RENAULT MÉGANE GRAND TOUR x VW SPACEFOX

Recentemente, a Renault divulgou os preços do sedã Fluence, seu lançamento mais recente, que aposentou o Mégane Sedan. Mas a boa notícia para os admiradores do modelo é que a perua Grand Tour – que sempre foi considerada mais bonita e equilibrada que o sedã – continua em produção. E não pára por aí: a marca francesa, numa estratégia ousada e muito vantajosa para o consumidor, a reposicionou no mercado, baixando seu preço para R$ 48.490,00 – ou R$ 49.380,00 com pintura metálica, único opcional disponível.

Com este preço, a GT passa a concorrer com peruas e minivans pequenas do mercado. Bem, as minivans são concorrentes só até certo ponto; elas atendem a outro tipo de consumidor, o que elimina a possibilidade de canibalização em relação à Nissan Livina, por exemplo. Já a Fiat Palio Weekend Trekking está defasada e espera por sua nova versão, enquanto a Peugeot 207 SW, pequena para passageiros e bagagem, atrai mais pela esportividade. Assim, fica fácil deduzir que o principal alvo da GT é a SpaceFox, que seduz os compradores pelos mesmos motivos: espaço para a família, boa dirigibilidade, bom pacote de equipamentos e design atraente – e por isso incluída neste comparativo.

Não há mais a opção do motor 2.0 para a Mégane Grand Tour. Agora ela vem em versão única, Dynamique, com o já conhecido motor 1.6 16v que gera  até 115 cv e 16 kgfm de torque a 3.750 rpm. Se ele não torna a perua uma referência em desempenho, pelo menos é suficiente para uma condução segura. Aliás, ela é mais ágil do que se pensa, considerando o seu porte. O rodar é macio, a suspensão filtra muito bem as irregularidades do piso e o motor gira suave, como é típico dos multivalvulados da Renault. Graças às boas dimensões (1,46 de altura, 1,77 de largura e 2,68 de entreeixos), quem viaja nela pode aproveitar essas vantagens com muito mais folga. O espaço interno é excelente na frente e atrás, e o portamalas não fica atrás: 520 litros até a altura dos vidros.

A SpaceFox deriva de um carro pequeno, mas nem por isso trata mal seus ocupantes. Ela aproveita as boas soluções de espaço interno do Fox, cujo perfil fica no meio-termo entre hatch e minivan. Assim, ainda que tenha 11 cm a menos de largura e 22 cm a menos de entreeixos, ela é 8 cm mais alta que a GT e isso faz com que ninguém ali passe aperto – nem a bagagem. O portamalas pode variar entre 460 e 527 litros com o banco traseiro deslocado, mas o aumento da capacidade implica na redução drástica do espaço atrás. O motor é o mesmo VHT 1.6 8v de sempre, que gera até 104 cv de potência e bons 15,6 kgfm de torque a baixas 2.500 rpm. Com o baixo peso, o câmbio curto e a suspensão durinha, a agilidade e o perfil esportivo estão garantidos. Mas isso tem um preço: o conforto. Qualquer imperfeição do asfalto é imediatamente comunicada e qualquer curva feita com mais pressa vai jogar os passageiros do banco de trás de um lado para outro (na frente, os bancos seguram bem). O nível de ruído também contribui para que ninguém durma: o motor é áspero e o isolamento acústico é um pouco pior que no modelo da Renault.

Ambas são muito bem acabadas, mas seguem escolas diferentes. A renovação da SpaceFox consertou as deficiências da versão anterior, e o resultado é a sensação de estar num modelo de categoria superior. Todas as superfícies são agradáveis ao toque e todas as peças são bem montadas. O interior monocromático, longe de ser um problema, é sóbrio e típico de todo carro da VW, e mesmo assim não deixa de ser jovial. O tecido dos bancos é inferior ao veludo da Renault, mas agrada. A posição de dirigir é a única coisa que causa estranheza: alta, pode gerar insegurança em quem procura a esportividade que o modelo oferece. A ergonomia, porém, é perfeita.

A Mégane Grand Tour sempre foi bem acabada, e mesmo reposicionada não perdeu essa característica. O console central prateado, os aros cromados em torno dos mostradores do painel e o revestimento em couro do volante e da alavanca de câmbio cuidam de quebrar a monotonia e trazer um ar luxuoso à cabine, enquanto os elementos circulares ainda trazem jovialidade. Os bancos forrados de veludo são muito confortáveis, mas os da SpaceFox, paradoxalmente, seguram melhor o motorista nas curvas. E mesmo o que não é mais novidade – manete do freio de mão em forma de manche, chave-cartão e botão para a partida – ainda permanece inédito no segmento, sempre surpreendendo a quem dirige o carro pela primeira vez. A ergonomia é igualmente muito boa.

Mas o que certamente vai chamar a atenção do consumidor para a GT é o custo x benefício. Anote: ar condicionado digital, direção elétrica, faróis de neblina, vidros elétricos one-touch nas 4 portas com antiesmagamento, travas e retrovisores elétricos, portaluvas refrigerado, volante com regulagem de altura e profundidade, banco do motorista com regulagem de altura, sensores crepuscular e de chuva, rodas de alumínio aro 16, cintos de 3 pontos para todos os ocupantes, CD player com MP3 e controles na coluna de direção, computador de bordo, alarme, alertas sonoros para luzes acesas, cintos de segurança desafivelados e portas abertas, ABS com EBD e airbag duplo. Tudo isso pelo preço que já foi citado – R$ 48.490,00, fora a pintura metálica. São 300 reais menos que os R$ 48.790,00 da versão básica da SpaceFox, que só traz ar condicionado analógico, direção hidráulica, vidros elétricos com antiesmagamento e travas elétricas. Para deixar a perua da VW com o mesmo nível de equipamentos, ou o comprador paga mais R$ 8.290,00 para rechear a versão 1.6 (elevando seu preço a R$ 56.780,00) ou leva a versão Sportline, que custa R$ R$ 57.070,00 com o que a VW chama de “Módulo Flexibilidade” e “Módulo CD Player”, mais uns penduricalhos aqui e ali.

Quem vê carro como investimento, não quer perder muito na revenda, gosta de esportividade e quer ter um modelo atualizado na garagem, certamente não vai se importar em pagar mais pela SpaceFox, que é um bom carro e entrega diversão, desempenho e conforto suficientes. Mas na comparação com a Mégane Grand Tour, convenhamos, ela levou uma surra. Ainda bonita, bem maior, com dirigibilidade de carro médio e muito barata pelo que oferece, ela se mostrou bem superior à rival. Tomara que os consumidores vejam isso e que a Renault saiba vendê-la no tempo que lhe resta no mercado.