ALTA RODA, Fernando Calmon
Dessa vez, um
segredo bem guardado. Congelamento das alíquotas do IPI até 31 de dezembro –
cancela os dois aumentos previstos para abril e julho – foi anunciado durante
feriado da Páscoa. No momento, o governo está preocupado não apenas em sustentar
o crescimento no mercado de veículos, mas de tabela controlar reflexos na inflação.
Há especulações de que tal patamar de IPI poderia se manter indefinidamente,
sinalizando pequena mudança de rumo. Afinal, aqui estão os automóveis mais
taxados do mundo, em longa cadeia de impostos sobre impostos. Um dia, isso
teria de mudar.
Essa
reviravolta já mexeu nas previsões do setor para 2013. Cledorvino Belini,
presidente da Anfavea, acredita em vendas de 4% a 5% superiores em relação ao
ano passado (antes, de 3,5% a 4,5%). Ele fez a afirmação durante o IV Fórum da
Indústria Automobilística, em São Paulo, promovido essa semana em São Paulo pela
Automotive Business. Inovar-Auto, ambicioso regime revelado em setembro de 2012, ainda provoca muitas
dúvidas sobre o nível de avanço em tecnologia nos próximos cinco anos e dominou
os debates.
Como comentou
Stephan Keese, da consultoria Roland Berger, já foi dito no exterior que o
mercado brasileiro deve deflagrar uma nova “corrida do ouro”. Porém, ele
desconfia mais de uma corrida contra o tempo do que propriamente de resultados
financeiros, inclusive com risco de excesso de capacidade instalada. Prejuízo
estimado pela Ford na América do Sul (Brasil representa 60% das vendas), no
primeiro trimestre, pode chegar a US$ 300 milhões. GM também perdeu dinheiro na
região, ano passado.
No entanto,
um mercado entre cinco e seis milhões de unidades, até o final da década, se
tornará ainda mais disputado. Há sete novos fabricantes de veículos leves se
instalando no País até 2015, para totalizar 25, e não vai parar aí. Fábricas de
motores passarão de 13 para 18, incluindo a Fiat, em sua nova unidade
industrial em Pernambuco, e a Chery, que anunciou durante o Fórum. Hyundai
Brasil, em breve, também comunicará a produção de motores.
Para o
economista José Mendonça de Barros o consumidor deve esperar uma paulatina
queda real de preços dos carros novos (ou aumentos inferiores à taxa de
inflação para ser mais claro), acompanhado de desvalorização maior dos modelos usados.
Esse descolamento é irreversível em situações de crescimento firme do mercado e
continuará nos próximos anos.
Existe
preocupação do setor de autopeças quanto à regulamentação do conteúdo local,
adiada por mais dois meses pelo governo federal. Exigirá rastreabilidade do
país de origem das peças e incertezas de como será feito o controle na
Argentina, um vespeiro conhecido. Foi discutida a possibilidade de criar o
programa Inovar-Peças, simultâneo ao Inovar-Auto, que adicionaria novos níveis de
complexidade, apesar do potencial de desemperrar as coisas.
Falta
competitividade na indústria brasileira e o setor automobilístico não é
exceção. Paulo Butori, presidente do Sindipeças, colocou no rol dos problemas a
moeda valorizada. Para ele, sem resolver a questão será muito difícil avançar.
Exemplificou com o ramo de autopeças que passou de superavitário a deficitário
no comércio exterior, em meia dúzia de anos.
RODA
VIVA
SUBSIDIÁRIA da GM na Argentina
confirmou lançamento do SUV compacto Tracker, vindo do México, no terceiro trimestre
do ano. Jaime Ardila, presidente da empresa no Brasil e América do Sul, em
entrevista à TV a cabo Band News, de fim de noite, admitiu de forma indireta
que também chegará aqui até o fim do ano. E que um subcompacto está nos planos.
AUDI TT chega aos 15 anos e oferece
cada vez mais potência. RS tem motor de cinco cilindros, 2,5 L, e ronco quase
como um seis-cilindros em linha. Para guiar sem sustos, lidar com 340 cv e
torque assombroso de 45,9 kgf∙m, tração é nas quatro rodas. Estilo do cupê
compacto permanece fiel ao original, sem sinais de cansaço, um tanto raro, hoje.
MAIS atraente que o Cielo, compacto Chery
Celer foi finalmente colocado à venda. Marca chinesa demonstra que quando a
fábrica de Jacareí (SP) entregar as primeiras unidades, em um ano, terá produto
competitivo e segurança de conteúdo nacional. Em versões hatch (R$ 35.990) e
sedã (R$ 36.990), tem motor flex 1,5 L e pacote completo de equipamentos.
TELA multimídia de comando por toque
veio para ficar. Renault já a oferece para toda a linha Sandero/Logan, ao preço
em torno de R$ 600. Duster Techroad desbravou o interesse pelo equipamento (no
caso, de série), bem fácil de operar. Esse utilitário compacto, bom de guiar, mostra
limitações ergonômicas: perna esbarra na caixa de comando dos vidros elétricos.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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