ALTA RODA, Fernando Calmon
VW Fox BlueMotion 2013 |
VW Fox BlueMotion 2013 |
Aspecto até
certo ponto confuso do novo regime automobilístico, em vigor entre 2013 e 2017,
é o estímulo às inovações tecnológicas. De fato, trazer as conquistas já
conhecidas no exterior aos carros aqui produzidos só merece apoio. As barreiras
para esse fim são amplamente conhecidas: baixo poder aquisitivo dos compradores
e alto preço desses equipamentos, em geral absorvidos em escalas de produção bem
maiores nos países centrais de três continentes.
Além disso, cerca
de 70% das vendas no mercado brasileiro se concentram em carros compactos e seus
derivados que, por razões óbvias, são os últimos, em qualquer lugar do mundo, a
receber as conquistas técnicas de segurança, conforto e utilidade.
Portanto, é
bom não esperar milagres. Mesmo porque o estímulo chegará na forma de redução
de apenas dois pontos percentuais no IPI. Os fabricantes serão estimulados a
ampliar seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Porém o grande
desafio está em adaptar o conhecimento existente no exterior às condições de
uso no Brasil e, mais importante, ao bolso dos compradores. Como também não
havia nenhum tipo de apoio fiscal, esse objetivo ficava cada vez mais distante,
em especial no campo da eletrônica e informática de bordo.
Faltam
também coerência e continuidade nas políticas governamentais. Afinal, de um
mandato presidencial para outro as prioridades mudam. A justificativa para
adoção em massa de motores flexíveis foi a volta do uso do etanol em larga
escala e a segurança ao motorista em eventual escassez ou subida de preço
temporária. No entanto, não se resolveu o impasse crucial nas bombas dos postos:
a gasolina tem preço congelado; o etanol, ao deus-dará.
Talvez os
fabricantes utilizem a especialização desenvolvida ao longo dos últimos anos
para melhorar a tecnologia dos motores flexíveis e se creditar da diminuição do
IPI. À exceção recente de motores de 1,6 litro da PSA Peugeot Citroën e apenas
um modelo da Volkswagen, até hoje continua desprezada a partida a frio aquecida
eletricamente apenas com etanol. Esse é apenas um exemplo simples do atraso da
indústria. A solução, todavia, tardou tanto que pode ficar superada. Basta os
fabricantes resolverem investir em sistema de injeção direta de combustível,
que vai bem com gasolina e ainda melhor com etanol, em termos de consumo e
desempenho.
Não se pode
assegurar de que tudo isso ocorrerá sem resolver o impasse do custo por
quilômetro rodado por um e outro combustível. Ou, então, se mudar a taxação
sobre emissões, como ocorre na Europa, onde gás carbônico (CO2) tem
impacto direto sobre o preço final dos veículos.
O Inmetro,
responsável pelo programa de etiquetagem veicular que classifica os carros em
termos de consumo de combustível, prepara nova tabela que incluirá informações
sobre CO2. A novidade é o índice corrigido, corretamente, pelo ciclo
fechado: da produção à ponta de escapamento dos motores. Nesse caso
combustíveis fósseis ficam mal na fotografia e abrem espaço para
biocombustíveis, caso do etanol de cana. Se o governo vai mexer nesse vespeiro,
afinar seu discurso dúbio, inconsistente sobre meio ambiente e criar taxação
sobre CO2 é algo de que ninguém tem a menor ideia.
RODA VIVA
FINAL da produção do Citroën Xsara
Picasso e o fim próximo do Chevrolet Zafira viram uma página sobre monovolumes
médios fabricados no Brasil. Só monovolumes compactos resistem. Fica expectativa
sobre por quanto tempo a Renault produzirá station média Mégane Grand Tour,
último produto brasileiro nesse segmento (tristemente) em extinção.
AUMENTO de 8% sobre importados da Fiat
provenientes do México – subcompacto 500 e crossover Freemont – teve a ver não
apenas com valorização do dólar frente ao real, mais ou menos na mesma
proporção. Ocorre que cotas acertadas no acordo bilateral de comércio limitaram
o equilíbrio oferta-demanda e o preço (no caso do 500) subiria de qualquer
forma.
POR outro lado, forte concorrência
entre produtos nacionais levou à redução definitiva (não é promoção) de até R$
2.000,00 nos preços de Polo e Golf. Importados da Coreia do Sul e China, que
não subiram de preço por razões estratégicas e outras menos elogiáveis, forçam
uma situação a que todos se submetem: leis de mercado.
DISTORÇÕES típicas do sistema
tributário brasileiro: imposto estadual (ICMS) menor para veículos importados
que chegam via portos em razão de “guerra” fiscal. Lei federal colocará ordem
na casa, mas como Estados pedirão compensação, quem compra carros (mesmo os nacionais,
sem usar portos) pagam a conta de forma indireta. Coisas do Custo Brasil.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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