ALTA RODA, Fernando Calmon
“Uma pessoa
não pode se sentir culpada só por entrar em seu carro e dar partida para ir
trabalhar.” Frase curta do presidente da Fenabrave, Flavio Meneghetti, refletiu
simples desabafo durante a abertura, semana passada em São Paulo, do 23º
Congresso anual da entidade que engloba 7.000 concessionárias do País. Cerca de
dois terços delas focam seus negócios em automóveis e comerciais leves.
De fato,
existe tendência de demonizar os motoristas pela maior parte dos males, em
especial o trânsito, das cidades. Poucos falam é que todo o setor
automobilístico representa em torno de 5% do PIB (soma de tudo que um país
produz), mas responde por 12% da arrecadação total de impostos. Em outros
termos, os veículos geram recursos bem mais do que suficientes para investimentos
em transporte de massa sobre trilhos, infraestrutura viária e ferramentas
modernas de gerenciamento de trânsito.
Basta um
exemplo. Fortaleza, capital do Ceará, tem 55% de sua rede de semáforos
centralizada e controlada em tempo real. Em São Paulo, maior e mais rica
capital do País, não chega a um terço e boa parte sem manutenção. Para melhorar
a fluidez não adiantam só medidas oportunistas, como fez a prefeitura
paulistana ao criar corredores para ônibus em avenidas apenas pintando faixas no
asfalto. Prioridade para transporte coletivo obviamente deve existir, mas sem
improvisação ou avaliação incorreta de custo-benefício. Castigar quem paga a
conta está longe de resolver a situação.
Para sorte
de quem faz política demagógica no trânsito, o dinheiro dos impostos continuará
a fluir a rodo nos próximos anos pelo que se viu e ouviu no Congresso e
Exposição Fenabrave. No entanto, há preocupações de curto prazo como o que
acontecerá em 2014, quando estímulos fiscais provisórios terminarem em 31 de
dezembro próximo. Exigências legais de segurança (airbags e freios ABS) terão
impacto nos custos de modelos de entrada, a partir de 1º de janeiro próximo.
Na realidade,
a forte concorrência atual e nos próximos anos ajudará a segurar preços reais
(descontada a inflação). Hoje, 14 marcas produzem no Brasil; em 2017 serão 23.
Segundo o economista Ricardo Amorim, em 15 anos, modelos de entrada passaram do
equivalente a 55 salários-mínimos (SM) para menos de 40 SM, considerada carga
fiscal cheia. Poder aquisitivo maior também explica um fenômeno nos últimos
quatro anos. De acordo com Alexandre Abelleira, da VW, enquanto preços médios
de venda subiram de R$ 34.000,00 para R$ 42.000 (carros mais equipados), a
média dos mais baratos caiu de R$ 28.000 para R$ 26.700.
Lidar com
massa de informações é um desafio para quem compra e quem vende. Até 12 fontes estão
disponíveis para o consumidor, desde dicas de um conhecido às mídias
tradicionais e digitais, além da própria concessionária. Facilidades criadas
pela internet representam uma ferramenta de enorme valor: 70% dos compradores utilizam
mecanismos de busca eletrônica, dos genéricos aos específicos.
Por outro
lado, veículos seminovos terão papel ainda mais relevante nos próximos anos. Concessionárias
e fabricantes deverão ampliar ações específicas e ofertas. No total, usados
representam três vezes mais que os novos em vendas anuais.
RODA VIVA
NOVO Focus argentino chega no final de
setembro e será o primeiro produto com motor flex de injeção direta de
combustível (mais potência, menos consumo). Potência do 2-litros estará na
faixa dos 170 cv com etanol. Dois projetos estudados (monovolume BMax e versão
de 7 lugares do EcoSport) foram descartados, mas SUV Kuga continua nos planos.
HONDA investirá 1 bilhão de reais em
outra fábrica no interior de São Paulo. De Itirapina, a 200 km da capital,
sairá o SUV compacto baseado na arquitetura do Fit/City exibido no Salão de
Detroit este ano, ainda como modelo-conceito. Essa nova unidade também
produzirá compactos de entrada, hatch e sedã, que estão em desenvolvimento por
equipes do Japão e do Brasil.
RENAULT aproveitará sua cota de 9.600
unidades/ano (sem superIPI) basicamente para importar o SUV compacto Captur
(início de 2014). Cupê Megane R.S. também virá porque há nicho a descoberto.
Além do motor turbo de 2 litros/265 cv, o modelo tem sofisticação para quem
gosta de acelerar: diversos ajustes finos, acelerômetro e cronômetro.
APESAR de carros elétricos contarem com
apenas 0,2% das vendas mundiais (2012), eles permitem acelerações instantâneas
e muito rápidas em uso urbano. De 30 a 70 km/h, por exemplo, o BMW i3 (de 170
cv) crava 2,7 s e acelera de 0 a 60 km/h em 3,7 s. São números equivalentes a
de um Mini Cooper S que se destaca pela agilidade acima da média.
FORNECEDORES já executam testes
avançados de motores (consumo e emissões) a fim de atender ao programa
Inovar-Auto. Magneti Marelli investiu R$ 30 milhões no laboratório de
Hortolândia (SP), agora apto a ciclos automáticos nos dinamômetros. Seu centro
técnico tem praticamente a mesma área das instalações da matriz italiana, em
Bolonha.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Perfeita análise. Culpar a indústria automobilística pelo caos urbano é o mesmo que dizer que o país não pode se desenvolver. É pacífico que a mobilidade urbana é viabilizada por meio de transporte público e estruturas viárias de qualidade, que assegurem condições de se deixar o carro na garagem, para ser usado como meio para o lazer. A indústria automobilística tem que se preocupar é com os seus custos de produção, que precisam ser progressivamente diminuídos para compensar a carga tributária digna de país desenvolvido, em que os carros e os proprietários não são os vilões do trânsito.
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