terça-feira, 6 de janeiro de 2015

LIFAN 530 TALENT X JAC J3 TURIN S JETFLEX



Quando a Lifan lançou o 530 no Brasil em outubro passado ela deixou claro que o sedã mirava Voyage, Etios Sedã, Prisma e cia. Mas, convenhamos, seu principal concorrente é mesmo o JAC J3 Turin, o sedã compacto chinês mais bem-sucedido do mercado até hoje. Vá lá, a média não é alta: a JAC contabilizou, entre janeiro e novembro de 2014, um volume médio de 158 unidades mensais vendidas do Turin, posicionando-o à frente somente do moribundo Peugeot 207 Passion e de outro chinês, o Chery Celer Sedã. Mas em novembro o então recém-lançado Lifan emplacou 10 unidades a mais que o JAC.

Para saber se isso é somente efeito da novidade ou se há potencial real para incomodar a concorrência, reunimos o Lifan 530 Talent em sua versão mais completa (R$ 42.490,00) e o JAC J3 Turin S JetFlex (R$ 43.690,00) para um comparativo. Qual vence?




DESIGN, MONTAGEM E ACABAMENTO

Sem dúvida, o design do 530 é mais bem resolvido. Não há nenhuma revolução, mas nenhuma falha ou exagero. Tudo é proporcional e é possível notar boas referências de estilo em vários ângulos sem que isso delate uma tentativa de copiar este ou aquele modelo. O J3 Turin ainda agrada, especialmente depois do tapa no visual da dianteira e da traseira, mas posto ao lado do Lifan percebe-se a defasagem: entre-eixos curto, grande balanço dianteiro e traseiro e suspensão alta tornam o carro menos harmonioso.

A qualidade de montagem do J3, por outro lado, é superior. Por fora não é possível notar grandes diferenças ou irregularidades nos vãos, mas ao rodar o Turin passa uma impressão muito maior de solidez. Ao passar por irregularidades algumas vezes o 530 pareceu frágil, com ruídos vindos da suspensão e da parte de trás do painel, acentuados ainda pelo escasso revestimento acústico. Na unidade avaliada, inclusive, o banco do motorista chegou a se soltar depois que um quebra-molas sem sinalização acabou transposto com um pouco mais de vigor, dado o curto espaço de frenagem.


O interior do JAC J3 Turin S é mais bem acabado, enquanto o do Lifan 530 é moderno e minimalista

O acabamento do Lifan também não alcança o do JAC. A única coisa em que supera o Turin neste aspecto é a iluminação dos instrumentos, mais agradável e de melhor visualização - o vermelho usado pelo J3 faz com que o display do sistema de áudio fique praticamente ilegível durante o dia, além de cansar um pouco à noite. Por outro lado, depois da remodelação a cabine do J3 Turin, especialmente da versão S, se tornou mais refinada. A JAC usou materiais de melhor aspecto visual e tátil no painel, com destaque para a moldura imitando alumínio para os difusores do ar condicionado e o sistema de áudio, e nos bancos, que apresentam costuras regulares e tecido de textura e aparência agradáveis. O 530 mostra um layout minimalista e moderno, mas o uso de plásticos de aparência pobre, que brilham demais com a incidência de luz solar, bem como encaixes mal feitos, tornam sua cabine um lugar menos aprazível. O revestimento em couro e a costura dos bancos agrada, mas não compensa o desleixo com o resto.

JAC 1 x 0 Lifan




ESPAÇO E CONFORTO

Aqui não tem conversa; os números jogam contra o J3. Mais estreito (1,65 m contra 1,69 m do 530), mais baixo (1,46 m contra 1,49 m) e com entre-eixos mais curto (2,40 m contra 2,55 m), não adianta lutar contra as leis da física. Surpreendentemente, mesmo sem ajuste de altura dos bancos, o motorista viaja melhor no JAC. O espaço é mais bem aproveitado e a amplitude do ajuste da coluna de direção é um pouquinho maior, ainda que permaneça deixando a desejar por não regular a distância. Os bancos do J3 são mais largos e confortáveis, mas não abraçam bem nas curvas.

De todo jeito a proposta de um sedã compacto é levar bem gente e carga, e no banco traseiro falta espaço; o vão para as pernas é pequeno e o ressalto no meio, bem como a largura menor, fazem um eventual terceiro passageiro sofrer. Por fim, mesmo com capacidade divulgada ligeiramente superior à do Lifan - 490 contra 475 litros -, o Turin claramente oferece espaço equivalente, ganhando apenas no acesso: o vão de entrada para bagagens é maior.


Bancos são revestidos e costurados com esmero em ambos os modelos...

...mas o Lifan 530 Talent guarda mais espaço para os ocupantes, especialmente no banco traseiro

O que pega no Lifan é a horrenda posição de dirigir. O banco do motorista tem ajuste de altura, mas é como se não tivesse; mesmo na posição mais baixa ele ainda fica alto. A coluna de direção faz o caminho inverso: na posição mais alta ela permanece baixa demais e o resultado são pernas esbarrando no volante o tempo todo. Como se não bastasse os bancos são estreitos e o apoio lateral é insuficiente. Tudo isso prejudica a ergonomia, já que alguns comandos acabam mais distantes das mãos, e também o fato de não haver botões no volante para controlar o sistema multimídia - é preciso tirar os olhos do trânsito para acessar as funções - ou o computador de bordo - só acessível por meio de um frágil botão entre os instrumentos principais.

Por outro lado, passageiros vão muito bem no 530, na frente e atrás. O assoalho plano e a largura privilegiada permitem acomodar um terceiro passageiro sem drama. O espaço para bagagens, como já foi dito, é semelhante ao oferecido pelo modelo da JAC, mas colocar a carga no porta-malas exige mais paciência e habilidade com Tetris do que o razoável, graças ao vão de entrada pequeno. Outro senão é a colocação meio "jogada" das ferramentas e do triângulo no compartimento, o que torna necessário reposicioná-los para não os danificar no momento de acomodar a bagagem. Mas isso não tira a vitória do Lifan neste quesito.

JAC 1 x 1 Lifan





MOTOR E CÂMBIO

Tanto o Lifan 530 quanto o JAC J3 Turin S trazem motores 1.5 16v com comando variável de abertura de válvulas. O Turin, porém, leva vantagem pelo fato de contar com sistema flex que permite partidas a frio sem a necessidade do reservatório extra de combustível e também por entregar potência e torque bem maiores: são 127 cv de potência e 15,7 kgfm com etanol. O propulsor do 530, movido somente a gasolina, não entrega mais do que 103 cv de potência e 13,6 kgfm de torque.

Como não poderia deixar de ser, a diferença de desempenho é bem grande a favor do J3 Turin S. Além de mais potente ele é 40 km mais leve (1.100 contra 1.140 kg do Lifan), acelerando e retomando velocidade com muito mais vigor. E não é só isso: o funcionamento, além de mais linear, também é mais suave; nele, até o ronco do motor estimula uma condução mais esportiva, mesmo que, na prática, isso não seja possível. O câmbio também passou a contribuir mais para isso depois que ganhou calibragem mais precisa e trocas mais suaves. As relações de marcha ainda são um pouco longas e o curso da alavanca também, mas não tanto quanto no sedã da Lifan.


Ambos os motores são 1.5 16v VVT, mas o JAC entrega 127 cv e 15,7 kgfm contra 103 cv e 13,6 kgfm do Lifan

No 530 falta potência para acompanhar o Turin. No dia-a-dia isso faz diferença? Certamente não. Mas na estrada, sim. Ultrapassagens e retomadas precisam ter mais planejamento, especialmente com o carro cheio e o ar ligado. Para completar, o funcionamento do motor é áspero e ruidoso, fazendo com que o motorista acabe receoso em pisar mais fundo, e o câmbio, com relações ainda mais longas que as do sedã da JAC (e curso idem), não ajuda. Pelo menos os engates são suaves, silenciosos e, na média, melhores que os do J3.

Teoricamente, o Lifan 530 é mais econômico. Fazendo 15,7 km/l na estrada e 11,2 km/l na cidade ele conseguiu uma média de 13,45 km/l de gasolina durante a nossa avaliação, enquanto o J3 Turin S chegou aos 10,4 km/l na estrada e 8,1 km/l na cidade, conseguindo 9,25 km/l de etanol em média. Nas cidades de Valinhos e Campinas (SP), porém, o custo do etanol (média de R$ 1,75 o litro) é atualmente mais vantajoso que o da gasolina (média de R$ 2,69 o litro), fazendo com que o custo por quilômetro rodado seja de R$ 0,19 para o JAC e R$ 0,20 para o Lifan. Nominalmente a diferença não é grande e em outras regiões isso pode mudar, mas o desempenho mais empolgante do Turin certamente o coloca à frente do 530.

JAC 2 x 1 Lifan




DIREÇÃO, SUSPENSÃO E CARACTERÍSTICAS DE RODAGEM

Direto ao ponto: se há uma coisa em que a Lifan soube trabalhar foi na calibragem da suspensão do 530. Mesmo sendo menos moderna que a do Turin, com eixo de torção na traseira, a maior distância entre-eixos torna o carro mais assentado e o acerto obtido pela fábrica proporcionou ao sedã bom equilíbrio entre estabilidade e conforto. É uma pena que seja ruidosa e, em algumas situações extremas, como ao transpor buracos no asfalto abertos pela chuva, passe sensação de fragilidade. A direção elétrica cumpre muito bem o seu papel nas manobras e assume firmeza na medida certa em velocidade, num compromisso ideal para o perfil do carro. Por outro lado, nem o material nem a empunhadura do volante agradam.

O problema do Lifan é a falta de revestimento acústico. Em qualquer regime de rotação o ruído do motor invade a cabine mais do que se espera, mas quando é preciso acelerar fundo o barulho é tanto que parece haver um furo no escapamento. No 530 é preciso conversar ou ouvir música sempre em volume mais alto do que o razoável, tornando as viagens sempre mais cansativas.



No J3 Turin o acerto da moderna e robusta suspensão sempre foi digno de elogios, especialmente quando se roda em percursos urbanos. Já dissemos outras vezes e repetimos: há poucos carros hoje no mercado nacional que conseguem filtrar as imperfeições do asfalto com tanta competência. Para a estrada falta um pouco de firmeza, mas isso não prejudica a estabilidade. A direção tem assistência hidráulica, com resultado um pouco pior que o do sistema da Lifan: um pouquinho mais de peso nas manobras e o carro um pouco mais "solto" em velocidade. Por outro lado o volante tem "pega" melhor graças ao revestimento em couro e ao ressalto em sua parte superior.

O Turin é também mais competente em filtrar ruídos. Com a remodelação a JAC trabalhou para melhorar a eficiência do revestimento acústico, tornando o sedã mais silencioso que a versão anterior. Interessante é que mesmo o J3 Turin antigo conseguia ser menos ruidoso que o 530, sinal de que a Lifan precisa realmente agir para melhorar o sedã neste aspecto.

JAC 3 x 1 Lifan




SEGURANÇA

Freios ABS e airbag duplo são itens obrigatórios para qualquer carro vendido no Brasil hoje em dia. Deixaram de ser, portanto, itens diferenciais para se tornarem triviais. Como não poderia deixar de ser, ambos trazem o duo. Mas o Lifan se sobressai por apresentar uma lista de equipamentos de segurança mais completa que a do JAC.

Só o Lifan traz freios a disco nas 4 rodas e cintos de segurança de 3 pontos para todos os ocupantes, além de contar com o sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis. Só ele também traz câmera de ré, sistema safe on para partida (onde só é possível dar a partida no carro com a embreagem acionada), piscas em led embutidos nas carcaças dos retrovisores e coluna de direção colapsável em caso de colisões.

O J3 Turin não traz nada que seu concorrente não tenha. Alarme, travamento automático das portas, faróis e lanternas de neblina e sensor de estacionamento traseiro, presentes no JAC, fazem parte também do pacote do 530.

JAC 3 x 2 Lifan




CUSTO x BENEFÍCIO

Se o comparativo fosse entre um modelo de origem chinesa e outro sedã compacto já consagrado no mercado, talvez a escolha se baseasse no preço. Mas entre 2 chineses o preço não é tudo: esta foi a disputa mais acirrada deste comparativo.

Ambos trazem, de série, ar condicionado, ajuste de altura dos faróis principais, faróis e lanternas de neblina, abertura interna do bocal do tanque e do porta-malas, vidros elétricos nas 4 portas com one-touch para o do motorista, retrovisores com ajuste elétrico e rodas de liga-leve. O Lifan, porém, supera o JAC na lista de equipamentos. Na versão Talent completa com o Hyper Pack (como a avaliada) são de série ainda, além dos itens de segurança exclusivos citados no quesito anterior, o revestimento dos bancos em couro, a central multimídia com tela touch-screen que mostra imagens da câmera de ré e agrega GPS, Bluetooth e áudio com CD/DVD/MP3 player e entradas auxiliar, micro SD e USB, o computador de bordo, a direção com assistência elétrica, os leds diurnos e o comando de abertura do porta-malas na chave. Para o J3 é possível adquirir bancos revestidos em couro e central multimídia como acessórios, mas não há preços tabelados.


J3 Turin entrega mais espaço nominal para bagagens, mas só o Lifan tem abertura do porta-malas pela chave

A vantagem do Turin está nos detalhes. Além do motor bem mais potente, só ele traz palhetas flat-blade, volante revestido em couro com comandos do áudio e suspensão dual link na traseira. O ajuste de altura dos faróis tem maior amplitude, com 5 posições (contra 3 do 530). A garantia oferecida pela JAC é maior, com 6 anos sem limite de quilometragem contra 5 anos dada pela Lifan ao 530. O modelo da JAC também leva vantagem no seguro: na cotação mais vantajosa a apólice trouxe o valor de R$ 2.884,19 para o J3 Turin S, enquanto o Lifan 530 Talent não é segurado por menos de R$ 3.105,75.

De um lado temos preço menor, mais espaço e mais equipamentos. Do outro, mais potência, maior garantia e seguro mais barato. É uma questão de prioridades; por isso temos um empate.

JAC 4 x 3 Lifan


Lifan 530 Talent com Hyper Pack: R$ 42.490,00. JAC J3 Turin S JetFlex: R$ 43.690,00.


RESULTADO

A vitória do JAC J3 Turin S 1.5 JetFlex foi apertada. Nele é possível perceber a atenção especial da JAC ao mercado, aperfeiçoando-o em todos os aspectos possíveis para torná-lo o melhor Turin vendido por aqui e um dos modelos mais bem acertados da marca. Seu projeto, porém, já mostra os sinais da idade e não consegue mais atender à demanda de espaço e funcionalidade dos consumidores deste perfil de veículo.

Bonito, espaçoso e bem equipado, o Lifan 530 Talent tem enorme potencial para agradar e poderia ter vencido este comparativo se não fosse o desleixo da marca com aspectos-chave para seu consumidor-alvo. O motor é um dos mais fracos e de pior performance no segmento, mas isso poderia ser relevado pelo motorista comum, que espera desempenho apenas suficiente para a maior parte das situações do dia-a-dia. Ruins mesmo são a qualidade de montagem, o isolamento acústico e a posição de dirigir; ninguém quer estar num carro que não os receba bem.

Colaborador: Eduardo Farah
Fotos: Maximiliano Moraes e Eduardo Farah

6 comentários:

  1. Olá!
    Achei interessante a matéria mas tenho duas perguntas.
    Pq não comparar os carros com o mesmo tipo de combustível, sabnemos que um carro com álcool rende mais tanto em CV quanto em Torque.
    Qual a seguradora que fez estas cotações? E qual critério usado? Sim pq o perfil da pessoa muda o valor da apólice e isso devia ser deixado claro. Tenho um conhecido que paga bem menos no J3Turin dele.

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    1. Olá, DS. Obrigado por seu comentário!

      Temos por padrão avaliar carros flex sempre com etanol no tanque. Como o Lifan 530 é movido somente a gasolina, não tivemos opção. De todas as formas os valores de potência e torque do motor do J3 Turin S continuam muito superiores aos do 530 usando gasolina: são 125 cv de potência a 6 mil rpm (perda de 2 cv) e 15,5 kgfm de torque a 4 mil rpm (perda de 0,2 kgfm). Os dados de desempenho são minimamente afetados com o uso de gasolina no modelo da JAC.

      As cotações foram feitas por 3 seguradoras, sendo que a mais em conta foi emitida pela Liberty Seguros. O perfil foi de um homem na faixa dos 40 anos, casado, com 2 filhos pequenos, morando na cidade de Valinhos e com trabalho em Campinas, com garagem fechada e portaria em casa e no serviço, mas deixando o carro eventualmente em vagas na rua. Há que se considerar ainda que o J3 Turin é vendido em 2 versões, sendo que a versão S - tanto do hatch quanto do sedã - são consideradas esportivas pela maioria das seguradoras, o que aumenta o valor das apólices.

      Um abraço!

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  2. Obrigado pela pronta resposta
    Minha dúvida sobre o seguro foi elucidada.
    abraços

    DS

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  3. JAC me conquistou!
    Mas em Goiania, Anapolis, DF andando pelas ruas eu vejo que os chineses estao conquistando o mercado.
    42 mil num UP, Palio, Gol pelado e com motor fraco???
    Sou mais JAC J2 (tem mais motor), um Novo Celer Hatch ou um Lifan 530!
    Todos sao mais carros e preço esta mais em conta e todos os chineses tem concessionarias no Eixo Goiania - Anapolis- DF e estao fazendo muito sucesso no Centro Oeste!
    VW 1.0 caro e fraco, nunca mais, to fora!
    Prefiro Lifan, JAC e Chery!

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  4. Difícil dizer o que ficou melhor, se o texto ou as fotos. Parabéns. Só discordo quanto ao estilo do JAC. Considerando que muitos carros têm desenho arrojado e horroroso (como o Prisma, que parece um tanque de guerra ou o New Fiesta, que parece saído de um filme de ficção B), acho que as pessoas que gostam de linhas leves como as do JAC devem ser contempladas também.

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  5. Existe alguma outra materia sobre o J3 Turin S 2017?

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