ALTA RODA - Fernando Calmon
Houve um tempo em que o total de fabricantes aqui instalados tinha um lançamento a cada dois anos. Agora, podem surgir dois modelos inteiramente novos na mesma semana. Aliás, separados por 24 horas: Chevrolet Cobalt e novo Fiat Palio.
A fábrica de Betim (MG) mudou bastante um carro que, em 15 anos, apresentou mais baixos do que altos, apesar de 2,5 milhões de unidades vendidas. Mais de 3.200 componentes novos, interior totalmente refeito com maior espaço para todos os passageiros (volume interno quase 10% maior), estilo harmonioso, mais equipado e preço muito competitivo, partindo de R$ 30.990, ou seja, sem reajuste na versão de entrada. Aumentando a distância entre-eixos em 5 cm, a altura em 6 cm e a largura em 3 cm a Fiat tem como alvo preferencial, entre vários, o Fox com seu perfil alto. Só o volume do porta-malas se manteve: 290 litros.
Estratégia de oferecer três motores (1,0/75 cv; 1,4/88 cv e 1,6/117 cv), três versões de acabamento (Attractive, Essence e Sporting), além de manter o Palio Fire (sem mudanças desde 2003), demonstra que a amplitude do ataque será grande. Attractive 1,4, a partir de R$ 34.290 e adicionando vários opcionais, fica mais caro apenas que o atual preço do chinês J3 (R$ 37.990), sem o reajuste do IPI adiado para dezembro próximo.
Com 1.007 kg de peso, motor 1,4 fica justo, mas sua potência específica não se destaca. Motor menor é fraco para o carro, ao contrário do 1,6, só alegria (Sporting tem diferencial mais curto, só que a diferença pouco se nota por ser mais equipado e de maior massa). Suspensões, agora, estão sutilmente mais firmes, subindo um degrau em dirigibilidade. Pontos fracos: ausência de lanterna traseira de neblina e diâmetro pequeno de velocímetro e conta-giros.
Com o sedã Cobalt a Chevrolet embarcou no conceito cheap space (tradução livre: mais espaço, preço menor). Pioneiro foi o Renault Logan, seguido pelo Nissan Versa. E o grande apelo do novo carro é justamente esse: 2,62 m de entre-eixos (só um cm menos que o Logan) e 1,74 m de largura (igual ao romeno), o que permite volume interno 7% maior que Astra sedã e 4% que o último Vectra. Porta-malas surpreende: 563 litros, maior que muitos modelos grandes. Dimensões de segmento C, porém ao preço de B, pois começa em R$ 39.980 (LT) e chega a R$ 45.980,00 (LTZ).
Para operar esse “milagre” torna-se necessário partir de nova arquitetura simplificada e flexível. Cobalt, embora desenhado e desenvolvido no Brasil, baseia-se no projeto Aveo/Sonic de origem sul-coreana. O carro será vendido em 40 países cujo poder aquisitivo afasta-se de Europa Ocidental, EUA e Japão. Abrir portas amplas e verificar que motorista e acompanhante têm liberdade de movimentos é bem agradável. Atrás, ótimo espaço para as pernas. Suspensões muito bem acertadas se destacam. Motor 1.4/102 cv vai bem, porém insuficiente quando totalmente carregado. Melhorou o manuseio da caixa manual. Em abril do próximo ano virá motor 1.8/114 cv e câmbio automático 6-marchas.
Estilo não é seu ponto forte, porém menos polêmico que o Agile. A favor, painel, quadro de instrumentos e volante. Aspectos negativos: visibilidade traseira em razão da tampa alta do porta-malas e estepe de uso temporário (explica, em parte, o volume útil para bagagem).
RODA VIVA
TANTO Anfavea como Fenabrave mantêm a previsão de 2011 fechar com 3,69 milhões de unidades comercializadas, incluindo caminhões e ônibus. Não se assustam com os 40 dias de estoque (normal, 30). Atribuem o tropeço em outubro (menos 10% em relação a setembro) ao menor número de dias úteis, ao noticiário econômico negativo e ao imbróglio do IPI.
TOYOTA deu uma arrumada no visual de sua linha Hilux de picapes médias a diesel, lançada como ano-modelo 2012. Nada de profundo, mas o resultado alcançado é razoável. No interior, menos mudanças. Destaque para tela de LCD no centro do painel, mas, estranhamente, não há opção de navegador GPS. Na parte mecânica, a única novidade ficou para abril próximo: motor V-6 flex de 163 cv, no lugar do atual a gasolina. Preços de R$ 85.690 (cabine simples) a R$ 141.920 (cabine dupla).
UTILITÁRIO esporte SW4 recebeu as mesmas modificações estéticas da Hilux. Molduras dos para-lamas mais encorpados têm estética melhor no SUV. Passa a oferecer, de novo, opção de cinco e sete lugares. Dirigibilidade é melhor que na picape e inclui, como esta, controle de trajetória (ESC). Interior sente o peso dos anos. Nível de ruído podia melhorar se o câmbio automático tivesse mais de quatro marchas. Custa R$ 170.400, mais R$ 4.500, com sete lugares. Gasolina: R$ 157.000.
BEM que a Fiat queria. Acabou desistindo de tentar enquadrar os produtos Chrysler vindos do México (crossover Journey e picape pesada Ram) sem o aumento de 30 pontos percentuais no IPI. As duas empresas formam um mesmo grupo. Entretanto, a marca americana, apesar de duas tentativas anteriores, não possui nenhuma atividade fabril no Brasil. Por enquanto...
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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