O antigo Fit era quase uma unanimidade nacional. Foi o Eleito do Ano de Quatro Rodas por 4 anos consecutivos (de 2004 a 2007), era considerado por muitos símbolo de status e ainda gozava da mesma fama de resistência mecânica de todo Honda, além de ser um carro econômico e com desempenho surpreendente para sua motorização. O desafio da Honda ao lançar o novo Fit era oferecer um carro que fosse tão surpreendente quanto a primeira versão. Mas será que ela conseguiu?
Vejamos. Lá fora, o Fit (ou Jazz, como é conhecido em alguns mercados) é visto como um carro racional. É pequeno em tamanho e motor, porém espaçoso e com bom desempenho. E o melhor de tudo é que, pelo menos no exterior, ele é barato. Na Inglaterra, a versão mais em conta (S) custa 10.575 libras, que é equivalente a pouco mais de R$ 33 mil. Já a mais cara (EX-T) sai por 14.785 libras, ou cerca de R$ 46,5 mil. E nos EUA ele custa ainda menos, algo entre R$ 27 mil e R$ 30 mil.
Mas no Brasil ele é visto quase como um modelo de nicho, um carro de luxo. E por isso custa caro. A versão mais acessível (1.4 LX) custa, na tabela, R$ 52.405,00, enquanto a mais cara (1.5 EXL AT) pode chegar a R$ 69.180,00 em certas concessionárias – preço de sedã médio completo. Quando analisamos seu posicionamento no mercado, a impressão é que a Honda, sem ter um hatch médio, uma minivan e um compacto premium de verdade em seu portfólio, acabou por considerar o Fit um modelo que atende a todas essas necessidades e, por isso, merece ser vendido pelo preço de carros como esses. Mas a questão é saber se ele vale quanto pesa.
Analisando-o como um hatch médio, a resposta é “não”. Ele não tem o mesmo espaço interno de um i30 ou um Focus, apesar de, sendo mais alto, passar esta impressão. Também não anda como um hatch médio, apesar de ser muito estável nas curvas e ter direção bastante direta. Aliás, ele não chega a ser desconfortável, mas pelo acerto mais justo da suspensão ele acaba não filtrando tão bem as irregularidades do asfalto. Outro senão é a posição de dirigir: motoristas mais altos terão dificuldade para encontrarem uma posição ideal, apesar dos ajustes de altura do banco e de altura e profundidade da coluna de direção. O problema aqui não é espaço para a cabeça ou para os ombros, mas a distância entre o encosto do banco e os pedais, mais curta que em um hatch médio. Ainda assim, no que perde destes em espaço para o motorista e desempenho, ele ganha em espaço no banco traseiro e no portamalas, com declarados 384 litros – diga-se passagem, mais bem acabado que o do City e ainda com um porta-trecos de isopor sobre o estepe.
Falando em espaço, vamos vê-lo como minivan: outra vez ele não vale tanto quanto pesa. Sim, seu espaço é bom e seu portamalas idem, mas existem outras minivans tão ou mais espaçosas, e com preço de entrada muitíssimo mais em conta – considerando o que um comprador de minivan mais espera do carro. Veja uma simulação comparativa com uma Livina, por exemplo. O Fit LXL AT custa R$ 60.190,00, enquanto uma Livina SL AT custa R$ 56.890,00. O Honda tem motor 1.4 VTEC flex com 101 cv e traz, de série, ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, alarme, CD player comum (não integrado ao painel e sem entrada auxiliar), computador de bordo, ABS com EBD, airbag duplo e ajustes de altura do banco do motorista e de altura e profundidade da coluna de direção. Já a minivan da Nissan tem motor 1.8 16v flex com 124 cv, tem suspensão mais acertada, traz tudo o que o Fit tem (menos o ajuste de altura dos bancos, mas com a vantagem do CD player integrado ao painel com conexão USB, entrada auxiliar e Bluetooth), é mais espaçosa (inclusive no portamalas), mais silenciosa ao rodar (o Fit, assim como o City, deveriam ser mais silenciosos) e ainda tem 3 anos de garantia.
Falta avaliá-lo como compacto premium. Nesta, a princípio, ele se sai muito bem. Tem um ótimo motor, boa dirigibilidade, um toque de esportividade que sempre agrada a quem compra um hatch pequeno e (chovendo no molhado) mais espaço que todos os concorrentes. Na versão que testei, a EXL, o câmbio automático tem trocas suaves e, apesar da pouca interatividade do paddle-shift (que traz certo lag nas trocas), a posição S garante boas arrancadas e retomadas. Sendo ainda bem equipado, agradável a bordo (com computador de bordo, iluminação constante dos instrumentos, CD player integrado ao painel com entrada auxiliar e Bluetooth, ar digital e bancos em couro) e agregando todo o status que se espera, ele parece uma ótima opção frente à concorrência.
Mas espere, ainda temos que falar do preço. E, como diriam os mineiros, “é aí que o trem fica feio”. Para levar um Fit EXL, o comprador do Honda vai ter que desembolsar quase 70 mil reais. O C3 mais completo, com tudo o que o Fit tem – inclusive câmbio automático com opção de trocas manuais –, custa R$ 52.090,00. O Polo i-Motion com todos os opcionais, incluindo bancos em couro, sensores crepuscular e de chuva, teto solar e volante multifuncional igual ao do Passat CC, sai por R$ 60.846,00. E se você tiver 70 mil reais para comprar um Fit, por que não gastar mais R$ 3.378,00 e pensar num Punto T-Jet completíssimo, inclusive com teto Skydome, com o ótimo motor 1.4 turbo de 152 cv?
Pois é, pegou mal. Mas a questão é que ele continua agradando, e não se pode dizer que o Fit é um carro ruim. A questão é que, mesmo custando caro, se existe gente disposta a pagar por ele, que mal há nisso? Sorte da Honda, que sempre foi feliz com o posicionamento no mercado de seus poucos modelos brasileiros. Se há controvérsias ou não quanto a isso, a questão é que as 8.283 unidades vendidas em setembro e outubro (mais que todos os seus concorrentes, compactos premium ou minivans) dizem que o Honda Fit continua sendo muito querido pelos brasileiros.
"E se você tiver 70 mil reais para comprar um Fit, por que não gastar mais R$ 3.378,00 e pensar num Punto T-Jet completíssimo, inclusive com teto Skydome, com o ótimo motor 1.4 turbo de 152 cv?"
ResponderExcluirPensei a mesma coisa....
Eu pensei em várias outras opções, mas preferi ficar só nos concorrentes. Tanto sedã médio com preço semelhante...
ResponderExcluirT-JET falou tudo...
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