sábado, 29 de maio de 2010

NOVO FIAT UNO






O Brasil é um país muito peculiar no que diz respeito à sua cultura automotiva. Não deixa de ser sempre surpreendente a constatação dos motivos que levam a maioria dos consumidores a optar pelos líderes de cada segmento. Porém, ainda que a fama do carro e a confiança na marca sejam motivos fortes para se escolher um carro por aqui, o ciclo de renovação de nossa frota costuma ser muitíssimo longo, mais que o razoável. Vamos combinar que, se o ciclo fosse mais curto, ninguém ficaria triste. Todo carro merece uma renovação.












E falando em renovação, a bola da vez é o Uno, um dos “jurássicos” de nosso mercado, nascido Uno, rebatizado como Uno Mille e outra vez como Mille, que vendia (e ainda vende) como pão quente mas já merecia uma repaginada completa. Foi o que a Fiat fez: de qualquer ângulo que se olhe, não há um item sequer compartilhado com a velha “botinha ortopédica – ainda que suas linhas, de forma geral, remetam ao primeiro modelo, num resultado denominado pela própria marca como “quadrado arredondado”. Há quem tenha detestado a falsa grade dianteira (os quadradinhos à esquerda), bem como quem tenha achado as rodas pequenas demais para as caixas ou os faróis grandes demais em relação ao todo. Por outro lado, há quem tenha enxergado no novo Uno o must da modernidade, da beleza ou da inovação em design. O que dá pra dizer é que, no mínimo, ele ficou bastante interessante.
















Mas beleza não põe mesa; o que importa é saber se o novo Uno é um bom produto. E a lógica diz que uma boa análise começa a partir da acomodação ao volante. Com isso vieram 2 boas surpresas e a primeira decepção. Uma das surpresas foi ver como as portas fecham bem, sem esforço e sem aquele barulho de metal contra metal bem característico do Mille. Não chega a ser abafado como um Corolla, mas fica no mesmo nível do Punto – e isso mostra preocupação com a qualidade de construção. A outra foi a boa impressão em relação ao acabamento e ao layout da cabine, especialmente do novo painel de instrumentos à la Fiat 500. Já a decepção foi constatar como o novo Uno é apertado, pelo menos para motoristas mais altos. O problema não é o espaço para a cabeça, bastante suficiente, mas sim a posição do banco – que não chega tanto para trás quanto esperei – e do volante – que se não tiver ajuste de altura vai massacrar as pernas. Nem descendo o encosto consegui ficar confortável. E isso mostra que o Uno não é carro para gente grande, no sentido mais literal da palavra.















Atrás, por incrível que pareça, me acomodei melhor que na frente. Mas, claro, ele não é lá uma Brastemp. O espaço é razoável, no mesmo nível do velho Mille – em que pese a pouca distância entreeixos, de 2,38 metros. Pelo menos ele é alto e, em tese, tem boa largura útil para um compacto (o Ford Ka tem exatamente a mesma largura – 1,64m –, mas o formato de caixote do Uno faz o interior ser mais bem aproveitado). O portamalas está na média, com 280 litros (ou 290, se você regular o encosto do banco traseiro na posição mais vertical).

Mal acomodado ou não, fui para o test-drive. Outra vez, uma surpresa e uma decepção. A surpresa foi a versão 1.4 Attractive, e a decepção foi a 1.0 Vivace. Infelizmente a loja não tinha nenhuma unidade do Way, 1.0 ou 1.4; fica para uma próxima reportagem. Mas vamos aos fatos.














Todo mundo sabe que, hoje em dia, 88 cv e 12,5 kgfm de torque num motor 1.4 é pouco. O 1.4 do Agile, por exemplo, rende 102 cv e tem 1 kgfm a mais de torque. Mas pouca potência nem sempre é ruim, se o carro for leve – é o caso do Uno. São somente 925 kg distribuídos num corpo pequeno, e isso traduz-se em agilidade. No comparativo da Quatro Rodas de Junho entre Agile e Uno, o Fiat saiu-se melhor em aceleração e retomadas, e isso acaba de vez com a fama de lerdeza dos motores 1.4 da Fiat. Aliás, não somente lerdeza, mas aspereza também. O novo Uno 1.4 é bem mais suave em funcionamento e o nível de ruído é aceitável para o segmento. Mas o 1.0...














Ok, ele não estava amaciado. Tinha mil e poucos km marcados no hodômetro. Mesmo assim, conhecendo a agilidade do Mille em arrancadas e retomadas, foi impossível não ficar frustrado com a falta de disposição do novo motor. Tendo como comprovação técnica a marca obtida no teste da Quatro Rodas, de 17,1 segundos da imobilidade até 100 km/h, fica fácil constatar que ele é lerdinho, mesmo. Carros mais antigos, como os GM Celta, Prisma e Classic, e ainda o novo Gol (sem falar no próprio antecessor, o Mille) fazem o mesmo em menos de 15 segundos. Ao menos ele é, assim como seu irmão com motor maior, gostoso de dirigir (pessoas de menor estatura o acharão melhor ainda). Seu acerto de suspensão fica num meio-termo entre Palio e Mille. É confortável, mas nem de longe lembra o Palio, que sempre achei molenga demais. Ficou estável sem ser duro e confortável sem ser mole. Well done, Fiat.
















Em equipamentos, ele dá um banho na concorrência. Não necessariamente nos equipamentos de série, mas na possibilidade de personalização. Nenhum carro do segmento dos subcompactos jamais apresentou tamanha variação entre itens de conforto, tecnológicos, de design e de segurança. Neste aspecto ele está mais para o Fiat 500, o que é ótimo. Mas calma, tudo tem seu preço. A versão mais em conta é a Vivace 1.0, que sai, no site da Fiat, por R$ 27.350,00 e traz de série o essencial e mais porta-objetos nas portas dianteiras, apoios de cabeça traseiros, banco traseiro rebatível e com 2 posições para o encosto, econômetro e Fiat Code. Os cintos traseiros são de 3 pontos, mas fixos (o central é abdominal). Parachoques, maçanetas e capas de retrovisores são cinzas. E as rodas são aro 13.
















Subindo um pouco na hierarquia, temos o Way 1.0, que tem a mais todo o preparo estético da versão e ainda porta-revistas nos encostos dos bancos dianteiros e rodas de 14 polegadas com pneus 175/65, por R$ 28.490,00. A versão Attractive 1.4 sai por R$ 31.080,00 e traz a mais, de série, apoio para o pé esquerdo, cintos traseiros laterais retráteis de 3 pontos, abertura interna de tanque e portamalas, console no teto, contagiros, espelhos nos dois para-sóis, porta-óculos, lavador e limpador do vidro traseiro e portaluvas iluminado. Por último – a mais cara de todas – vem a Way 1.4, que custa R$ 31.870,00 e traz a mais nada além da estética da versão e pneus de uso misto.














Os preços das versões básicas até se equiparam com os de seus concorrentes. Mas o problema está justamente naquilo que é o diferencial: a personalização. Para deixar, por exemplo, o Vivace 1.0 bem bonitinho, com parachoques e maçanetas pintados, rodas com aro 14 e mais ar, direção, vidros e travas, você pula do preço inicial para R$ 32.880,00. Até aí tudo bem, porque outros subcompactos equipados também custam isso. Só não dá para engolir o preço de R$ 40.549,00 (sem contar acessórios) da versão Attractive completa e absurdos R$ 42.369,00 pela Way completa. Ainda que venha recheado de equipamentos, fica difícil pensar num modelo pequeno com preço de hatches compactos premium mais espaçosos, potentes e praticamente com o mesmo nível de equipamentos.














Mas voltemos à idéia da personalização. Certo, o preço de certas versões não compensa; contudo, a iniciativa sim. Basta pensar nisso como um diferencial do modelo, não como algo que vá ser adquirido por todos. O maior mérito da Fiat está no fato de oferecer um carro que, vez ou outra, vai ser adquirido completo, talvez cheio de acessórios, mas que, nesta configuração, será certamente visto como um carro de imagem. E que outra montadora tem em seu portfólio um carro subcompacto de imagem? Some a isso o fato de o Uno ter histórico de confiabilidade, ser bem acabado, gostoso de dirigir, econômico (média de 8,4 km/l na cidade e 11,5 na estrada, com álcool) e, apesar de isso ser critério subjetivo, bonitinho. Está aí a receita do sucesso. Se cuida, Gol.

7 comentários:

  1. Eu não sei qual era o problema do Uno da 4R, mas todas as publicações (inclusive a mesma 4R no mês passado) disseram que o 1.0 era esperto e em determinados momentos, parecia até mais disposto até que o 1.4 (calibrado para a economia), nos testes da Auto Esporte, o Uno 1.0 foi melhor que o Gol G5 em todos os testes de desempenho e consumo.
    Eu acho melhor aguardar um pouco mais antes de qualquer conclusão, no primeiro teste do Gol G5 a mesma 4R disse que o Gol 1.0 bebia mais que o 1.6

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  2. Realmente, pode ser que os carros à disposição para o test-drive (e o cedido para a revista Quatro Rodas, inclusive) não estivessem devidamente amaciados. Mas, de fato, ele me pareceu lerdo - ainda mais comparando com os 2 Milles que tive, um Flex 05/05 e um Way Flex 07/07, ambos muito espertos.

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  3. Segundo Racionauto:
    "No comparativo da Quatro Rodas de Junho entre Agile e Uno, o Fiat saiu-se melhor em aceleração e retomadas, e isso acaba de vez com a fama de lerdeza dos motores 1.4 da Fiat"

    Esta frase não tem o mínimo sentido.. O 1.4 da Fiat continua sendo lerdo. Não é o fato de estar empurrando um carro bem mais leve que o torna melhor ou pior. Na hipótese do fire 1.4 equipar o Agile teríamos praticamente o mesmo comportamento do Punto 1.4, isto é, bem comedido e indicado para percurso urbano, andando 2 segundos atrás no 0-100km/h.

    Portanto, frente à concorrencia, o 1.4 fire (assim como o 1.4 PSA) é, sim, muito lerdo.

    Seguindo a linha de raciocínio sugerida por Racionauto, é só colocar o motor 1.4 fire num gurgem supermini e terás um mini foguete (é óbvio). Isto não quer dizer que o motor deixou de ser lerdo.

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  4. Um motor não é ou deixa de ser lerdo por si. Ele não faz nada se não estiver em um carro. O tempo de aceleração do Palio 1.4, por exemplo, era de 13,7 segundos, enquanto o do Uno ficou em 12,6 - e o Palio é somente 60 quilos mais pesado. O que conta num carro não é necessariamente seu motor, mas a relação entre peso e potência, que no Uno acabou sendo melhor.

    Aliás, esta não é somente a MINHA linha de raciocínio. Qualquer entendedor de carro não-bairrista e não-fã de uma marca específica entende que um carro será bom ou ruim não necessariamente por sua potência ou cilindrada, mas por sua relação entre peso e potência.

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  5. Caro Maximiliano, então você mesmo se contradiz e induz o leitor leigo ao raciocínio indevido. Não conclua a frase dizendo que o 1.4 fire acabou com a fama de lerdo. Diga que acharam uma carroceria com o peso que ele aguenta..

    O 1.4 fire continua atrás da concorrência e se mostrando inadequado para por em movimento carros >= 1,1 ton, por que, obviamente, vai proporcionar uma relação peso/potência e peso/torque ruins.

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  6. Este é um blog LIVRE, sem vínculo com qualquer pessoa, montadora ou concessionária, e guardo o direito e a liberdade de expressar minhas opiniões e chegar a quaisquer conclusões que eu achar pertinentes. Se você não concorda com o texto, isso não vai mudar minha opinião: de que o Uno ficou, sim, melhor nesta geração; de que o compromisso de entregar desempenho satisfatório para um modelo compacto foi cumprido pela Fiat; de que ele não é o melhor 1.4 do mercado, mas está longe de ser o pior - basta ver que, nas provas dinâmicas, ele superou o Agile - que tem mais potência e torque, e ainda assim ficou para trás em TODAS as provas de desempenho:

    UNO
    0 a 100 km/h - 12,6 s
    40 a 80 km/h - 7,3 s
    60 a 100 km/h - 11,6 s
    80 a 120 km/h - 19,0 s
    Velocidade máxima - 172 km/h

    AGILE
    0 a 100 km/h - 12,8 s
    40 a 80 km/h - 8,4 s
    60 a 100 km/h - 11,9 s
    80 a 120 km/h - 20,3 s
    Velocidade máxima - 165 km/h

    Pois bem; juntamente com minha opinião estão os FATOS. Se você se ressente dos fatos, então não é a mim que você tem que tentar convencer, mas a você mesmo. O 1.4 da Fiat NÃO PRECISA equipar um modelo com mais de 1,1 tonelada para provar que é bom, porque não é esta a proposta dele - bem como não deveria ser de nenhum motor de baixa cilindrada. Se for assim, por que o motor 1.4 da GM, que equipa o Agile e, teoricamente, tem potência e torque suficientes para levar os seus 1.032 kg, não conseguiu se sobrepor ao Uno no comparativo?

    Convenhamos. Minhas opiniões estão formadas e, com todo o respeito, tenho bastante respaldo para tê-las. Concorde você ou não, elas vão permanecer as mesmas neste caso.

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  7. algumas revistas elogiaram o 1.0 e malharam o
    1.4 mesmmo ...
    desconfiava que esse 1.4 seria mais equilibrado no uno tbm ,menos peso...
    na verdade, já conheço esta situação, o produto
    é novo, devemos descartar muitas opiniões nestes momentos. achei bem sensata essa avaliação.se alguém ver um desses 1.4 voando por esse BRASIL afora nao se assuste...rs...

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