ALTA RODA, Fernando Calmon
A chamada
Lei Seca, que procura inibir o ato de dirigir sob efeito de álcool ou de substâncias
entorpecentes, sofreu um rude golpe depois da decisão do Superior Tribunal de
Justiça (STJ). Na semana passada, confirmou a interpretação constitucional de
que ninguém é obrigado a se submeter ao teste do bafômetro ou ao exame de
sangue porque estaria produzindo provas contra si mesmo, em caso de responder a
processo criminal.
Dois fatos
precisam ficar claros. Primeiramente, não há Lei Seca no Brasil porque se
estabeleceu um limite mínimo de tolerância de 0,2 grama de álcool por litro de
sangue. Entre 0,2 g/l e 0,6 g/l o motorista recebe multa de R$ 957,00 e tem a
carteira de habilitação suspensa por até um ano. São referências bastante
rígidas, no mesmo nível de outros 20 países. Se o motorista exceder o limite
superior, comete crime e é processado, mas a partir de agora lhe fica
assegurado pelo STJ o direito de recusa aos testes.
O segundo
fato é que, mesmo se negando a qualquer avaliação legal, o infrator hoje já sofre
penalidades pecuniárias e administrativas acima descritas. Mas quem realmente
abusou dos limites fica livre da cadeia, o que inviabiliza o ponto mais forte da
lei. O STJ culpou a redação, aprovada pelo Congresso em 2008, ao estabelecer o escalonamento
alcoólico. Os juízes protagonizaram votação apertada, cinco votos a quatro.
Diversos
juristas discordam, pois provas testemunhais, fotografias ou vídeos são válidas
diante de algo tão grave. Sinais notórios de embriaguez (hálito forte, confusão
mental, desequilíbrio espacial, fala prejudicada, olhos avermelhados) deveriam
levar o motorista, no mínimo, a dormir uma noite na cadeia e, depois de
processado, cumprir pena em regime fechado.
Países como
os EUA resolveram esse impasse. A maioria dos 50 estados impõe a concordância
aos testes químicos (bafômetro, sangue ou urina) para receber a carteira de
habilitação. O consultor Rexford Parker informou à coluna que as tentativas de
apelar para a Constituição foram rechaçadas. “Mesmo quem bebeu um só copo de
cerveja submete-se ou a carteira é suspensa no mínimo por 90 dias. Alguns
estados decretam a prisão em flagrante de quem recusar o teste quando há acidente,
está acima da velocidade, transporta menores de idade ou recebeu condenação
anterior por dirigir sob influência de álcool ou drogas.” Na França, se o
motorista repudiar o bafômetro, exame de sangue se torna obrigatório.
O Congresso
Nacional movimenta-se para reformular a lei e já se fala em tolerância zero, a
exemplo do que ocorre no Japão, Suécia e Noruega, ou seja, nenhuma concentração
de álcool no sangue, uma verdadeira Lei Seca. Testemunhas durante as blitze seriam
suficientes. Mas o motorista poderia solicitar o uso do bafômetro, dessa vez
como prova de defesa e não de autoacusação.
Por outro
lado, parece injusto punir da mesma forma quem ingeriu um ou dez copos de
bebida alcoólica. Vários países têm limites um pouco superiores a 0,6 g/l, mas
isso é menos relevante. O que não pode continuar é o falso dilema de produzir
prova contra si mesmo. Se a Lei (totalmente) Seca for a única forma de resolver,
que venha.
RODA VIVA
LISTA organizada por um blog na
Austrália apontou os 100 modelos mais vendidos no mundo. Corolla teria liderado
com 1,142 milhão de unidades em 2011. Porém, sob critérios discutíveis. Todos os
Corollas estão juntos, inclusive versões hatch (Auris, na Europa; Matriz, nos
EUA). Mas Golf e Jetta, por exemplo, hatch e sedã do mesmo modelo, somaram
1,559 milhão.
CONFORME antecipou a coluna, a Honda
começou a construir agora nova fábrica México. Produzirá o Fit, a partir de
2014, para exportação aos EUA e todas as Américas. Significa que se o modelo passar
a vir do México ao Brasil, libera espaço na unidade de Sumaré (SP) para o
futuro compacto da marca japonesa. Sem a necessidade de construir novas
instalações industriais.
AMAROK com inédito câmbio automático de
oito marchas torna-se referência no segmento de picapes médias. Vai além, ao
adotar sistema 4x4 permanente, cujo diferencial central Torsen distribui tração
entre os eixos dianteiro e traseiro, conforme o uso exigir. Terceiro item
exclusivo é freio ABS para superfícies não pavimentadas. Desempenho fora de
estrada impressiona.
VOLTA da picape pesada Ram (ex-Dodge),
importada do México, comprova interesse da Chrysler no mercado brasileiro. Única
no segmento e oferecida por R$ 150.000. Preço muito competitivo, considerando
30% adicionais de IPI, nível de equipamentos e novo motor diesel de 310 cv e
torque de 84 kgf.m que dá inveja a caminhão. Aliás, para dirigi-lo só com
carteira de camioneiro.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e
apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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