ALTA RODA, Fernando Calmon
Depois de analisar as possibilidades de aumento da taxa de motorização da população brasileira para os próximos 20 anos, que se concentrará em cidades pequenas e médias, a Coluna se volta às preocupações de curto prazo. No final da semana passada, entraram em vigor as regras que aceleram a retomada de veículos por falta de pagamento. À primeira vista, como os calotes representam hoje 4,4% dos financiamentos, não parece importante, mas é. Afinal, 50% de todas as vendas são intermediadas por bancos (outros 10% por consórcios e até 10% em curto prazo pelas lojas).
O problema é o alto custo de recuperação dos bens por si só de valores elevados. Leva tempo, passa por etapas judiciais e muitas vezes os carros vinham com dívidas de impostos, multas e ainda desvalorizados por falta de manutenção. A nova lei pode encurtar o processo de um ano (após seu início) para três meses. Por consequência, deve ocorrer maior liberação de crédito e numa segunda etapa até redução dos juros pela diminuição dos riscos operacionais.
Na avaliação da Fenabrave, até 30.000 carros por mês poderão agora obter parcelamentos, antes negados por falta de garantias. Anfavea acredita que já em dezembro haverá reflexos nas vendas e ajudaria a mitigar os números bem negativos deste ano, previstos em menos 10% sobre 2013. Um fator de antecipação de compras seria o IPI maior a partir de 1o de janeiro próximo. Se o governo decidir voltar à alíquota cheia, terminaria o compromisso de manter empregos por parte da indústria. Escalonado o aumento mais uma vez, só haveria demissões voluntárias como ocorre agora.
Por tudo isso fica difícil fazer previsões para 2015. Na dúvida, a maioria dos analistas prevê que o próximo ano terá crescimento zero de vendas e recuperação mesmo só em 2016. Com certeza comprometerá algumas expectativas mais otimistas para esta década, porém não retirou ânimo de quem decidiu investir conforme se observou no seminário Direções, da Quatro Rodas, realizado nesta segunda-feira em São Paulo.
Para Jörg Hofmann, presidente da Audi, apenas 2% do mercado brasileiro se concentra em marcas premium ou de valores elevados. Com poder aquisitivo em elevação e o estímulo da produção local nada impediria o percentual saltar para 5%, como hoje na Austrália. Na China é 9%, nos EUA, 10% e na Alemanha, 13% puxado por vendas corporativas. No Brasil, a premiação de altos funcionários com o uso de veículos caros está em ascensão, embora possa haver diferenças culturais entre São Paulo e Rio de Janeiro apontadas em debates no evento.
No outro extremo, Luis Curi, da Chery, destacou a aposta das marcas chinesas no peso próprio do País e sua influência nos países vizinhos. Lembrou da transição das motos para automóveis na China e que toma corpo aqui. E Sérgio Ferreira, da FCA, apontou o desafio vencido de implantar uma fábrica Jeep no Brasil, longe dos grandes centros fornecedores e consumidores.
A estratégia do grupo ítalo-americano se alinha à forte aceitação dos SUVs e, em particular, das suas alternativas compactas. Continuarão a avançar sobre stations, monovolumes e, de acordo com os debatedores, incomodarão até sedãs em razão dos estreantes Renegade, HR-V e 2008 em 2015.
RODA VIVA
LEITORES perguntam por que os números da frota registrada pelo Denatran e Detrans não são confiáveis. Simplesmente porque, ao contrário do controle total sobre veículos novos, os antigos que já não rodam são abandonados sem baixa oficial nos registros. Isso se dá pela burocracia e altos custos para os proprietários. Problema que se acumula há anos sem sinal de solução.
RENAULT rejuvenesceu o Fluence para manter capacidade de competir no segmento de sedãs médios-compactos que representam 8% do mercado, mas têm oferta altamente diversificada: uma dúzia de opções. Parte frontal segue a linguagem estilística da marca e LEDs estão nas lanternas traseiras. Quadro de instrumentos digital, novo sistema multimídia e travamento automático das portas com chave no bolso completam o modelo, sem alterações mecânicas e de preços: R$ 66.890 a 82.900.
OUTRO a entrar na onda aventureira, o Chevrolet Spin Activ, apenas na versão de cinco lugares, marca o visual pelo estepe fixado na porta traseira que ainda atrai por aqui, mas cai em desuso no exterior. Sensor de distância traseiro é de série, o que diminui a possibilidade de o pneu protuberante danificar outros carros em manobras. Dinâmica do Spin não se alterou pelos bons ajustes de suspensão, mas 60 kg acrescentados em razão do suporte do estepe já se sentem no desempenho.
REALMENTE o termo Active está na moda. ActiveFlex, na BMW; Nissan March Active (carroceria da geração anterior agora de volta com mais equipamentos a preço mais baixo) e o Spin Activ (apenas sem a letra “e” final). Os dois últimos lançados no mesmo dia (Spin já estava no Salão do Automóvel, mês passado). Todos registrados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Como pode?
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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