ALTA RODA, Fernando Calmon
Congressos e
seminários técnicos que integram os calendários anuais de eventos da indústria
automobilística passam a desempenhar um novo papel. O regime Inovar-Auto, criado
pelo governo para o período 2013-2017, mas que certamente irá além, estimula
pesquisas no País. Aqueles fóruns deverão focar também no que estiver ao
alcance do bolso dos motoristas.
O Simpósio
Internacional de Engenharia Automotiva (Simea 2012) teve sua pauta estudada,
como sempre, com antecedência a fim de atrair trabalhos técnicos e
palestrantes. O tema desse ano – transporte e trânsito mais sustentáveis – centrou-se
em problemas de infraestrutura com ênfase na ampliação do transporte urbano
sobre trilhos.
São Paulo,
maior cidade do país, tem apenas 74 km de metrô, porém dobrará sua extensão em
quatro anos. Alternativa do monotrilho suspenso, solução mais barata e rápida
de construir, adicionará 64 km. Estudos indicam que dois terços dos motoristas
trocariam automóveis pelo transporte público confiável, confortável e rápido.
Redução de
acidentes também foi abordado no Simea 2012. Fabricantes no exterior trabalham com
o conceito de segurança integral: freios inteligentes e sinalização de alerta
capaz de detectar motociclistas e ciclistas nos pontos cegos dos veículos.
O XXI Congresso
da SAE Brasil, no início de outubro e uma semana após o Simea, conseguiu
adaptar algumas pautas ao iminente anúncio do novo regime automobilístico. Economia
de combustível, um dos pontos importantes na evolução dos automóveis aqui
fabricados, valoriza recursos como o sistema desliga-liga o motor.
Há duas
evoluções prontas no exterior: desligar o motor já abaixo de 20 km/h, mais útil
em cidades, e o desligamento do motor e da transmissão, sob certas condições,
em estrada. Mesmo na versão básica, o potencial de economia pode chegar a 13%
no trânsito urbano pesado. No entanto, consumo regulamentado representa média
ponderada cidade-estrada e a diminuição homologada fica em torno de 4%, o que
exigirá muito esforço ainda. Redução no peso do carro e do motor é outra
estratégia admitida.
Injeção
direta de combustível, pelo custo difícil de diluir nos modelos de menor preço,
pode demorar. Falta o desenvolvimento para os motores flex ao consumir 100% de
etanol (E100), embora disponível nos países que utilizam E85 (15% de gasolina).
Turbocompressores também ajudarão na redução de cilindrada/consumo, processo
conhecido por downsizing. No passado
foram usados até em motores de 1 litro. Agora o foco passou da potência ao consumo.
Na exposição
do Congresso SAE várias tecnologias foram apresentadas. Entre elas as manobras
de estacionamento automáticas em que o motorista só precisa introduzir alguns
comandos. E, em breve, a novidade: poderá sair dele e, ao toque de um botão, o
automóvel estacionará sem dificuldade, mesmo em vagas transversais típicas das
garagens e estacionamentos apertados.
Os
abrangentes painéis de apresentações e debates deram mostra, já nessa edição,
que congressos e simpósios deverão se concentrar na discussão de aplicações práticas,
sem deixar de lado o aspecto de pesquisa pura ainda pouco estruturada e
valorizada no Brasil. De alguma forma, isso terá de acontecer.
RODA VIVA
FUTURO Ford Ka, a produzir na unidade
de Camaçari (BA), será diferente do Ka europeu. Deverá ter um pouco mais de
espaço, porém não se afastará muito em estilo, dentro do conceito da marca de unificação
mundial dos projetos. Aqui, haverá uma versão sedã quatro-portas, logo depois
do lançamento do hatch, previsto para o primeiro trimestre de 2014.
RENAULT admite que houve mal-entendido
em relação aos seus motores Hi-Flex. Eles não dispõem de gerenciamento
eletrônico específico para rodarem nos países vizinhos, com zero de etanol na
gasolina. Podem circular por lá, sem problemas, mesmo em viagens longas, porém
não de forma permanente. Motores exportados para lá têm calibração específica.
CRISE de vendas na Europa e prejuízos
acumulados devem levar a PSA Peugeot Citroën e a subsidiária alemã da GM, a
Opel, a ampliar acordos de produção e até se fundir, como se especula. Em outro
movimento, Volkswagen estuda criar uma nova submarca, específica para países de
menor poder aquisitivo.
MUITOS desses países puxam, hoje, a
demanda mundial de automóveis. Estratégia da Renault e da GM, com produtos mais
simples, bom espaço interno e preços em conta, tem conquistado compradores. O
Brasil está dentro desse cenário, embora para vender aqui sejam necessários airbags
e ABS de série, a partir de 2014. O que não exatamente é um problema.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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