LIFAN X60 VIP ENFRENTA RENAULT DUSTER TECH ROAD

Comprar um SUV chinês e economizar mais de R$ 10 mil é bom negócio?

Os carros chineses estão mudando de fase no Brasil. Ainda há desconfiança, mas produtos evoluídos têm feito a oferta de muito conteúdo, garantia longa e preço baixo parecer mais atraente que nunca. O resultado é que o discurso uníssono de antes - carro chinês não presta - tem se transformado numa disposição muito maior à comparação com produtos similares nacionais e importados de outros países na hora da compra.

Por este motivo resolvemos colocar o Lifan X60, desta vez na versão topo-de-linha VIP, frente a frente com o Renault Duster, que veio na versão Tech Road 2.0 automática (emprestada por um leitor do blog). Este não é um comparativo direto, considerando as diferenças técnicas entre os dois SUVs: um tem câmbio mecânico de 5 marchas e motor 1.8 com 128 cv e 16,8 kgfm de torque movido só a gasolina e o outro tem câmbio automático de 4 velocidades e motor 2.0 flex com até 142 cv e 20,9 kgfm de torque quando abastecido com etanol. A ideia aqui é saber se vale a pena pagar mais para levar o Renault ou se o chinês tem as credenciais de que precisa para fazer frente aos similares de mesmo porte, sendo uma boa opção para quem tem um pouco menos na conta bancária.

Com o desempenho fora da análise, a pauta envolveu 4 tópicos: espaço, considerando a acomodação para motorista e passageiros, a praticidade do interior e o volume do porta-malas; equipamentos, desde os que envolvem segurança ativa e passiva até os itens de conforto e conveniência; dirigibilidade, levando em conta o comportamento na cidade e na estrada; e custo x benefício, em que pesem tanto o conteúdo dos carros em relação ao seu preço quanto a rede de assistência e a garantia.

O X60 perde por muito pouco do Duster nas dimensões. O comprimento é 1 cm maior (4,32 m contra 4,31 do Renault), mas o SUV de origem franco-romena empata na altura (1,69 m) e ganha na largura (1,82 m contra 1,79 m) e no entre-eixos (2,67 m contra 2,60 m). O interessante é que no chinês todos se acomodam melhor. Com revestimento predominantemente claro e maior área envidraçada, o interior do Lifan é bem mais arejado. Nele ainda, com os bancos dianteiros totalmente recuados, o espaço para as pernas no banco traseiro é maior. O Renault acomoda bem os que vão na frente, mas atrás as pernas não viajam tão folgadas. O revestimento interno escuro e os vidros menores tentam aumentar a sensação de requinte, mas a penumbra não é tão convidativa com o carro lotado de gente. Em compensação a capacidade de carga é maior: são 475 litros disponíveis. O X60 privilegia os ocupantes, mas parcos 405 litros no porta-malas os obrigam a levar menos bagagens. Pelo menos ele compensa esse déficit com mais porta-objetos no interior que o oponente.

Na mesma medida do espaço, o Lifan X60 VIP oferece conveniência. Mais equipado que o Renault Duster, o chinês traz o básico a um SUV deste porte e preço - ar, direção hidráulica com coluna regulável em altura, trio elétrico, alarme, faróis de neblina, rodas de liga leve, airbag duplo e ABS com EBD -, e ainda faróis com acendimento automático e ajuste de altura, sistema Isofix no banco traseiro, volante multifuncional, câmera de ré, teto solar elétrico e kit de ferramentas - coisas que o Renault não tem. A central multimídia do Lifan é bem completa, reproduzindo inclusive DVDs, mas a vantagem do Duster está na operação do sistema MediaNav, mais bem calibrado e obediente. O X60 fica devendo ainda um computador de bordo (que o Duster tem), mas isso não é suficiente para deixá-lo atrás do Duster.

Se até agora a vantagem é toda do chinês, em movimento isso se reverte. O déficit está no acerto mecânico, no isolamento acústico e na qualidade geral de rodagem. Com marchas longas, peso alto (1.330 kg) e pico de torque lá em cima (4.200 rpm), o Lifan precisa de mais giros e mais reduções do que o razoável para embalar e retomar. E com um revestimento acústico deficiente, a cabine se torna, nessas situações, ruidosa demais, sendo difícil manter uma conversação em tom normal mesmo a 100 km/h na estrada. Apesar de ter boa estabilidade, a direção é lenta nas respostas. E apesar de o câmbio ter engates fáceis, a embreagem é dura demais.

O Renault consegue muito mais equilíbrio e agilidade tanto na cidade quanto na estrada. Os números mais altos de potência e torque com certeza fazem sua parte, mas é a elasticidade do motor que mais contribui para isso. O câmbio automático sequencial de 4 marchas não segura tanto o desempenho quanto se imagina, mas demora um pouco a pensar nas reduções - e é onde o torque mais se faz necessário. De todas as formas, como é mais leve (1.294 kg), o motor acaba parecendo ainda mais potente que é. O Duster não é o mais silencioso dos SUVs vendidos aqui, mas é mais bem forrado que o X60. A direção é mais pesada em manobras que a do chinês, mas em velocidade ela se mostra mais acertada e direta.

Mas quem decide mesmo uma compra, não tem jeito, é o bolso. É aqui que a maior vantagem do X60 VIP, o preço, pode não parecer tão grande assim. Na tabela, o Lifan custa R$ 59.250,00, sem opcionais e com garantia de 5 anos. O Duster Tech Road 2.0 automático tem preço sugerido de R$ 69.890,00, mais uma garantia de 3 anos. A diferença pode se justificar, a princípio, pelo motor maior e pelo câmbio automático. Mas se pensarmos que a rede de assistência da Lifan é bem menor, com 47 pontos entre concessionárias e oficinas em 16 estados brasileiros, fica difícil não pender para o lado da Renault, com suas mais de 200 concessionárias. Se entrar na balança ainda a desvalorização bem maior do X60, os mais de R$ 10 mil de diferença deixam de parecer tanto.

Conclusão: para quem tem dinheiro contado e mora numa das cidades servidas pela rede de assistência da Lifan, o X60 pode ser uma boa. Mas fora dessas circunstâncias a diferença de preço é bem paga: vá de Duster. Com nível de equipamentos aceitável, bom desempenho, mais equilíbrio e melhor liquidez, o SUV da Renault é realmente a melhor compra neste comparativo.