ALTA RODA, Fernando Calmon
Um dos temas
recorrentes nos últimos tempos são as análises sobre a diminuição de interesse
das pessoas pelo automóvel, em especial os jovens. Há muito lirismo nesses
diagnósticos, às vezes baseados em pesquisas cujas perguntas são direcionadas
para as respostas.
Bastam dois
exemplos: em São Paulo apontaram que 90% das pessoas apoiam a inspeção veicular
ambiental (IVA). A surpresa foi não alcançar 100%, como deveria. Mas se a
pergunta fosse sobre IVA para carros seminovos, com até quatro anos de uso, o
resultado seria 10%. Também quiseram saber se os motoristas aprovam faixas exclusivas
de ônibus. Claro, disse a pesquisa. Mas se perguntassem só sobre pintar faixa
no asfalto, sem qualquer estudo de custo-benefício ou em que lado da via, o
resultado seria decerto bem diferente.
Outra
enquete famosa feita nos EUA aponta que 30% dos jovens entre 18 e 24 anos
preferiam, se pudessem escolher, a internet e não um carro. Ora, faltou saber, em
plena era dos carros conectados talvez até em excesso (digitar textos com o
carro em movimento é muito arriscado), se as respostas seriam as mesmas caso
pudessem dispor de ambos. Existe, sim, o fenômeno social de algum afastamento
inicial dos jovens ao buscarem maior mobilidade urbana ou utilizar caronas de
pais, parentes e amigos. Mas logo casam, formam família e vem um carro, muitas
vezes dois.
Há um fato
inquestionável: mercados maduros estão saturados e a frota quase não cresce. Nem
a população... Produção basicamente voltada para substituição. Situação oposta
nos países emergentes, onde a relação de veículos/1.000 habitantes é bastante baixa.
Se indagassem a qualquer jovem destes países, a resposta seria outra. Uma
aspiração justa e até concorrente da casa própria.
De fato,
longos congestionamentos podem levar a se questionar a utilidade de um
automóvel. Mas esquecem de que rádios do passado com válvulas e chiados, para
amenizar, foram substituídos por quase estúdios ambulantes de som, vídeo,
telefonia, navegação por internet e GPS, além de TV (quando parado). A baixa
mobilidade não é apenas urbana. No último feriado percorrer trechos de 100 km
em 9 horas ou mais aconteceu em várias estradas.
Trata-se de
uma situação que poetas de soluções simplistas deveriam estar mais atentos. Um
carro no portão da fábrica paga 67% de impostos (cerca de 40% do preço de
venda) até ser emplacado. Depois, a cada cinco anos, há tantas taxas e encargos
que significam entregar outro carro novo ao governo. Então, ninguém pode ter
sentimento de culpa ao se construir túnel, viaduto, via expressa ou duplicar estrada.
Os motoristas, com paciência de bovinos, pagaram por tudo isso. Seu único
direito é bancar sem reclamar?
No futuro,
parece claro que cidades terão alternativas de mobilidade inteligente e
integradas. Automóveis serão menos necessários, mas ainda indispensáveis,
principalmente pela liberdade de viajar. Única forma de se locomover ponto a
ponto com um único meio de transporte. Diversos aspectos deverão ser repensados
para evitar recorrência de erros de planejamento. Outras soluções vêm daqueles
acostumados aos divãs de consultórios de terapeutas extremamente compreensivos
e mais pacientes que os próprios pacientes.
RODA
VIVA
INESPERADA contratação do português
Carlos Tavares para presidir PSA Peugeot Citroën pode não ter sido tão
inesperada assim. Há dois meses, ainda o segundo nome na hierarquia da Renault,
surpreendeu ao dizer que gostaria de comandar um grande fabricante dos EUA.
Chocante, mas provável cortina de fumaça para acerto prévio com a arquirrival francesa.
MOVIMENTO discreto da Volkswagen já
começou: abrir espaço ao compacto up! no primeiro trimestre de 2014. Estratégia
é elevar um pouco o preço do Gol G5, com airbags e ABS de série (obrigatórios),
além de direção assistida hidráulica, para deixar a faixa inicial dos R$ 29.000
para o novo produto. Gol G4 sai de produção em dezembro; vendas até março.
VERSÃO Titanium do Focus hatch tem
preço puxado, com todos os equipamentos. Forma conjunto de primeira linha,
ainda raro entre os produzidos na região (Argentina). Motor tem respostas
rápidas, especialmente com etanol, graças à injeção direta. Câmbio automatizado
de duas embreagens, direção, suspensões e acabamento são irretocáveis.
MODELO de uma fábrica homenageado por
outra é bastante incomum. Como o laureado está entre os míticos da história, a
MINI (controlada pela BMW) destacou os 50 anos do Porsche 911. Há fotos, lado a
lado, das versões originais realçando que só “rejuvenesceram”. De fato, não
concorrem entre si, mas a iniciativa é simpática.
CAIXA de câmbio manual com marcha à ré
sincronizada era algo refinado no passado, como no Omega em 1992. Agora a GM
estendeu essa característica a todos os carros compactos com motor de 1,4 litro
aqui fabricados. A nova caixa facilita e agiliza manobras em baixa velocidade,
quando é necessário inverter o sentido de marcha, sem parecer “barbeiro” ou
descuidado.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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