domingo, 14 de março de 2010

SEDÃS PEQUENOS PREMIUM











Depois da grande polêmica por causa do comparativo de QR entre sedãs médios, muitos ainda se perguntam se não teria sido melhor para a Honda posicionar o City num segmento de mercado inferior. Até a própria QR, em edição anterior, lançou o seguinte comentário: “O City poderia ser o novo padrão entre os sedãs compactos, se a Honda quisesse.” (Edição 594, agosto de 2009) Suas vendas refletem a aprovação de muitos, que vêem no modelo uma boa alternativa ao Honda Civic – mesmo sendo menor. Porém, paremos para pensar: se fosse mais barato, será que ele não seria ainda mais vendido, com a vantagem de ser amplamente aprovado pela crítica e pelos entusiastas como nova referência no mercado entre sedãs compactos premium?


Este é o ponto de vista deste comparativo. Considerando o que o comprador de sedãs compactos premium procura (mais espaço, mais desempenho, mais conforto e um pouco mais de status num sedã mais em conta que um médio), agrupamos aqui 6 modelos que, em tese, entregam o que se pede e mais um pouco: 5 considerados realmente pequenos – Fiat Siena HLX 1.8, VW Polo Sedan Comfortline 1.6, Ford Fiesta Sedan Class 1.6, Peugeot 207 Passion XS 1.6 16v e Renault Symbol Privilége 1.6 16v – mais o pseudo-compacto Honda City. Para facilitar a análise, foram definidos 6 quesitos: design, desempenho, conforto, segurança, consumo e custo x benefício. O vencedor de cada quesito levará 6 pontos, o segundo levará 5 e assim por diante.















Design

Cada um tenta conquistar o consumidor com armas diferentes, mas neste critério – apesar de subjetivo – podem-se classificar os modelos em 3 blocos distintos: os belíssimos, os bonitos e os indecisos. No primeiro bloco, City e Siena se destacam. O Honda, apesar de parecer despersonalizado, tem um desenho cosmopolita (para agradar a gostos diferentes nos vários países onde é comercializado) e bem resolvido, além de ter sido lançado recentemente. Já o modelo da Fiat teve a reforma visual mais feliz desde o seu lançamento, quando era considerado o patinho feio da linha Palio; frente agressiva com belos faróis, traseira à la Alfa Romeo, cromados na medida certa e bonitas rodas de alumínio formam um conjunto bastante agradável aos olhos. No segundo bloco estão Polo Sedan e Fiesta Sedan, ambos com um design correto e equilibrado, mas já um pouco desgastados pelo tempo. Em último lugar ficam Passion e Symbol, com um design “ame-o ou odeie-o”. O Passion, por causa da polêmica reforma visual inspirada no 207 europeu, desproporcional em relação ao 206 (ainda que seja ele o modelo mais equilibrado da linha 207); o Symbol por causa do conservadorismo e falta de agressividade do design, bem como da clara inspiração no modelo do qual deriva, o Clio Sedan – que sempre foi considerado feio.

City e Siena – 6 pontos
Polo e Fiesta – 4 pontos
Passion e Symbol – 2 pontos















Desempenho

Este foi um dos quesitos mais difíceis de julgar. Primeiro, porque houve alternância de vencedores em aceleração (City, 10,2 s), retomada de 60 a 100 km/h (Siena, 9,5 s) e retomada de 80 a 120 km/h (Symbol, 14,1 s). Depois, porque muitos modelos têm virtualmente a mesma potência (Fiesta, 111 cv; Passion, 113 cv; Siena, 114 cv; Symbol, 115 cv; City, 116 cv), o que os colocou em pé de igualdade na disputa. Foram detalhes e pequenas diferenças nos números que possibilitaram a escolha de um vencedor, e ele acabou sendo o Symbol. Apesar de ter ficado em segundo lugar no 0-100, o Renault foi mais ágil, de modo geral, nas retomadas, com menor diferença de tempo nas passagens de 60-100 e 80-120 que o Siena (4,4 s contra 5,8). Além disso, ele também ficou em segundo em torque (o Siena ganha esta), mas por ter 16 válvulas, sua curva de torque acaba sendo mais aproveitável (pico de torque aos 3.750 rpm; pico de potência aos 5.750 rpm). Em segundo ficou o City, com a melhor marca no 0-100 e boas retomadas, mas com pouco torque (o que, em tese, prejudica seu desempenho quando cheio) e com pico em altíssima rotação. Em terceiro fica o Siena, com boas marcas de retomada, mas somente o 4º lugar em aceleração e funcionamento áspero do motor 1.8 em altas rotações. Em quarto fica o Passion, que fica à frente do Siena em aceleração, mas perde nas retomadas. Já em quinto fica o Polo, e sua colocação se dá mais pelo bom rendimento do motor de 104 cv do que por seus resultados, onde ele praticamente empata com o Fiesta – que fica em último justamente por se igualar ao VW, apesar de ter mais potência e torque.

Symbol – 6 pontos
City – 5 pontos
Siena – 4 pontos
Passion – 3 pontos
Polo – 2 pontos
Fiesta – 1 ponto

















Conforto

Conforto é algo que se mede sob vários pontos de vista. Um carro mais espaçoso que outro é, teoricamente, mais confortável; mas se este tem melhor acabamento e é mais silencioso, a teoria se desfaz. Neste quesito a briga entre City e Polo foi feia. O primeiro tem maior entreeixos, mais espaço interno, maior portamalas, boa qualidade de montagem e bom acabamento, apesar de um layout interno bastante impessoal, ainda que moderno. O segundo tem ótima qualidade de montagem, excelente dirigibilidade, um câmbio praticamente perfeito e ótimo acabamento. Mas enquanto o City tem rodar mais macio graças à suspensão mais mole e aos pneus mais altos (e finos), o Polo é um carro mais “na mão”, com suspensão firme e mais estabilidade. Ambos empataram ainda na média de nível de ruído, com 64,8 dBA. Mas por causa de seu rodar macio e silencioso, o City acabou ganhando do Polo, que ficou em segundo lugar. Na seqüência vem o Passion (atrás de Polo e City em nível de ruído, com 65,6 dBA), com uma suspensão bem acertada que proporciona ao motorista um meio-termo entre firmeza e maciez, além de acabamento de primeira, ótimos bancos e bom espaço para motorista e passageiro da frente, ainda que falte espaço para os de trás e no portamalas. O Symbol fica em quarto lugar menos pelo layout do painel (bastante sem sal) e mais pelo ótimo acabamento da cabine, que é silenciosa e tem espaço razoável para o motorista e os passageiros, além do excelente portamalas de 506 litros – onde empata com o City. O Fiesta fica em quinto porque oferece a mais que os outros espaço interno, onde fica atrás somente do City, e articulações pantográficas no portamalas (único do comparativo), que permitem melhor arrumação da bagagem. Seu acabamento, porém, é o pior de todos, com plásticos de qualidade inferior e em maior quantidade que o esperado para um modelo com este preço, além de qualidade inferior de montagem e o último lugar do comparativo em nível de ruído. Já o Siena, apesar do bom acabamento, perde de todos graças às suas linhas internas já cansadas, ao mau posicionamento das saídas do ar condicionado e ao pouquíssimo espaço interno (resultado de sua menor largura e entreeixos diminuto), o que é um paradoxo em relação ao portamalas generoso.

City – 6 pontos
Polo – 5 pontos
Passion – 4 pontos
Symbol – 3 pontos
Fiesta – 2 pontos
Siena – 1 ponto















Segurança

Quando tratamos de carros familiares como os sedãs, segurança é fundamental. Alguns carros aqui foram testados com ABS e outros sem o equipamento, mas ainda assim serão consideradas as marcas absolutas. Neste comparativo 2 carros brilharam: Polo Sedan e Symbol. Ainda que o VW não tenha se sobressaído nas retomadas, são dele as melhores marcas de frenagem, graças à presença do ABS. Também com ABS, o Renault ficou em segundo lugar em frenagem, mas se redime com ótimas retomadas e um comportamento excelente da suspensão, garantindo ótima estabilidade – assim como o Polo. O Fiesta Sedan também surpreende com as melhores marcas de frenagem sem o ABS (opcional), garantindo o terceiro lugar. O Siena fica com o quarto lugar, com marcas próximas às do City, quinto lugar (ambos sem ABS), mas com menor diferença entre as distâncias consideradas. Quanto ao City, é imperdoável a decisão da Honda de não oferecer o equipamento nem como opcional, mesmo caso do Passion mecânico – último lugar neste quesito –, onde quem quiser o ABS terá, obrigatoriamente, que escolher o modelo automático. Porém, enquanto o City ostenta melhores marcas de retomada, sua estabilidade é comprometida justamente pela suspensão macia e pelos pneus finos, enquanto o Passion, mais baixo, com pneus mais grossos e rodas maiores, apresenta um comportamento mais neutro em curvas. Ambos empatam em último lugar.

Polo e Symbol – 6 pontos
Fiesta – 4 pontos
Siena – 3 pontos
City e Passion – 2 pontos

















Consumo

Aqui não há o que discutir: vence quem gasta menos. E a surpresa do teste foi o modelo da Ford, com a melhor média ponderada de consumo (cidade / estrada). Segundo lugar para o City; terceiro para o Polo; quarto para o Passion; quinto para o Symbol e sexto para o Siena, único do comparativo com motor 1.8.

Fiesta – 6 pontos
City – 5 pontos
Polo – 4 pontos
Passion – 3 pontos
Symbol – 2 pontos
Siena – 1 ponto















Custo x Benefício

Todos os modelos avaliados tinham o que se considera como item fundamental para um sedã premium: ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, CD player com MP3, airbag duplo, alarme e rodas de liga leve. Por isso, o preço considerado foi de modelos com, no mínimo, esses itens no pacote. Outra briga feia, desta vez entre Symbol e Passion. Com tudo o que se pode esperar de um sedã premium e mais os diferenciais do ar digital, computador de bordo, ABS e um portamalas imenso por preço razoável, o Symbol empata com o Passion, que compensa a falta de ABS não somente com o sistema de ar igualmente digital e o computador de bordo, mas ainda com sensores crepuscular e de chuva, mais o menor preço do comparativo: R$ 44.500,00. O Polo Sedan e o Fiesta Sedan os perseguem no terceiro lugar, também empatados. O Polo se destaca graças à grande oferta de equipamentos (que inclui o ar digital e à regulagem de altura e profundidade da coluna de direção) – apesar da ausência do controle elétrico para retrovisores, presente em pacote de opcionais que o tiraria da média de preço do comparativo. Já o Fiesta tem a menor quantidade de equipamentos do teste (o ar condicionado é comum e ele não tem computador de bordo), mas ainda assim ele tem o suficiente e traz ainda bom espaço interno e bom portamalas (algo a se considerar num sedã), sendo o segundo mais barato do comparativo. Em quinto lugar fica o Siena, com uma imensa quantidade de opcionais que podem levar seu preço a mais de 60 mil reais. Porém, com os opcionais sugeridos para o teste – e ainda que some a eles o computador de bordo e o ABS –, seu preço fica próximo ao do Polo Sedan, um carro superior em muitos aspectos. E o City, finalmente, tem preço, muitíssimo superior aos dos concorrentes. Além do mais, ainda que seja o único a trazer direção elétrica, o sistema de ar condicionado é comum e, como já foi dito, ele não traz ABS nem como opcional. Sua única vantagem, virtualmente, é o status agregado, algo difícil de se considerar numa análise de custo x benefício. Como seu tamanho avantajado em relação aos outros não justifica seu preço, ele fica em último lugar no quesito.

Symbol e Passion – 6 pontos
Polo e Fiesta – 4 pontos
Siena – 2 pontos
City – 1 ponto


Conclusão

O resultado deste comparativo não poderia ser mais surpreendente. Com 25 pontos, City, Polo Sedan e Symbol acabaram empatados. O Fiesta Sedan ficou em quarto, com 21 pontos, enquanto o 207 Passion terminou com 20 pontos. Na lanterninha ficou o Siena, com parcos 17 pontos. Porém, analisando todos os quesitos, é justo dar a vitória do comparativo ao carro mais equilibrado dentre todos: o VW Polo Sedan. Sua maior qualidade é ser suficientemente bom em todos os aspectos, ainda que tenha um desempenho ligeiramente inferior ao da concorrência (mas nada que o comprometa). City e Symbol, por sua vez, são ótimos em vários aspectos, mas são bem ruins em outros e isso acaba comprometendo tanto o resultado do teste quanto a imagem do produto. O Fiesta Sedan, antes referência entre os sedãs compactos, acabou sofrendo as desvantagens de ser um projeto um pouco defasado em relação à concorrência, mas ganha pontos por ainda ser um dos poucos sedãs compactos que entrega bom espaço interno com ótima dirigibilidade. O Passion tem o demérito de ser nada mais que uma adaptação para o mercado brasileiro, ainda que seja um produto interessante. Quanto ao Siena, seu design não é suficiente para fazer frente à concorrência nesta faixa de preço; tanto é que a participação da versão HLX no mercado é muitíssimo tímida.

No final das contas, quem definirá qual o melhor sedã deste comparativo é o consumidor. De posse dos dados da tabela abaixo, basta que o comprador dê peso maior àquilo que considera mais importante. E ele mesmo sairá ganhando.



















Todos os dados desta tabela foram obtidos no site BestCars e em várias edições da revista Quatro Rodas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CITY X SENTRA NA QR: FALTA DE RESPEITO



Desde o princípio, o Racionauto tem tentado abordar o assunto “carro” de maneira diferente das publicações e sites especializados. Aqui, o que vale é o ponto de vista do consumidor comum, que não é como um jornalista dedicado ao assunto, geralmente entusiasta e piloto nas horas vagas, que testa os carros cedidos para as reportagens como se estivesse numa competição, conferindo números de aceleração, velocidade máxima e aceleração lateral. Considero também que nenhum consumidor comum com bom senso, no dia-a-dia e em sã consciência, vê os semáforos como linhas de largada, as estradas como autódromos e os motoristas vizinhos como adversários.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

NA PONTA DO LÁPIS


Volkswagen Fox

Se fôssemos separar os consumidores de carros por categorias, acredito que seria possível estabelecer pelo menos 3: a dos que compram por diversão (analisam desempenho, dirigibilidade e design, às vezes preferindo um usado mais equipado e potente), a dos que compram pensando em investimento (o que importa é o valor de compra, a liquidez e a desvalorização, e por isso geralmente compram carros queridos pelo mercado) e a dos que compram por necessidade (seus critérios são custo x benefício, consumo e custo de manutenção, pouco importando beleza e desempenho).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FIAT LINEA HLX DUALOGIC




O Fiat Linea é um paradoxo. Claro, ele não é o único no mercado nacional; na própria Fiat ele tem uma companheira, a Strada Cabine Dupla. O caso dela, que quer ser 2 coisas (automóvel e picape) e não consegue ser nenhuma, não deixa de ser curioso. E só para citar outro caso curioso, vamos nos lembrar do Honda City, o pequeno que quer ser médio.



















As contradições do Linea, porém, parecem ser um pouco mais sérias. Lançado como sedã médio, ele não foi bem aceito e se tornou pivô da discórdia entre entusiastas da Fiat – felizes e animados com o lançamento – e conhecedores do mercado – que não entendiam como um sedã derivado de um hatch pequeno um pouco anabolizado poderia ser considerado um carro médio. Depois, temendo um destino semelhante ao do Marea (que caiu no ostracismo), a Fiat lançou uma versão mais despojada e o reposicionou no mercado, o que acabou gerando resultados bem mais positivos em vendas. Mesmo assim, isso não resolveu um dos maiores dilemas que cercam o modelo: ser um carro com comprimento e distância entreeixos de sedã médio, mas com espaço interno de hatch premium e motorização com pouca tecnologia, típica de hatch médio de entrada.

Isso nos faz pensar sobre os motivos que levam uma pessoa a comprar um Linea. Sabe-se que compradores de sedãs premium ou médios levam muitíssimo em consideração pelo menos 5 aspectos: itens de série, design, desempenho, tecnologia e espaço. Mas com tantos sedãs bem definidos em sua proposta e posicionamento no mercado, qualidade reconhecida e custo x benefício semelhante (ou até melhor), por que alguém escolheria um, digamos, “Punto Sedã alongado”?

Itens de série






















Analisando pontualmente a versão mais vendida (segundo a Fiat), a HLX Dualogic, já encontramos o primeiro (bom) motivo: muitos itens de série por preço atraente. É bom lembrar que a Fiat reposicionou o Linea no mercado e isso faz com que esperemos mais de um carro de R$ 61.816,00 (com pintura metálica). E o Linea não decepciona: ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico (com acionamento elétricos dos vidros para as 4 portas), airbag duplo, freios a disco nas 4 rodas com ABS, rodas de alumínio, abertura interna do portamalas, CD player com MP3, volante revestido em couro com ajuste de altura e profundidade e comandos do rádio, câmbio dualogic, chave-canivete com controle para abertura de portas, vidros e portamalas, computador de bordo, piloto automático e porta-óculos. Sim, existe uma versão mais em conta (R$ 55.430,00), mas que também vem recheada: exclua da versão acima somente as rodas de alumínio, o ABS e o câmbio dualogic, essencialmente.

Design




















Também pode ser um bom chamariz para o comprador. Por ser derivado do Punto, o Linea aproveitou um pouco de suas belas linhas, mas com detalhes que imprimem identidade própria ao modelo com um resultado muito bom. Sóbrio e dinâmico ao mesmo tempo, tem cromados na quantidade e no lugar certo, e a dianteira, diferenciada em relação ao Punto, conversa muito bem com a traseira – com destaque para as lanternas, de desenho harmonioso e muito bonito. Por dentro, o Linea também agrada com bom acabamento e materiais de boa textura, além do bonito e agradável layout do painel, especialmente à noite.

Desempenho




















Outro bom motivo de compra. O ronco do motor, grave e metálico, entusiasma e chega a lembrar, em certas rotações, um Alfa 4 cilindros. É áspero, mas não incomoda. De rodar macio e construção sólida, ele filtra bem as imperfeições do asfalto e acomoda muitíssimo bem o motorista, graças às regulagens do banco e do volante (ambos em distância e altura), que, inclusive, tem ótima pega. E ele anda bem, apesar de acelerar menos que alguns concorrentes – 11,3 segundos para ir de 0 a 100 km/h e retomada de 80 a 120 km/h em 8 segundos cravados, auxiliado pelo câmbio dualogic. Mas aí começam os problemas...

Em consumo, o Linea deixa a dever: média de 5,8 km/l na cidade e de 8,2 km/l na estrada, com álcool. Além disso, o câmbio dualogic não ajuda muito em termos de comodidade no dia-a-dia. Suportar os trancos nas trocas de marchas por semanas, meses ou anos é uma coisa que requer muito amor pelo carro ou muita paciência. Querendo ou não, você olha para o câmbio e imagina que está guiando um carro automático, literalmente. Mas aí, resolve acelerar um pouco mais numa saída de sinal e... Tranco. Na estrada, se precisa ultrapassar, pisa fundo e... Tranco. Nem mesmo câmbios automáticos em carros mais antigos geravam tanto desconforto. Disse-me o vendedor que isso pode ser amenizado caso você tire o pé do pedal a cada troca de marcha, como faria com um carro com câmbio manual normal, com a única diferença de não ter que apertar um pedal de embreagem. Neste caso, porém, a proposta de conforto de um câmbio automático ou automatizado perde um pouco o sentido.

Tecnologia






















Falta de tecnologia não é um problema, se você não souber disso. Parece que é o que pensa a Fiat em relação ao Linea. Sim, os donos do carro têm um carro que roda com um propulsor 1.9 16v com bloco de ferro fundido, sem variador do comando de válvulas, de alto consumo, com potência específica mais baixa e relação entre peso e potência mais alta que a de seus concorrentes, além de uma suspensão simples; mas isso tudo eles não vêem nem sentem. Enquanto isso, contam com freios ABS, podem ter 6 airbags à disposição, equipamento de som com leitor de MP3, entrada USB e Bluetooth, navegação por GPS, sensores de estacionamento, de chuva e crepuscular – e isso tudo se vê e se sente. A máxima aplicada pela Fiat é muito lógica e faz muito bem para as vendas.

Espaço




















Neste aspecto não há como disfarçar: o Linea sofre as conseqüências de ser derivado de um carro pequeno. Mesmo comprido (4,56 m) e com entreeixos interessante (2,60 m), ele é mais estreito que seus concorrentes e tem menos espaço para a cabeça dos ocupantes do banco traseiro. Comparando-o com o Corolla, por exemplo, que tem exatamente o mesmo entreeixos, isso fica ainda mais evidente – e não deixa de ser interessante, já que o Corolla é mais baixo mas tem melhor aproveitamento interno do espaço. Mesmo na frente, onde o motorista se senta com conforto, o passageiro sofre um pouco por causa do espaço ocupado pelo console central. Quanto ao portamalas, com 500 litros declarados e articulações pantográficas (que não ocupam espaço no compartimento), não se pode reclamar do espaço: as bagagens vão bem acomodadas. Mas o vão de entrada é um pouco estreito; pais de crianças pequenas, que precisam carregar carrinhos e/ou cadeirinhas de viagem, eventualmente, podem não gostar disso.

Enfim, o Linea não é ruim. Só é pior que muitos modelos com os quais concorre. Em contrapartida, ele tem o mérito de ter atingido um público muito específico e que, surpreendentemente, é maior do que muitos poderiam supor. Um grupo de pessoas que:
- prefere VER a tecnologia do que SABER de sua existência;
- prefere QUANTIDADE à QUALIDADE;
- gosta de dirigir, mas não se preocupa muito com o conforto de quem vai junto;
- gosta da idéia de ter algo diferente dos demais (por exemplo, um carro com câmbio automatizado em vez de automático) e está disposto a arcar com as conseqüências de algum desconforto;
- não abre mão da suposta confiança em uma marca estabelecida em nosso mercado, por mais que isso possa redundar em prejuízo da qualidade.

Todos os dados de desempenho e consumo foram retirados do site Best Cars.