ALTA RODA, Fernando Calmon
Vários
aspectos do novo regime de produção para a indústria automobilística, que
começa em 2013 e vai até 2017, ainda estão em profundas análises por quem já
produz ou pretende produzir aqui. O que esperar do futuro? Para o consumidor
importa saber se comprará carros mais baratos, atualizados e econômicos.
Torna-se
necessário diferenciar preço nominal (nas tabelas sugeridas) e preço real, que
considera a inflação. Apesar de aceitar a matemática na discussão ser incomum,
de fato, nos últimos cinco anos praticamente todos os automóveis baixaram de
preço em termos reais, ou seja, subiram menos que a inflação. Sem falar do
acréscimo de equipamentos sem reajuste de preço ou com reajuste parcial, forma
disfarçada de descontos. Se a nova política de atrair investimentos alcançar pleno
sucesso, cinco ou seis novos fabricantes produzirão no Brasil e a oferta de
modelos será ainda maior que hoje. Caminho certo para compras mais acessíveis,
considerado ainda o maior poder aquisitivo nos próximos anos.
Haverá
também estímulos, em forma de crédito de até dois pontos percentuais no IPI,
para as empresas que comprovarem investir um percentual do faturamento (excluídos
impostos) em pesquisa, inovação e engenharia locais. A intenção é incentivar tecnologias
mais modernas e próximas ao que existe hoje no exterior. A forma de se atestar continua
meio obscura, porém o governo pretende delegar essa responsabilidade a
certificadoras independentes. Exemplo: freio ABS será obrigatório, mas adoção
de controle de trajetória/estabilidade (ESC, em inglês), que se associa ao ABS,
fará jus ao desconto? Modelos híbridos estarão incluídos? Ponto positivo é o
incentivo empresa a empresa, caso a caso, a fim de estimular a concorrência.
Muito ruim para
o consumidor foi o governo permitir os fabricantes escolherem três, entre
quatro requisitos, para se habilitar ao novo desenho industrial: pesquisa/inovação;
engenharia/tecnologia industrial; etapas fabris/aumento de conteúdo local; e adesão
ao programa de etiquetagem de consumo de combustível. Em outros termos, a
informação primordial da eficiência do veículo continua facultativa, em vez de
obrigatória. Os que optarem pelas etiquetas terão, agora, até cinco anos para
incluir todos os modelos de sua produção e não somente alguns, como hoje. A
chamada Nota Verde, do Ibama, ficou de fora, pois rendimento energético
(controle de CO2) é mais relevante.
A mudança na
aplicação de conteúdo local obrigará as fábricas a importar menos componentes
com dólar barato e se esforçar em comprar autopeças para gerar empregos aqui e
não no exterior. Adotou-se um modo complexo de cálculos, sem índice fixo, como
ocorria antes e de forma, digamos, amigável. No entanto, induzirá o aumento
desse índice, o que não agradou a todos, claro.
Importadores
que decidirem produzir no Brasil terão normas flexíveis de nacionalização. Poderão,
ainda, ter desconto no acréscimo do IPI nos modelos que trazem do exterior,
limitado a 50% do volume que fabricarão aqui. Tudo só será concedido depois do
início da produção, para evitar falcatruas como a da Asia Motors, no final dos
anos 1990, que importou sem impostos em troca de construir fábrica na Bahia e
nunca saiu do papel.
RODA VIVA
IMPORTADORES que já têm planos
anunciados de fábricas no Brasil – Chery, JAC, Suzuki, entre outros – tentarão
acelerar os projetos. Quanto mais cedo começarem a produzir, mais cedo receberão
de volta créditos de IPI sobre os modelos vindos do exterior no momento. Entretanto,
as dificuldades são grandes porque há vários obstáculos que não existem na
China ou Japão.
PARA a BMW o novo regime da indústria
automobilística exige outras avaliações de médio e longo prazos. A marca alemã
não deseja abrir mão de ter fabricação local. Legislação faz algumas exigências
que impactam os custos e o volume dos investimentos. Movimentos de concorrentes
diretos, como Mercedes-Benz e Audi, também entram nessas conjeturas.
ENQUANTO Anfavea mantém inalteradas
suas previsões sobre crescimento de 4% a 5% do mercado interno em 2012, os
menos otimistas acham que as vendas estacionam este ano, se os bancos
continuarem seletivos demais e assustados com a inadimplência. Também se deve
considerar que o primeiro semestre de 2011 foi muito bom e distorce as
comparações.
MAHINDRA pretende fazer produto mais
adaptado ao Brasil, quando decidir anunciar seu investimento em unidade
industrial no Rio Grande do Sul. Além de reformulação estilística, em relação
ao existente na Índia, já sabe que o brasileiro gosta de modelos robustos, mas
não abre mão de conforto de marcha. Nisso, nossa engenharia de suspensões dá
bailes.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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