Carro, assim como futebol, sempre é assunto para longas conversas. Quando demonstramos a intenção de trocar de carro ou comprar um novo, então, sempre ouvimos inúmeras recomendações e opiniões de pessoas que se consideram entendidas no assunto. O problema é que muita gente costuma considerar seus carros como parte da família, como um ser vivo até. Alguns acabam nos dando recomendações absurdas, enquanto outros dão receitinhas hilárias para não se fazer um mau negócio. Porém, negar alguma recomendação ou falar mal de determinado carro que caiu no gosto do colega que “já teve um desses” pode acabar deixando de ser assunto de conversa para virar motivo de briga.
Então, antes de se meter em confusão, que tal saber de algumas regrinhas que vão lhe ajudar de verdade na hora que você comprar ou trocar de carro?
0 km
Muitos acham que comprar um carro 0 km é sempre a melhor opção. Confesso que, por muito tempo, também fiz parte deste grupo. Mas a verdade é que, hoje em dia, a qualidade dos carros melhorou muito por conta da tecnologia e da automação das linhas de montagem. Sim, um ser humano faz um carro com muito mais paixão, mas um robô faz com muito mais precisão. Desta forma, muitas montadoras têm ampliado o período de garantia de vários de seus modelos, mesmo carros de entrada. Aqui mesmo no Brasil existem vários modelos com garantia de 3 anos, podendo chegar até a 5!
Mas se há algo que pode enganar muita gente é a falsa impressão de baixo custo de manutenção que carros novos costumam passar. Antes de fechar negócio, peça informações sobre o valor e a periodicidade de cada revisão. Garantias longas condicionadas a revisões na concessionária, realizadas por preços absurdos, com certeza não valem a compra.
As fábricas estão ficando atentas a isso e está se tornando cada vez mais comum lançar novos modelos já com preços de revisões tabeladas. Neste caso, tome nota do preço de cada revisão veiculado nos meios de mídia ou, se possível, carregue consigo um folder ou material publicitário qualquer com os preços impressos. Desta forma, a prática do “empurrômetro” ficará muito mais difícil para a concessionária.
Seminovo
Vamos, antes, definir o conceito de seminovo. Quase toda loja de carros afirma fazer negócios com novos e seminovos, mas poucas, para não dizer nenhuma, assume que faz negócio com carros usados. Isto, porque o mercado não vê as coisas assim, mas você, porém, pode ver. Vamos usar o termo “seminovo” para definir, então, carros com, no máximo, 2 anos de uso e baixa quilometragem, até 40 mil km rodados. Qualquer coisa além disso é carro usado.
Pois bem. Carros seminovos podem ainda ter garantia de fábrica, se o antigo dono se preocupou com as revisões obrigatórias. E se aconteceu, sorte sua. Por exemplo, um carro com 3 anos de garantia e 2 anos de uso pode já apresentar algum probleminha, mas você não precisará mais recorrer à obrigatoriedade das revisões para efetuar consertos: basta levar o carro na concessionária e solicitar a troca da peça defeituosa. Enquanto isso, todos os demais serviços que seriam realizados em revisões poderão ser feitos por fora, gastando muito menos. Já que a garantia vai terminar dali a 1 ano, é mais sensato poupar o valor de qualquer revisão e ajuntar isso na compra do seu próximo carro. Desconfie, porém, de carros sem manual ou sem o carimbo das revisões, ou ainda do vendedor que se recusa a lhe mostrar o manual: pode ser pepino.
Chore mesmo
Outra boa dica é barganhar. Mas faça isso sempre com provas na mão. Andar bastante é essencial para se fazer um bom negócio, não tem jeito. De preferência, procure, no mínimo, 4 carros semelhantes com preços diferentes para ter poder de barganha nas mãos. Aliás, a barganha vale também para brindes ou serviços gratuitos, como novo jogo de tapetes (mesmo para carros usados ou seminovos), CD player, tanque cheio, documentação grátis, bônus em dinheiro, lavagens grátis, e por aí vai.
É bom também entender que pouco uso e baixa quilometragem não são, necessariamente, indício de carro bem cuidado. Algumas pessoas simplesmente não se importam com manutenção preventiva, com buracos nas ruas e estradas ou com o ato de se forçar o motor na marcha errada, por exemplo. Assim, em qualquer compra é essencial dar uma volta no carro e, de preferência, levar com você o seu mecânico de confiança. Muitos vendedores fazem cara feia com isso, mas é seu direito. Sendo assim, desconfie quando um vendedor se recusar a deixar você dar uma volta com o carro ou avaliá-lo.
Outras dicas
Para verificar a lataria do carro, carregue consigo um imã pequeno e uma flanela nova. Ao encontrar o carro que lhe interessa, embrulhe o imã com a flanela e passe por sobre todo o carro. Partes não metálicas, como tampa de portamalas, frisos e parachoques não contam, mas se o imã se soltar em qualquer parte que deveria ser metálica, é sinal que ali há massa – ou seja, que o carro já foi batido. Abra ainda o capô e a tampa do portamalas, e observe se há emendas, marcas de soldas ou tinta de cor, textura ou qualidade diferente. No capô, aliás, observe se a peça que embute a fechadura do capô aparenta ser mais nova que o restante da lataria, inclusive onde ela está aparafusada. Isso também é sinal de acidente.
Verifique ainda o alinhamento das portas, observando o vão que há entre elas e a lataria. Abra-as e feche-as para analisar o ruído do fechamento, bem como o esforço ao fazê-lo. Portas desalinhadas e difíceis de fechar podem mascarar problemas sérios de estrutura, muitas vezes irreparáveis. Ouça se há barulhos de peças soltas dentro do carro: bancos soltos ou difíceis de irem para frente ou para trás, além de um painel cheio de barulhos e impressão de peças soltas, também podem indicar um sinistro no passado. Por fim, verifique se todos os faróis, setas, lanternas de freio e luzes de ré funcionam bem, bem como sistema de ar condicionado, vidros, travas, retrovisores elétricos e quaisquer outros itens elétricos e eletrônicos de sua nova provável aquisição. Trocar alguma dessas peças pode sair muito, muito caro.
Finalmente, não tenha vergonha de dizer quanto tem para gastar, nem medo de dizer “não” para qualquer oferta que você considere inadequada. Muitas pessoas acabam se tornando inadimplentes porque compram o que não precisam com o dinheiro que não têm, para impressionar a quem não conhecem. Gosto é algo absolutamente pessoal, mas nem toda compra precisa ser 100% emocional ou 100% racional. Procure, sim, algo que lhe agrade em termos de design, acabamento e layout interno, mas verifique DE FATO suas reais necessidades no dia-a-dia. Quem precisa de mais espaço deveria considerar a compra de um sedã ou minivan, mas muitos com este perfil acabam comprando hatches pequenos por uma simples questão de gosto relacionado à beleza. Com isso, se dizem insatisfeitos com seus carros e culpam as montadoras ou as publicações impressas ou virtuais pelas “falsas informações” sobre o carro.
Muitos sites oferecem ferramentas modernas e práticas para se encontrar um bom carro, fazendo filtragens específicas até que você encontre modelos que se encaixem em seu perfil. Muitas lojas anunciam em sites, mas o melhor é realmente comprar de particulares. O maior argumento das lojas está na revisão que eles fazem em todos os carros antes de colocá-los à venda, mas ninguém pode garantir, hoje em dia, que os velocímetros não foram adulterados e que a manutenção foi feita em dia. Afinal, com as ferramentas certas qualquer velocímetro pode ser modificado e carimbado, mesmo sem ter sido devidamente revisado. Um carro vendido por particular, em tese, não pode ter seu manual ou seu velocímetro adulterados, além do quê pessoas comuns têm menos treinamento para tentar lhe convencer a comprar uma coisa da qual você não precisa.
Em breve mais dicas. E boa compra!
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