ALTA RODA, Fernando Calmon
Conhecidos
os resultados consolidados da indústria automobilística em março, que a Anfavea
divulga todos os meses, poucos atentaram a um pormenor estatístico. Pela
primeira vez as quatro maiores marcas – Fiat, Ford, GM e VW – alcançaram 68,6%
dos automóveis e comerciais leves comercializados. Ou seja, ainda representam
pouco mais de dois terços das vendas, mas pela primeira vez abaixo de 70%.
Não é tão
incomum, em outros países, as quatro maiores marcas dominarem cerca de dois
terços do comércio interno, ao contrário do que muitos pensam. Japão e Índia
são dois exemplos. Ou seja, a concorrência aqui é feroz e as quatro maiores
tendem a perder participação de forma mais acelerada.
Esse surto
de novas marcas vem em razão do rápido crescimento das vendas no Brasil, quarto
maior mercado mundial e quase quatro milhões de unidades (com caminhões e
ônibus) ao fim de 2013. Isso significou lucros crescentes, mas desalinhados do
resto do mundo?
Segundo
Carlos Gomes, presidente da PSA Peugeot Citroën Brasil e América Latina, cerca
de 70 milhões de veículos leves produzidos no mundo, em 2012, deixaram lucro
aproximado de US$ 50 bilhões. Desse total, US$ 18 bi foram ganhos na América do
Norte; US$ 17 bi, na China; US$ 4 bi, na América Latina; US$ 2 bi, na Europa e US$
9 bi no resto do mundo. Nossa região representou 8% das vendas e 8% dos lucros.
América do Norte, 22% e 36%, respectivamente. Quem está mal mesmo é a Europa:
22% e apenas 4%.
Nos EUA há
grandes distorções. Picapes e SUVs (45% das vendas) lá são considerados caminhões
leves. Mas as margens são até quatro vezes maiores do que as de automóveis, o
que não se considerou em pesquisa atribuída à consultoria IHS e ao Sindipeças.
Pormenor: nos EUA não há importação de picapes pois o imposto tem alíquota de
25%, cerca de 10 vezes superior ao de automóveis, desproporcionalidade única no
mundo. Em carros ganha-se um tantinho e em picapes/SUVs, um tantão...
Outro estudo
recente, do Instituto de Planejamento Tributário, comparou preços com e sem
impostos de algumas mercadorias nos EUA, Itália e Brasil. Claro, aqui tudo
muito mais caro. Escolheram o Corolla entre os automóveis, mas só o
confrontaram com os EUA, alegando ser modelo indisponível na Itália. Poderiam
ter elegido o Focus, vendido nos três continentes. Será porque, sem impostos, a
diferença de preço é pequena, ao contrário dos itens pesquisados?
De qualquer
forma o cenário obrigará a diminuir a defasagem dos lançamentos, com impactos
sobre rentabilidade. O site inglês just-auto
chama a atenção de que mercados emergentes desejam comprar logo os carros
expostos todos os dias na internet. E citou o caso da Honda, que decidiu
descentralizar desenvolvimento e compras já a partir do novo Fit, abreviando seu
lançamento aqui, em 2014. Até afirmou que a filial duplicará o número de engenheiros
no País.
É o caso
também da Fiat. Em Pernambuco produzirá crossover utilitário e picape média
dele derivado já em 2015. Em 2016, versão utilitária para a marca Jeep e sedã
médio baseado no Dodge Dart/Fiat Viaggio. Para Minas Gerais, ficará o
subcompacto sucessor do Mille, em 2015. Tudo com forte participação técnica de
brasileiros para agilizar.
RODA
VIVA
DIMINUIÇÃO de importações e recuperação
de estoques fizeram do mês passado o melhor março da história: 319 mil unidades,
de todos os tipos, produzidas. No primeiro trimestre a recuperação da produção,
em relação a 2012, foi de 12%. Até dezembro, Anfavea espera que as fábricas produzam
mais 4,5% sobre 2012, apesar de exportações fracas.
QUANTO às vendas, o presidente da
associação (em fim de mandato), Cledorvino Belini, acredita que o ano será bom.
Mas preferiu manter, por enquanto, previsão de crescimento de 3,5% a 4,5%,
mesmo com dois aumentos de IPI cancelados até o fim do ano. Chegou a admitir 5%
de avanço em 2013. Comportamento do PIB será decisivo para os resultados.
MERCEDES-BENZ deu uma guinada com novo
Classe A, em versões de R$ 99.900 e R$ 109.900. De pequeno monovolume passou a
hatch de estilo arrojado e coeficiente aerodinâmico dos melhores (Cx de 0,27).
Interior cresceu: entre-eixos generoso de 2,69 m. Bancos dianteiros de encosto
alto e alavanca seletora de câmbio na coluna de direção agradam.
MOTOR turbo 1,6 L/156 cv tem ótimo torque
de 25,5 kgf∙m, entre 1.250 e 4.000 rpm. Casa à perfeição com câmbio
automatizado de dupla embreagem, sete marchas. Interessante função aciona o
freio de estacionamento ao se pisar com firmeza o pedal de freio, quando em
marcha-lenta. Faltam GPS e faróis de neblina, justo na versão mais cara (de
série, na de entrada).
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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