Reportagem: Maximiliano Moraes
Fotos: Maximiliano Moraes / Divulgação
Desde quarta-feira última (15/03) a Nissan vem organizando eventos para anunciar o lançamento oficial da nova Frontier 2017. A picape já está sendo oferecida na rede de concessionárias em versão única, LE (topo-de-linha), e chega ao país por meio de importação do México, onde é fabricada. Segundo a Nissan outras versões serão oferecidas para o mercado brasileiro quando ela passar a ser produzida na Argentina; isso deve acontecer a partir do próximo ano.
A nova Frontier à frente e, ao lado, a antiga |
O design mudou radicalmente. O desenho quadradão deu lugar a linhas mais fluidas, com vincos que começam nos faróis e terminam nas portas dianteiras, e outros que percorrem toda a lateral da caçamba. O capô recebeu ressaltos nas laterais e, com isso, uma aparência muito mais muscular e robusta. Os faróis foram espichados para as laterais e ganharam DRLs e leds nas luzes principais, enquanto a grade, ainda enorme e cromada, foi atualizada para ressaltar o motivo em V que é identidade da marca. O mesmo motivo foi repetido em baixo relevo no centro da tampa da caçamba, tendo logo acima outro vinco que começa na parte inferior das lanternas, circulando-as e indo de um lado a outro fazendo as vezes de aerofólio. As rodas têm aro de 16 polegadas e desenho simples; parecem pequenas demais para o tamanho da picape. Segundo a Nissan essa foi a solução mais adequada de acordo com as pesquisas e os testes de rodagem realizados no período de desenvolvimento da Frontier, já que permite o uso de pneus maiores de uso misto com o compromisso ideal entre boa aderência em pisos ruins e maciez durante o rodar em pistas pavimentadas.
O interior também evoluiu. A Nissan investiu pesado em tecnologia para a Nova Frontier e isso é visível na cabine. O painel é permanentemente iluminado e conta com uma tela de TFT entre os instrumentos, com a mesma definição encontrada no Kicks e no Sentra. A central multimídia Multi-App com tela de 6,2 polegadas é a mais completa do segmento, permitindo interatividade entre o carro e o smartphone sem necessidade de espelhamento, além de contar com acesso à Internet (por meio da contratação de pacotes ou roteamento com o smartphone), uso de aplicativos, GPS com atualização pela Internet, áudio via streaming, arquivos digitais, conexão com iPod, rádio ou CD, visualização de fotos e vídeos (digitais ou em DVD), e ainda imagens da câmera de ré.
O volante multifuncional traz todos os comandos que o motorista precisa: para acessar o computador de bordo, para comandar o cruise-control, para atender ao celular ou para controlar o volume do áudio. A partida do motor é feita por botão. O ar condicionado ganhou sistema dual-zone com saídas para o banco traseiro. Falando em bancos, todos agora têm tecnologia Zero Gravity, que amplia o nível de conforto e reduz o cansaço em viagens, além de serem revestidos em couro. Os dianteiros têm aquecimento e o do motorista, regulagens elétricas de distância, regulagem do encosto, altura do assento (frontal e próximo ao encosto) e lombar. Há ainda 3 tomadas de 12v disponíveis para os ocupantes.
Caçamba tem agora alças móveis para fixação de cargas |
Há vários aspectos, porém, que não gostamos. A Nissan preferiu manter a assistência hidráulica para a direção, boa na estrada mas um pouco pesada em manobras. Pensando no aumento do uso urbano de picapes médias pelos consumidores, poderia ser elétrica. O espaço para pernas no banco de trás é bom, mas o assoalho alto obriga os joelhos a ficarem muito altos e sem apoio para as coxas, tornando as viagens um pouco cansativas para quem vai atrás. Além do mais o passageiro do meio ali não conta com apoio de cabeça nem cinto de 3 pontos. A montagem da cabine é boa, mas o uso de plásticos é exagerado e não há nenhuma superfície macia ao toque. Como ocorre com outros modelos da marca, a Nissan deixou passar o one-touch para os comandos para os vidros elétricos. Só o do motorista tem, e só para descer. Airbags só há 2, os obrigatórios por lei. Retrovisor interno eletrocrômico? Esqueça. Para não ter a vista ofuscada puxe a arcaica lingueta para baixo.
Espaço na frente é bom, mas... |
...ocupantes de trás lidam com assoalho alto e o do meio não tem encosto de cabeça nem cinto de 3 pontos |
Duas novidades da Nova Frontier chamaram a atenção. A primeira é um botão à esquerda do volante que permite a regeneração do filtro particulado de diesel. A limpeza do filtro é necessária como parte da manutenção periódica, já que o item, que vem sempre depois do catalisador, serve para segurar as partículas características de motores a diesel e que poderiam poluir ainda mais o meio-ambiente. Outra nova feature são as alças móveis da caçamba, que correm sobre trilhos e facilitam seu posicionamento para a amarração de cargas. A caçamba, aliás, conta também com uma tomada de 12v à esquerda.
Novo motor faz a diferença
Em conversa informal durante o evento de lançamento a engenharia da Nissan nos disse que o novo motor 2.3 biturbo eletrônico com injeção direta e intercooler é um projeto novo, mas conta com tecnologia e vários componentes de motores a diesel utilizados em modelos Renault na Europa. Previsível, pela aliança da japonesa com a francesa. Fato é que o propulsor, que produz 190 cv e 45,9 kgfm a 2.500 rpm, dá à Nova Frontier desempenho notável no off-road e bastante satisfatório na estrada.
Motor 2.3 biturbo eletrônico tem injeção direta e intercooler, e rende 190 cv com 45,9 kgfm de torque |
Parte do mérito vai para o câmbio automático de 7 marchas, com a primeira bastante reduzida. Falando nisso o sistema de tração conta com acionamento por botão no painel, sendo possível engatar o 4x4 em velocidades até 100 km/h. A reduzida, por sua vez, só pode ser engatada com o carro parado e o câmbio em neutro. A Frontier conta ainda com bloqueio do diferencial traseiro com limitador (LSD), controle automático de descida, auxílio de partida em rampas, controles de tração e estabilidade.
Primeiras impressões
O trajeto off-road criado pela Nissan no Haras Tuiuti deu o tom do desafio: subidas e descidas íngremes, "caixa-de-ovos", pista de pedras, facões e paredões para testar a rigidez torcional do conjunto, o ângulo de inclinação e o curso da suspensão, além, claro, de toda a capacidade do sistema de tração 4x4 e do motor. Só faltou um atoleiro, mas a julgar pela desenvoltura da Frontier isso também seria fichinha. A força do motor e o ótimo acerto deste com o câmbio fez a Frontier encarar todos os obstáculos com muita facilidade, fazendo valer também a eletrônica embarcada para garantir a segurança dos ocupantes.
Surpreendeu positivamente o trabalho da marca na nova suspensão da picape. A traseira ganhou sistema multilink com molas helicoidais e eixo rígido, o que simplificou a manutenção, aumentou a robustez do conjunto, manteve a capacidade de carga e, o melhor de tudo, trouxe um nível de conforto que a Frontier não tinha. O chassi reforçado merece parte do crédito por isso: feito com uma peça de aço reforçado, 8 barras transversais e uma solução chamada de "Duplo C" - outro chassi sobreposto por dentro com soldas contínuas, ele teve sua rigidez aumentada, segundo a Nissan, em 4 vezes.
Versão LE é a única disponível para o mercado nacional por enquanto e vem do México |
Tanto no trecho chamado de "caixa-de-ovos", com valas dispostas sequencialmente, quanto na pista de pedras foi possível avaliar muito bem a suspensão da Frontier em terreno acidentado. Apesar de a marca afirmar categoricamente que o foco desta nova geração não foi a "gourmetização" da picape, transformando sua dirigibilidade em algo semelhante à de um carro de passeio, o nível de conforto aumentou bastante.
Isso pôde ser comprovado no trecho de volta, entre o Haras Tuiuti e a cidade de Paulínia, no interior de São Paulo. O que a Frontier consegue fazer em curvas pode surpreender até quem está acostumado com sedãs. É previsível, pelo centro de gravidade elevado, alguma oscilação lateral, mas em relação ao modelo anterior a evolução foi absurda. Sabendo hoje como se comportam as principais concorrentes, a dirigibilidade da Nova Frontier não deixa a desejar em nada. Talvez o nível de ruído pudesse ser menor, ainda que não chegue a incomodar o usuário comum de uma picape a diesel.
Falando em concorrência, a estratégia de preços da Nissan também surpreendeu. Chegando ao Brasil, por enquanto, em versão única importada do México, ela chega sem opcionais (mas com vários acessórios disponíveis nas concessionárias) com o menor preço do segmento: R$ 166.700,00. A título de comparação, por ordem crescente, a VW Amarok Highline custa R$ 167.990,00, a Mitsubishi L200 Triton Sport com pacote FTP custa R$ 174.990,00, a Chevrolet S10 High Country custa R$ 175.990,00, a Ford Ranger Limited custa R$ 185.190,00 e a sempre cara Toyota Hilux SRX não sai por menos que R$ 189.970,00.
Há que se considerar os equipamentos ausentes para quem vê picape não só como veículo de trabalho, mas como carro de passeio. A Frontier compensa com eletrônica embarcada, grande capacidade off-road, bom desempenho e dirigibilidade melhorada. É colocar na ponta do lápis o que é mais importante antes de fechar negócio. Para nós, apesar de confortável, ela não é a melhor picape para ambientes urbanos mas é uma das melhores para quem quer uma picape de verdade. Vale o investimento.
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