ALTA RODA, Fernando Calmon
A chegada de
mais uma marca oriental produzindo no Brasil vai acirrar e muito a competição
pelos compradores. A Hyundai ergueu a fábrica de Piracicaba (SP) em tempo
recorde e, mais do que isso, estudou com bastante cuidado as peculiaridades do
mercado. Primeiro de três produtos, o compacto HB20 é específico para o Brasil,
muito diferente do Eon, que produz na Índia, ou o Solaris, russo. Contrariamente
ao usual, o europeu i20 é que terá, dentro de dois anos, o jeitão do modelo
brasileiro.
Os
sul-coreanos manterão a convivência de duas redes de distribuição. Produtos
montados em Anápolis (GO) pelo Grupo Caoa e os importados ficam como estão. O
novo carro será vendido por meio de rede à parte (pórtico azul identificador),
de 130 concessionárias exclusivas, a partir de 10 de outubro. Assistência
técnica, no entanto, será unificada (ambas atenderão todos os produtos). Esse
processo será gradativo, ao longo de 2013, até chegar a 200 pontos. Estratégia que
deixa brecha a explorar por concorrentes.
Embora o
hatch HB20 seja oferecido também com motor de 1 litro/80 cv (primeiro três
cilindros em automóvel nacional, depois do DKW-Vemag, de dois tempos, dos anos
1950), a Hyundai acredita que 60% terão motores de 1.6 l/128 cv. Ambos são de
alumínio, multiválvulas e duplo comando variável. Diretrizes do projeto foram
sofisticar o produto e mantê-lo, no mínimo, 1% abaixo do preço do Gol com o
mesmo nível de equipamentos. Preços começam em R$ 32.000 e vão a R$ 43.000
(câmbio automático, mais R$ 3.000), em sete catálogos. Adiante, pode haver
versão de R$ 28.000 (referência, IPI atual).
Há um
truque, copiado dos Nissans March/Versa. Airbags são de série, mas freios ABS
só nas versões de R$ 38.000 (motor 1,0; superequipada) ou de R$ 37.000 (motor
1,6; menos equipada). No geral, o HB20 surpreende pelo nível de acabamento,
escolha de materiais e regulagem de altura e distância do volante (como o Gol).
No entanto, parafusos aparentes atrás dos para-sóis contrastam com o cuidado de
ocultar os bicos do lavador do para-brisa (em geral sobre o capô). Ao mesmo
tempo em que existe bom apoio para o pé esquerdo, a regulagem de altura do
banco do motorista limita-se ao ângulo do assento.
Seu estilo,
além de moderno, é bem atraente com elegantes vincos laterais. Graças aos 2,50
m de entre-eixos oferece espaço para pernas no banco traseiro equivalente ao
Palio. Espaço atrás para cabeças também é bom, apesar de refletir algum
desconforto do assento baixo. Portas traseiras, porém, dispõem de grande ângulo
de abertura. Porta-malas, de 300 l (segundo a fábrica, 10% maior que os rivais)
e tanque, de 50 litros, 10% menor que o do Gol.
O carro é
agradável de dirigir, mas suspensões poderiam ser um pouco mais firmes e direção
um pouco menos assistida. Silêncio a bordo destaca-se entre os compactos. Caixa
de câmbio manual de cinco marchas tem engates precisos; automático, quatro
marchas, menos brilhante. O motor de 1,6 l impressiona pelo ímpeto de acelerar,
mas abaixo de 2.500 rpm mostra alguma lentidão de resposta. O de 1 litro
surpreende pela suavidade em baixas rotações e timbre de escapamento diferenciado.
Ambos são os mais potentes do segmento, mas em torque perdem para o Gol (motor
de menor cilindrada) e para o Palio (no de maior cilindrada).
A Hyundai
poderia até vender o carro mais barato. Optou por aumentar a garantia total
para cinco anos, sem limite de quilometragem (uso comercial, 100.000 km), além
de segurar os preços de revisões, a cada 10.000 km ou um ano.
RODA VIVA
APESAR do recorde de vendas do mês
passado, alcançado pela combinação de demanda reprimida, menos imposto e juros
menores, participação dos motores de 1 litro nas vendas totais caiu. Encolheu
de 41,7% em julho, para 40,9%, em agosto. Entretanto, ainda representa posição
média acima de 60%, quando considerados apenas os modelos compactos.
FORD está pronta para produzir em São
Bernardo do Campo (SP), no início de 2013, além do novo Fiesta hatch (retocado
e alinhado ao modelo europeu que estreia no fim do mês), a versão sedã, mais adiante.
Esta continuaria sendo importada do México, mas existem dúvidas sobre o futuro
do acordo comercial que inclui também Brasil e Argentina.
POUCOS comparam preços de modelos
equivalentes entre Brasil e Europa. Monovolume Dacia Lodgy, candidato à
produção no Brasil pela Renault, teve preço anunciado a partir de R$ 38.000, versão
a gasolina, de 1,2 l. O Spin, motor de 1,8 l e mais equipado, parte de R$
44.500. Igualadas cargas fiscais e conteúdos, o Chevrolet fica um pouco mais
barato que o romeno.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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