ALTA RODA, Fernando Calmon
Nada de modismo ou coincidência, mas motores de três cilindros chegaram para ficar também no Brasil. Essa tendência se observava em outros mercados pela necessidade universal de ganhos em eficiência energética. Diminuição de consumo é o único modo de reduzir emissões de gás carbônico (CO2), um dos responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. Filtros ou catalisadores são inúteis.
Unidades motrizes de três cilindros estão longe de constituir novidade. Aqui mesmo o DKW-Vemag, motor de dois tempos, surgiu em 1956. Também foram usadas, em carros pequenos, unidades de quatro tempos, ciclos Otto e Diesel, na Europa e Ásia. No entanto, nível de vibração e sonoridade levou a queixas e certo ostracismo.
Tudo mudou graças aos avanços da engenharia de motores. Marcas premium como a BMW já oferecem motores de três cilindros de até 1.500 cm³. Entre modelos fabricados no Brasil, Hyundai saiu na frente com HB20 (motor ainda importado), seguido pelo VW up! e, a partir de julho, os novos Ford Ka hatch e sedã. Outros estão na fila: PSA Peugeot-Citroën, Chevrolet, Renault, além dos chineses que entrarão em produção Chery QQ e JAC J3. Fiat deve entrar na onda.
Infelizmente, a legislação brasileira estimula motores de 1.000 cm³ (1 litro). Podem não significar a melhor escolha em razão do porte ou utilização do veículo. Entre 1 e 1,6 litro há ampla gama de aplicações. Correto seria estabelecer meta incentivada de redução de consumo, independentemente de cilindrada, e que vença o melhor.
A Ford deu um salto com o tricilíndrico flex de 1 litro e duplo comando de válvulas variável (admissão e escape), que já começou a produzir em Camaçari (BA). Potência (85 cv a 6.500 rpm) e torque (10,7 kgf∙m a 4.500 rpm) com etanol são os maiores entre motores aspirados equivalentes. Prevê também o menor consumo absoluto, após crivo do Inmetro. No exterior, versões só a gasolina/injeção direta entregam 65 cv e 80 cv, enquanto o EcoBoost (turbocompressor) oferece 100 cv e 125 cv para Fiesta e Focus. O mais potente está nos planos da fábrica baiana, no horizonte de um a dois anos.
Esse novo propulsor apresenta algumas curiosidades como bloco em ferro fundido, apesar da virada mundial em direção ao alumínio, leve e também mais caro. Os do up! e do HB20, em alumínio, têm massa em torno de 15 kg menor. A marca americana alega ser um motor bastante compacto. Provavelmente, a razão real se deve à robustez necessária em outra versão, de nada menos de 140 cv, para o Mondeo (Fusion), conforme se especula na Europa.
Para baixar custo de manutenção a correia dentada (lubrificada) dura 240.000 km, dobro do up!, por exemplo. Eliminou partida auxiliar a gasolina em dias frios. Mas, tuchos de válvulas são sólidos (mecânicos) e exigem regulagens periódicas, ao contrário de tuchos hidráulicos. Estes dispensam qualquer intervenção e garantem revisões mais rápidas e (teoricamente) baratas.
Resta ver a aplicação no novo Ka, maior que o anterior. Seu torque máximo surge em rotações elevadas e costuma prejudicar elasticidade e prazer ao dirigir. A fábrica, entretanto, afirma que trabalhou na curva de torque a fim de compensar qualquer sensação de respostas fracas ao acelerador.
RODA VIVA
TOYOTA anunciou, no Japão, nova gama de motores a gasolina, de 1 litro e 1,3 litro, com notáveis avanços em economia de combustível. Serão 14 aplicações em modelos compactos e médio-compactos nos próximos dois anos, cobrindo 30% de toda sua gama. Motores trabalham no ciclo Atkinson e a economia de combustível vai de 15% a inacreditáveis 30%.
VISANDO ao transporte urbano para duas pessoas, uma pequena empresa japonesa, D Art, resolveu ressuscitar a ideia do carro-bolha italiano Isetta, dos anos 1950. Porta única frontal abre para cima (no original para o lado) e teria sido aprovado no teste de impacto no Japão. Propulsão é elétrica e motor de combustão auxiliar ajuda a dobrar a autonomia até 300 km.
SAVEIRO Cross ganhou bastante em agilidade graças ao motor de 1,6 litro MSI, em alumínio, da família EA 211, inteiramente novo. Tem 16 válvulas e duplo comando variável (só admissão), 120 cv e 16,8 kgf∙m (etanol). Impressiona pelas respostas em baixas rotações, em especial com combustível vegetal, que confere mais 9% de potência e 6% de torque.
LIMPEZA do sistema de alimentação, descontaminação interna do motor, higienização dos dutos do ar-condicionado e kit de lubrificação são operações criativas usadas por oficinas para aumentar o preço das revisões, em especial as de preço fixo sugerido pela fábrica. Trata-se de despesas, quase sempre, dispensáveis e exigem autorização prévia.
MUITO didática a orientação técnica do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) sobre riscos de uso de películas escurecidas nos vidros dianteiros e para-brisa. Carros atuais já estão no limite máximo de transparênciapermitida em lei, à exceção dos vidros traseiros. No link tinyurl.com/m58kaxr está tudo explicado.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário