Existe um segmento de mercado no Brasil ainda pouquíssimo explorado, mas que tem sido descoberto aos poucos tanto pelo setor automotivo, que tem trazido cada vez mais novidades, quanto pelas pessoas que gastam seu dinheiro de maneira não-convencional. Muitos chamam este segmento de “carros de nicho”, mas eu prefiro a expressão “carros de imagem” para descrevê-lo.
Mas por que “de imagem”? A princípio, comprar um carro destes não é uma atitude plenamente racional pelos padrões do mercado, como a análise de custo e benefício, economia de combustível, custo de manutenção ou de seguro. Depois, porque mesmo focando um mesmo público-alvo, nenhum deles se parece com o outro e isso também quebra de vez os padrões utilizados para se classificar um determinado modelo como pertencente a este ou aquele segmento. Aqui, o que conta mesmo é a aparência, o status, a proposta e, subjetivamente, a imagem que a pessoa que o comprou quer transmitir aos pobres mortais que ficam só olhando.
Porém, existe um grupo de pessoas pouco considerado nas análises de público-alvo para este tipo de carro: o dos que não jogam dinheiro fora, mas também não têm uma família grande (e por isso não precisam de um sedã ou uma minivan), não se preocupam tanto com desempenho (e por isso não compram um hatch médio ou um esportivo), não costumam carregar muita gente nem muita tralha (e por isso não precisam de um modelo grande), mas são muito atraídos por coisas diferentes e gostam de se fazer notar. Estes consumidores, ao contrário do que se diz por aí, pensam bastante e comparam modelos para levar o melhor, porque mesmo tendo dinheiro para comprar um modelo destes, eles ainda não ganharam na megasena nem receberam uma herança inesperada. São somente profissionais estabelecidos e com renda superior à média nacional, mas que não querem desperdiçar seus salários. Desta forma e seguindo a proposta de nosso blog, cabe aqui uma comparação racional.
Quero incluir aqui 7 modelos e, de antemão, é bom frisar que todos já trazem o essencial para um veículo desta categoria: ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico e CD player (alguns com leitor de MP3 e entrada USB, outros não). Por isso, a análise será mais voltada àquilo que cada um oferece a mais.
Fiat 500
Muitos brasileiros vão chamá-lo de “Quinhentos” mesmo. Mas as propagandas, corretamente, esclarecem que seu nome é “Cinquecento”, ou “Tchinquetchento”, como se diz em italiano. Pequenininho e bonitinho, seu design consegue resgatar várias características do projeto original lançado na primeira metade do século passado; porém, isso não impediu que ele ficasse parecendo um Pokémon. Com motor 1.4 16v Fire de 100 cv, ele não é lerdo, mas está longe de ser esportivo. Ótimo para a cidade, seu portamalas de apenas 185 litros e o espaço para, no máximo, 4 pessoas tornam o 500 um carro apenas suficiente para pegar a estrada com os amigos e poucas mochilas.
Mas como o objetivo aqui é priorizar a imagem e não o desempenho, nisso ele não desaponta. Seu interior é bem resolvido, com boa ergonomia e design pra lá de original. O que se destaca logo é a faixa na cor do carro no painel, de fora a fora. O velocímetro com mostradores superpostos também é uma boa sacada, e o jogo de cores nos bancos de tecido e couro ajuda a destacar as boas soluções de design. Mas espere, ele não é só um rostinho bonito. Desde a versão de “entrada” (se é que se pode usar esta expressão para um carro que custa a partir de R$ 63.860,00) ele já traz, além do essencial, freios a disco nas 4 rodas com ABS e ESP, 7 airbags, Blue&Me, sistema Hill Holder, sensor de estacionamento, faróis com ajuste de altura e computador de bordo com 10 funções, mais um monte de bricabraques. Bonito por fora, melhor ainda por dentro.
Volkswagen New Beetle
A Volkswagen entrou neste mercado já há algum tempo com o New Beetle. Aqui, o mérito vai para o desenho, que resgata plenamente a essência do eternizado Fusca e, por isso, consegue se manter atemporal, mesmo já tendo sido lançado há mais de 10 anos. Custando a partir de R$ 58.200,00, ele traz pouca coisa em relação à concorrência, além do básico: ABS, airbag duplo e sensor de estacionamento.
Sua maior vantagem está na possibilidade de equipá-lo com o ótimo câmbio Tiptronic de 6 marchas e gerenciamento eletrônico. Mesmo assim, casado com o antiquado motor 2.0 com 116 cv, ele não faz milagres. No interior, o toque retrô fica por conta das alças traseiras no teto, semelhantes ao do Fusca, e do tubo de ensaio que serve para colocar flores (ou lápis, porque nem todo mundo é tão frufru assim). E o pior fica por conta do espaço interno, bom somente para os que vão na frente – atrás, ele consegue ser mais apertado que o Fiat 500. O portamalas é ligeiramente maior (205 litros), mas 20 litros a mais só vão ser suficientes para mochilas um pouquinho maiores. Ah, e os colegas de trás precisam ter menos que 1,65 de altura para não sofrerem na viagem com suas cabeças raspando no teto.
Mini Cooper
Já o Mini Cooper, fabricado pela BMW e o mais caro dentre todos os analisados aqui, talvez seja o modelo que mais se encaixe na descrição do segmento. Estiloso ele é mesmo, por fora e por dentro. Mas em alguns aspectos ele lembra certos relógios de grife: caríssimos e objetos de desejo de muitos, porém com design tão diferenciado que olhar as horas – o essencial – é quase impossível. Seu interior é assim: círculos para todo lado e design em primeiro lugar (e muito bem bolado, por sinal), mas com ergonomia sacrificada. O layout foge do convencional e os botões de acionamento de ar condicionado e sistema de som se aglomeram no console central de forma confusa. Ainda assim, ele tem mais espaço que o 500 e o Beetle – pelo menos para motorista e passageiros, já que é mais largo. O portamalas é menor: apenas 160 litros.
Mesmo assim, andar no Mini Cooper é muito prazeroso. Mesmo a versão mais em conta traz um ótimo motor 1.6 aspirado com 122 cv (o segundo mais potente deste comparativo) e 16,3 mkgf de torque a 4.250 rpm. Além disso, ele vem recheado: fora o essencial, tem 6 airbags, ABS com EBV (distribuição eletrônica de frenagem) e CBC (controle de freio nas curvas), controle de tração, computador de bordo e sistema Isofix para cadeiras infantis, além de, como no Fiat 500, ter inúmeras possibilidades de personalização com acabamentos e acessórios exclusivos. E por se sobressair em desempenho, ele acaba justificando o alto preço.
Smart ForTwo
O Smart ForTwo é capa da revista Época deste mês. Só que ele ilustra uma reportagem sobre carros elétricos – e ele não é. Pelo menos não a versão trazida ao Brasil: a nossa tem motor de 3 cilindros e 12 válvulas, 1.0 com 84 cv e 12,2 mkgf de torque a 3.250 rpm. Diferente de todos os demais, a proposta do Smart é, na verdade, dar aos motoristas das grandes cidades a possibilidade de um deslocamento mais ágil e econômico (chega a fazer 13,3 km/l de gasolina em ciclo urbano), porém igualmente seguro. Só que por ser tão diferente de tudo o que se vê por aqui nas ruas, ele acabou se transformando em ícone dos “endinheirados descolados politicamente corretos”.
Seu desempenho é ambíguo. Quando se anda só com o câmbio automático controlando tudo, ele chega a ser letárgico, mas isso tem motivo: economia de combustível. Quando se assume o controle através do paddle shift, porém, ele acelera melhor que muitos sedãs e hatches médios. Mas como isso é bobagem numa cidade como São Paulo, com um trânsito que frustra qualquer tentativa de análise de desempenho, melhor aproveitar a frugalidade do consumo e desfrutar do bom espaço interno e da ótima dirigibilidade – guardadas as devidas proporções, é claro. Não se pode dirigir um Smart como um carro grande, porque o entreeixos curto praticamente lhe obriga a reaprender a dirigir no meio do trânsito caótico.
Custando a partir de R$ 57.900,00, ele não traz tantos itens de conveniência quanto o 500 ou o Mini. Fora o básico, ele tem ABS com EBD e BAS, controle de estabilidade, 4 airbags, alarme e câmbio automático. Mas seu CD player não tem MP3, entrada auxiliar ou Bluetooth, e ele não tem computador de bordo ou ajustes de altura de bancos ou cintos. Aqui o objetivo é mesmo priorizar a segurança em detrimento da conveniência.
Chrysler PT Cruiser
O PT Cruiser já viveu dias melhores. Ameaçado de extinção depois da união da Chrysler com a Fiat, ele acabou ganhando sobrevida. E as versões que vêm para o Brasil, Classic e Limited, acabam oferecendo ao consumidor a chance de adquirir um carro que, de diferente, só tem mesmo o design, sendo tão bom quanto um hatch médio ou uma minivan, inclusive no que diz respeito à dirigibilidade. Isso porque o PT é mais prático do que parece.
Primeiro, porque tem ótimo espaço para todos, na frente e atrás. Seu portamalas comporta até 528 litros de capacidade, o maior do segmento. Além disso, ele tem um ótimo motor 2.4 com 143 cv de potência e 21,4 mkgf de torque. Mas o melhor de tudo está no preço: por R$ 56.900,00 (preço de hatch médio) você leva um carro maior, mais versátil (até 26 combinações de arranjos de bancos) e que ainda traz de série, além do trivial, freios a disco nas 4 rodas com ABS e controle de tração, 4 airbags, computador de bordo, banco do motorista com ajustes elétricos e console central com porta-objetos. De quebra, você ainda leva um design diferenciado e boa liquidez.
Kia Soul
O Kia Soul, recém lançado no Brasil, já foi comparado com jipes, hatches e minivans. O interessante é que, na prática, ele não é nada disso. Seu design de caixote, do tipo “ame-o ou odeie-o”, acabou caindo no gosto geral e ele tem obtido ótimos resultados em vendas. Mas mesmo num segmento que preza a imagem, isso não é tudo.
Por dentro ele é bem mais convencional. É claro que a iluminação de alguns porta-objetos, do porta-luvas e do console central, num vermelho nada discreto, quebram a monotonia, mas o layout geral não é incomum. Com bom espaço interno para motorista e passageiros, seu portamalas de 340 litros poderia ser maior pelo porte do carro. Ainda assim, é maior que o de quase todos os concorrentes e pode ser ampliado para mais de 700 litros com o rebatimento dos bancos traseiros. O melhor do Soul está, porém, em seu ótimo motor (1.6 16v com 124 cv de potência e torque de 15,9 mkgf a 4.200 rpm, o mesmo do elogiadíssimo Cerato) e no preço de entrada de R$ 52.700,00 com câmbio mecânico – o mais baixo dentre todos. E, por isso, de série ele só traz o básico: ar, direção elétrica, trio elétrico, alarme keyless, CD player com MP3 e entrada USB e rodas de 16 polegadas. Bem menos que os demais.
Volvo C30
Muitos podem achar que o Volvo C30 não deveria estar aqui. Em tese, ele concorreria o com BMW 118i e o Mercedes CLC. Mas, em relação a estes dois, o C30 tem design diferenciado (especialmente a traseira – e depois da reestilização, sua dianteira ficou bem mais agressiva), somente 2 portas (como quase todos os carros de imagem) e custa bem menos que o BMW mais barato (a partir de R$ 85.000,00, 10 mil a menos que o 118i). Por seu design exclusivo e pelo que oferece, o Volvo parece se encaixar muito melhor neste segmento.
Por ser um Volvo, falar de segurança é lugar-comum. Ele já vem com freios a disco nas 4 rodas com ABS, controle de tração e estabilidade, 6 airbags, um sistema exclusivo contra o efeito chicote em caso de colisão e proteção extra contra impactos laterais. Também tem o básico, e ainda computador de bordo, piloto automático, bancos, volante e manopla de câmbio em couro e rodas de alumínio aro 16. A propósito, seu ar condicionado é digital e tem filtro antipólen. Utilizando a mesma plataforma do Ford Focus de segunda geração (que não aportou aqui), sua dirigibilidade é irrepreensível e seu motor de 145 cv e 18,9 mkgf de torque a 4.500 rpm o leva a 100 km/h em menos de 10 segundos. O acabamento, como é padrão neste segmento (e especialmente na Volvo), é impecável e discretamente elegante. O único senão vai para o portamalas, que comporta parcos 224 litros.
Todos são ótimos e, cada um a seu modo, sem dúvida oferecem um upgrade na imagem de seus donos. Sim, eles custam muito; mas nada como levar a exclusividade para casa. E exclusividade, para muitos, não tem preço.
Se o meu dinheiro desse certamente compraria um Soul.
ResponderExcluirO carrinho além de estiloso tem um custo beneficio fantastico.
O Smart não deixa a desejar!
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