ALTA RODA, Fernando Calmon
Depois de anos sem grandes preocupações em investir em economia de combustível, a indústria terá que acelerar bastante o passo para atingir metas – obrigatória e voluntárias incentivadas – do programa Inovar-Auto. Mesmo o objetivo compulsório de diminuir o consumo (ganho de 12% em eficiência energética) até 2017 não parece tão fácil porque refletirá a média da frota de modelos vendidos por cada fabricante. A Fiat que está em processo de fusão com a Chrysler, por exemplo, tem modelos como Jeep que são pesados e empurram a média para cima.
Em parte, essa negligência se deu porque o combustível ficou mais barato em termos reais (descontada a inflação). Quando o governo se deu conta de que os gastos com importação de gasolina estavam em curva cada vez mais ascendente, resolveu intervir. E estimulou um esforço até 2020 para atingir uma redução adicional: 15,4% e 18,8% com corte temporário de 1% e 2% de IPI, respectivamente. Caso todos os fabricantes encarem o desafio máximo, se conseguirá economia bem além de 12 bilhões de litros de gasolina, em sete anos.
Vários obstáculos precisam ser removidos, conforme se discutiu no Seminário de Eficiência Energética, da Autodata. Antônio Megale, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (que completa 30 anos de existência), lembrou que avanços em eficiência dependem também de melhora na infraestrutura viária e de controle eletrônico do tráfego (semáforos inteligentes). O estado de ruas e estradas implica aumento do vão livre dos carros e a consequente piora do coeficiente aerodinâmico. Seguir as dicas de economia de combustível em computadores de bordo exigirá adesão maior dos motoristas.
Fabricantes de pneus admitiram que todos os carros novos, até 2016, terão tecnologia de menor resistência ao rolamento. Podem custar até 10% mais, contudo se pagam rapidamente ao economizar combustível. De novo, buraqueira e lombadas atrapalham. Há limitações, por isso, em compostos de borracha e dificuldade de generalizar o uso de estepes temporários – 10 kg a menos na massa de um modelo compacto com reflexos no consumo – pela incidência alta de furos e danos nos pneus.
Margarete Gandini, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acenou sobre inclusão de bônus técnicos nos ciclos de consumo em laboratório, indicados no programa de etiquetagem. Normas brasileiras são mais rígidas que europeias, estas muito vistosas, porém longe da realidade. Função desliga-liga o motor, por exemplo, reflete-se no ciclo europeu e aqui, não. Compressores de ar-condicionado de geometria variável poupam combustível, mas sua vantagem desaparece na captação de dados. Monitor de pressão de pneus igualmente atua nos números potenciais de consumo, sem receber nenhum bônus.
Apesar de admitir que, pela experiência no exterior, programas mandatórios funcionam melhor que os voluntários, o governo escalonou até 2017 a adoção de etiquetas de consumo. Trata-se de decisão contraditória e agravada pela falta de fiscalização. Basta ir aos salões das concessionárias: relativamente raro ver etiquetas e muito menos alguém disposto a esclarecer dúvidas dos consumidores.
RODA VIVA
DOIS lançamentos de peso estão na programação da VW este ano: a reestilização do Fox (inclusive versão CrossFox) e a picape Saveiro cabine dupla (permanecerá apenas com duas portas; duas a mais sairia muito caro). Previsão para primeiro e segundo semestre, respectivamente. Produção do up! 2-portas já começou e vendas, fim de março. Em seguida, câmbio automatizado.
FAMÍLIA Peugeot agora partilha controle da PSA Peugeot Citroën com chinesa Dongfeng e governo francês. Atuação de famílias no setor, entretanto, ainda continua bem forte. Em alguns casos, executivos do clã estão no comando direto mesmo em empresas de capital aberto. Entre outras BMW, Fiat, Ford, Hyundai, Suzuki, Toyota e VW (duas famílias, Porsche e Piëch).
OUTRA combinação preciosa de motor turbo (1,6 L/165 cv, mais potente que versão europeia) e hatch médio-compacto: Peugeot 308 não merece menos que isso. Atmosfera interna do carro é bem atraente. Suspensões, freios, direção e câmbio automático de seis marchas formam conjunto muito equilibrado. Só as portas, ao bater, deveriam ter sonoridade encorpada.
COSTUMA se dizer que “apenas” em quatro Estados o etanol tem preço competitivo em relação à gasolina, na maior parte do ano. São eles São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. Há um pormenor esquecido: interessa saber a frota que pode usufruir. No caso, representam quase 50% (47%, em 2013) do total de veículos em circulação no País. Muda de figura.
CONDIÇÕES de concorrência levaram os bancos controlados pelos fabricantes a manter a taxa de juros quase estável (subiu de 1,25% para 1,27% ao mês), de 2012 para 2013. Isso apesar da disparada da taxa básica de juros (Selic). Mesmo comportamento no varejo: de 1,52% para 1,62% ao mês. Cenário deve se repetir em 2014.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário