do leito do
fundo do mar em águas profundas e longe da costa, levou a euforia e quase
descarte dos combustíveis renováveis.
Nigro
lembrou que a indústria precisa também avançar. Segundo suas pesquisas nos
dados disponíveis do programa de etiquetagem veicular, motores flexíveis ao
consumir etanol mostram, na média, deficiência de 2% em relação à gasolina,
especialmente no ciclo rodoviário. Tal desvantagem não é desprezível, pois se
trata de medição de eficiência energética, em quilojoules/km, que compensa a
diferença de poder calorífico entre os dois combustíveis. Lembra que se trata
de média e, assim, há motores melhores e piores.
Essa
situação, por informações de várias fontes, deve e vai mudar graças às metas
impostas no programa Inovar-Auto.
RODA
VIVA
CONFORME apurações, essa coluna antecipa que o Nissan
Note substituirá o Livina em janeiro de 2015, na nova fábrica da marca japonesa
em Resende (RJ). Desta unidade sairão antes o March, em janeiro de 2014 e o
Versa, em julho do mesmo ano, hoje importados do México. Os três modelos
compartilham a mesma arquitetura de veículo mundial compacto.
QUEDA nas importações e reação das
exportações levaram a indústria a bater recorde de produção mensal em maio:
348.000 unidades. No acumulado do ano, o crescimento – também recordista –
chega a quase 19%. Vendas no mercado interno continuam em bom patamar. Estoques
subiram para 36 dias, mas hoje nível entre 30 e 35 dias se considera normal.
AINDA no mês passado a indústria
registrou 153.708 empregados, mais 542 vagas. Em 1980, estavam empregadas
153.900 pessoas, em época de baixíssima automatização e poucas operações
terceirizadas. Depois de 33 anos, bastam apenas pouco menos de 200 novos
empregos diretos agora em junho para que o total de funcionários ultrapasse a
marca histórica.
VOLVO V40 deu um salto em estética e
tecnologia. Compacto da marca sueca, importado da Bélgica, é o primeiro
automóvel equipado opcionalmente com airbag de proteção a pedestre. Mostra estilo
arrojado, interior bem cuidado e itens encontrados, em geral, em modelos de
classe superior. Parte, completo, de R$ 115.900 e pode agregar três pacotes de
livre combinação.
MOTOR de cinco cilindros em linha/dois
litros/180 cv tem sonoridade próxima a de um venerável seis-cilindros em linha,
mas poderia oferecer potência maior, pois utiliza turbocompressor. Suspensões
independentes nas quatro rodas garantem comportamento seguro em curvas de
qualquer raio. Mas, agravado pelo uso de pneus de perfil baixo, não é das mais
silenciosas.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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