Pendurar pneu na traseira do carro é uma coisa que parece só pegar aqui no Brasil. Na Europa, por exemplo, a fim de tornar as vendas do rejeitado EcoSport mais expressivas, a Ford redesenhou a traseira e colocou o estepe pra dentro (não foi só esse o motivo da rejeição, mas não deixa de ser uma tentativa). Na contramão da preferência dos países desenvolvidos a Chevrolet aderiu à febre pseudo-aventureira que atinge até minivans por aqui e lançou, no fim do ano passado, a Chevrolet Spin Activ.
Só que ao contrário do que costuma acontecer no segmento a decoração da Spin Activ não ficou carregada, pelo contrário. A aparência parruda é obtida pela combinação dos apliques plásticos nos para-choques, para-lamas e laterais, da maior altura da suspensão, com bonitas rodas de liga leve e pneus de uso misto, e do estepe atrás, que contribuiu para reduzir as críticas à traseira, alvo dos maiores protestos no modelo original. Ficou bonita, veja só.
Interior com padronagem escura deixou a Spin Activ mais requintada |
A Chevrolet também trabalhou bem no interior, mudando a tonalidade predominantemente clara para tons mais escuros no painel e nos bancos, esses feitos com 4 materiais distintos - 2 tipos de tecido, camurça e imitação de couro, com resultado bem bonito. O acabamento é bom e os encaixes são bem feitos de forma geral, mas há exceções. A tampa do porta-luvas, por exemplo, fica desalinhada em relação à moldura do painel quando fechada. O carpete, por sua vez, poderia ser mais resistente; nas presilhas de fixação do tapete de borracha do lado do motorista ele rasgou de um lado e ameaçava rasgar do outro, pelo repetido esforço de retirada do tapete para higienização.
Motor 1.8 8v é suficiente para a cidade mas deixa motor estrangulado em altas rotações |
O modelo que avaliamos veio com o bom câmbio automático de 6 marchas (há também a opção do mecânico de 5), com escalonamento que compensa os números tímidos do antiquado propulsor 1.8 8v de 108 cv e 17,0 kgfm de torque usando etanol. Para o trânsito urbano o conjunto é suficiente e o condutor não vai sentir falta de força, com acelerações graduais, trocas ascendentes e reduções suaves, sem trancos. Na estrada a situação muda; mesmo com a transmissão entendendo rapidamente o estilo de condução do motorista é difícil não sentir o motor estrangulado nas rotações mais altas: é muito peso para deslocar. O resultado é que, mesmo trabalhando bem, o câmbio não consegue conter o consumo, que ficou em 8,2 km/l de etanol na média.
A opção é dirigir de forma mais calma, mas é assim que a Spin Activ mostra suas principais qualidades. A suspensão, por exemplo, trabalha muito bem para filtrar irregularidades e, apesar do centro de gravidade elevado, segura com competência toda aquela massa nas curvas - claro, desde que não se queira abusar. O sistema de direção hidráulica, apesar de um pouco pesado em manobras, tem peso correto em velocidade. A GM forrou bem a minivan com material fonoabsorvente, a exemplo do sedã que lhe deu origem, o Cobalt.
Espaço é bom nos bancos da frente... |
...e razoável no banco traseiro |
A vida a bordo também é boa, ainda que não seja perfeita. A posição de dirigir é típica de minivan, com amplitude limitada do ajuste de altura do banco do motorista mas boa visibilidade, graças à grande área envidraçada e retrovisores de bom tamanho e abrangência - até o estepe interfere pouco sobre o campo de visão obtido através do vidro traseiro. O motorista conta com mimos diversos para tornar a viagem agradável para si e para seus acompanhantes. O sistema MyLink conta com Bluetooth de fácil pareamento, áudio com boa qualidade sonora e ajustes simples, além de entradas auxiliares diversas - o modelo avaliado não veio com GPS. Há porta-objetos e nichos espalhados por toda a cabine. No volante multifuncional há comandos para telefonia e controlador de velocidade. Já os comandos do computador de bordo ficam na alavanca esquerda; não gostei. Também não me agradou o fato de o ar condicionado demorar a gelar a cabine e não contar com saídas para o banco traseiro.
Porta-malas de 710 litros é o maior do segmento |
O espaço na frente é bom e no banco traseiro é razoável. Poderia melhorar se a GM recuasse o banco um pouco, já que a Spin Activ não conta com versões de 7 lugares. A contrapartida é o latifúndio de 710 litros do porta-malas, que poderia até ser maior se a GM tivesse preferido incluir nichos para acomodação de objetos pequenos no espaço destinado ao estepe. Em vez disso ela encheu o vão com uma moldura de espuma e encaixou nesta as ferramentas.
Sistema de abertura do suporte de estepe e da tampa do porta-malas contam com falha de projeto |
O mecanismo de abertura da tampa do porta-malas revelou uma falha de projeto, porém. Ao destravar o suporte do estepe a fechadura elétrica da tampa imediatamente fica desbloqueada; caso o usuário não leve o suporte até o fim do curso e o trave, numa rua desnivelada ele pode retornar e danificar tanto a si mesmo quanto à tampa do compartimento. O certo seria incluir um sistema que desbloqueie a fechadura somente a partir do travamento do suporte no fim de seu curso.
Carpete frágil estava rasgado ao redor da presilha de fixação do tapete do motorista |
Em segurança, por se tratar de um veículo familiar, a Spin Activ deixa a desejar em alguns aspectos. Há encostos de cabeça e cintos de segurança de 3 pontos somente para 4 ocupantes; o quinto passageiro usará cinto abdominal. O banco traseiro não conta com Isofix. Airbags, somente os 2 dianteiros previstos em lei, bem como o ABS com EBD. As frenagens, porém, ocorreram em espaços satisfatoriamente curtos e sem desvios de trajetória graças, em parte, à adoção de pneus maiores. Há ainda faróis de neblina, alarme com fechamento automático dos vidros e sensor de estacionamento de série.
Custando entre R$ 63.340,00 com câmbio mecânico e R$ 68.520,00 com câmbio automático e pintura metálica (preço do modelo avaliado) a Chevrolet Spin é um bom veículo familiar e está na média do segmento. O visual é interessante e compensa o preço superior à da versão comum de 5 lugares. A cotação de seguro (*) ficou em R$ 2.074,00 para a região de Valinhos (SP). A garantia oferecida pela Chevrolet é de 3 anos.
Veja também, a depender de seu gosto e seu bolso
Citroën AirCross - Custa a partir de R$ 58.990,00 com câmbio mecânico e chega a R$ 73.480,00 com câmbio automático, pintura perolizada e GPS integrado. O motor 1.6 16v é mais potente (122 cv) e tem partida a frio sem tanque de gasolina, mas o câmbio automático não é tão competente. O espaço no banco traseiro é semelhante ao da Spin Activ, mas o porta-malas perde de longe com 403 litros.
Fiat Idea Adventure - Pioneira no segmento de minivans aventureiras urbanas, a Idea pode ser equipada com câmbio manual ou automatizado de 5 marchas, sem o mesmo resultado nas trocas que o obtido pelas concorrentes com câmbio automático. O motor é sempre o 1.8 16v de 132 cv com etanol e os preços variam entre R$ 60.590,00 com câmbio mecânico e R$ 73.583,00 completa com pintura metálica. O porta-malas é o menor do segmento (380 litros) e ela não tem central multimídia nem como opcional, mas é a única que conta com as opções do diferencial Locker para auxílio à tração em terrenos acidentados ou escorregadios e dos side-bags.
Nissan Livina X-Gear - Custa a partir de R$ 57.990,00 mas não tem opcionais além da pintura metálica, vindo sempre completa de série inclusive com bancos de couro e ar condicionado digital. Além do visual não há nenhuma diferença mecânica em relação à Livina comum. O espaço interno é bom e o porta-malas comporta 449 litros. O acerto mecânico é dos melhores, com o motor 1.8 16v de 126 cv com etanol e o câmbio automático de 4 marchas - ela só é vendida com este tipo de transmissão - proporcionando o melhor desempenho do segmento. Fica devendo central multimídia e ajustes para o banco do motorista, e perde pontos também pelo visual cansado.
Fotos: Maximiliano Moraes
Colaborou: Eliane Fernandes | Aguiar Corretora
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