sábado, 24 de setembro de 2016

AVANÇAR CUSTA CARO


ALTA RODA, Fernando Calmon


A Fiat começou a destrinchar o quebra-cabeça em que se envolveu com várias opções na faixa de compactos hatches, ainda o segmento mais importante do mercado brasileiro. A chegada do subcompacto Mobi provocou um conflito de preços entre o Uno e a versão antiga do Palio, conhecida como Fire. Esta última, segundo o fabricante, agora é destinada “apenas a frotistas”. É possível certa flexibilidade até o modelo ser descontinuado.


Em compensação, o Uno 2017 recebeu modificações estéticas – nova frente que o aproximou do estilo do Panda italiano, com novos faróis, grade e para-choque – e mecânicas. O foco foi em moderna família de motores e avanços em eficiência energética. A marca italiana estava atrás dos concorrentes, mas não perderá o prazo fatal para comprovar, a partir do próximo mês, redução de consumo de combustível, na média de todos os seus produtos à venda, em no mínimo 12% em relação a 2011. 

A estratégia incluiu direção eletroassistida, nova geração de pneus “verdes”, spoiler dianteiro, convergedor de ar do radiador e revestimentos aerodinâmicos na parte inferior da carroceria. Os inteiramente novos motores flex de 1 L, de 3 cilindros e 1,3 L, de quatro cilindros, ambos com bloco de alumínio, estão entre os melhores do mercado. Formam uma família batizada de Firefly (vagalume, em português) e o Brasil tem primazia no lançamento.

Uma das características é a opção por um cabeçote monocomando de apenas duas válvulas por cilindro, ao contrário de outros motores modernos com quatro válvulas e duplo comando. Mas o resultado final pode ser considerado muito bom, pois a engenharia aproveitou ao máximo as características dos nossos combustíveis ao elevar a taxa de compressão para 13,2:1. Também trabalhou novos conceitos de balanceamento do motor para reduzir vibração e aspereza do 3-cilindros. Isso fica nítido logo ao ligar o motor pela boa marcha-lenta e retomadas convincentes graças ao alto torque com gasolina (10,4 kgfm) e etanol (10,9 kgfm).

O torque específico é o maior entre os motores aspirados de 1 L no Brasil, mas a potência limita-se a 72/77 cv (gasolina/etanol), longe, por exemplo, do motor equivalente mais sofisticado, de 80/85 cv, da Ford. Trata-se de compensação típica entre elevar torque e baixar potência (e vice-versa), quando não se usa superalimentação (turbo ou compressor). Em estrada, principalmente com lotação completa e bagagem, o motorista sentirá alguma dificuldade nas ultrapassagens. Se for esse o caso, a melhor opção é o 1,3-L que oferece 101/109 cv e 13,7/14,2 kgfm.

O ganho em eficiência energética foi notável, de 14,4% no motor de menor cilindrada e de 16,7%, no maior. Nesse último o sistema desliga-liga o motor em paradas tornou-se item de série tanto no câmbio automatizado (que recebeu aperfeiçoamentos), quanto no manual (ainda um ponto fraco do Uno). Consumo menor em trânsito pesado é garantido, mas quem quiser pode inibir esse recurso ao aperto de um botão.

Nas versões de topo há controle eletrônico de trajetória e de partida em aclives. Os preços aumentaram bem e não poderia ser diferente pelo que oferece: R$ 41.840 a R$ 53.690. Está aberto espaço ao Mobi e também aos concorrentes...

RODA VIVA

HYUNDAI confirmou o que se esperava. Um crossover compacto será produzido no Brasil no próximo ano e exibido antes no Salão do Automóvel de São Paulo agora em novembro. Creta utilizará a base modificada do HB20 com estilo específico para o mercado nacional. Motor não foi informado pela marca, mas poderá ser o atual flex 1,6 L com injeção direta e 140 cv.

PRESIDENTE da Ford América do Sul, Lyle Watters, atuou anteriormente na subsidiária europeia e teve de enfrentar a recente fase de profunda crise de vendas. A recuperação do mercado lá foi mais rápida do que o esperado. Para ele, tudo indica que acontecerá algo semelhante aqui. Quando o mercado começar a reagir, também deve surpreender pela velocidade.

VERSÃO de entrada do Mercedes-Benz C180, produzida no Brasil, tem acabamento e materiais de primeira qualidade, embora faltem alguns acessórios básicos em um modelo premium como sensores de obstáculos. Motor turboflex de 1,6 L e 156 cv não aproveita todo o potencial de desempenho do etanol. Dá conta dos 1.400 kg de peso (vazio), sofrendo um pouco com carga total.

GOVERNO federal não conseguiu derrubar a liminar que obriga a sinalização de todas as rodovias, antes de aplicar multas em quem deixar de ligar farol baixo durante o dia. A lei, mal discutida e pior implantada, merece revogação. Ideal seria estabelecer um cronograma para luzes diurnas específicas de acendimento automático, tanto em estradas como em cidades.

VAZAMENTO de óleo lubrificante e outros fluidos originados de veículos são fontes de poluição não atmosférica pouco controladas no Brasil. Inspeção veicular séria parece distante e assim maior cuidado com a manutenção poderia amenizar o problema. Como referência, apenas um litro de óleo tem potencial de contaminar um milhão de litros de água.


Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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