ALTA RODA, Fernando Calmon
Apesar de o
Brasil ter se engajado no importante programa da ONU Década Mundial de Ações
pela Segurança no Trânsito (2011 a 2020), o que está sendo feito até agora é
muito pouco. O País permanece longe de implantar ou coordenar ações e muito
menos avaliar resultados. Nem mesmo consegue estatísticas confiáveis sobre o
número de mortos, que variam entre 40.000 e 60.000/ano em função da fonte.
Mais
assustador, o pior número refere-se às indenizações pagas por óbitos
comprovados, inclusive pedestres e ciclistas, pela Seguradora Líder,
administradora central do DPVAT, sigla quilométrica e proporcional ao tamanho
do problema: Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de
Vias Terrestres, ufa!
Como
comparação, a estimativa mínima é 20% superior aos vitimados em acidentes
fatais nos EUA, que têm frota circulante cerca de cinco vezes maior que a
brasileira. Aliás, a frota aqui apresenta contagem duvidosa, pois o Denatran
inclui veículos fora de circulação. Só nascem, nunca morrem. Total real é 30%
menor (em torno de 50 milhões de veículos, incluindo 13 milhões de motocicletas),
segundo estatísticas realísticas que levam em conta sucateamento, furtos,
roubos e acidentes.
Exemplo de
improvisação é a celeuma causada no recente episódio dos motofretistas – conhecidos
como motoboys. Depois de três adiamentos e novos bloqueios de vias públicas em
protestos, o Denatran não caiu na realidade. Os cursos obrigatórios de
reciclagem e adequação ao serviço são, de fato, insuficientes para atingir o
número de profissionais, no momento. Embora importantes, há exigências de
segurança nos veículos fáceis de cumprir: antena antipipa, protetor de pernas e
baú fechado com películas refletoras. Também se exigem coletes com tiras
reflexivas.
Razoável
seria separar a parte educacional – com cronograma factível – e iniciar a
fiscalização de imediato de itens que podem ser comprados. Quem toma decisões
em Brasília, sentado em gabinete refrigerado, precisa de coerência desde o
início e visão holística da situação.
Para não
dizer que nada foi feito, o Brasil se transformou no paraíso das empresas de
instalação de radares de fiscalização de velocidade. De 2006 a 2012, a cidade
de São Paulo, por exemplo, abrigou 600 novos radares. As multas automáticas subiram
de 4 milhões para 10 milhões por ano, aumento de 125%. A redução na perda de
vidas foi de 3% (de 1.407 para 1.365), mesmo com aumento da frota. Um avanço,
sem dúvidas, e merece aplausos.
Mas quanto
dessa bolada arrecadada na fiscalização eletrônica foi ou será aplicada nos outros
dois apoios (educação e engenharia de trânsito) do clássico tripé de segurança,
aceito em todo o mundo? Ninguém sabe, ninguém viu. Faltam sete anos para o
término do programa da ONU, mas pelo que aqui se demonstrou não funcionará como
deveria no Brasil.
RODA VIVA
RESGATE de nomes antigos está na moda
(menos criativa) da indústria. GM tinha Cobalt (no exterior), a VW, Voyage e
agora Fusca, e a Fiat, Uno. Chato é designar, hoje, um carro do passado fora do
segmento original. Caso da família 500, da Fiat, com derivações bem maiores, ou
do Santana (hoje, Passat) que utilizará a arquitetura anabolizada do compacto
Polo, em 2014.
FORD conseguiu, graças à importação
favorecida do México, conjunto bem competitivo no novo Fusion 2,5 Flex por R$
92.990. Número elevado de itens de série surpreende: do sistema de navegador
(tela de 8 pol) por comando de voz, aos oito airbags (dois para joelhos). Há duas
telas reconfiguráveis no quadro de instrumentos e até abertura das portas por
código.
MOTOR aspirado de 2,5 l/175 cv (etanol)
do Fusion paga imposto maior que o 2-litros turbo (240 cv). Não decepciona em
desempenho pelas dimensões internas e externas (2,85 m, entre-eixos e 514 l,
porta-malas). Rodas de aro 17 pol (versão Titanium, 18) e pneus de perfil mais
alto permitem menor aspereza de rodagem, mas suspensões, macias demais.
CIVIC ganhou vida ao lançar motor flex de
2 litros/150 cv, na eterna briga com Corolla. Disponível na versão intermediária
LXR e na EXR (R$ 83.890,00) motor tem vigor e bom câmbio automático, cinco
marchas. Ao usar etanol, dispensa gasolina na partida em dias frios. Oferece segurança
(ESP) e conveniência de GPS, mas sem ajuste elétrico de banco.
ABEIVA (associação de importadores sem
fábrica no Brasil) prevê 2013 melhor que 2012, porém 25% abaixo de 2011. Até o
fim do ano, mesmo com janeiro fraco, umas 150.000 unidades serão vendidas.
Mesmo encolhido, ainda atrai novos atores, como Geely, 51ª marca no mercado
brasileiro, a partir de agosto próximo.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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