sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

OS REJEITADOS












Brasileiro tem mania de sedã. Tanto é que várias marcas lançam unicamente no Brasil versões sedã de modelos que, em outros mercados, só têm configurações hatch e/ou perua. Sedãs, aqui, têm um quê de “carro de diretoria”; são sinônimo de status. Mesmo sedãs de entrada são capazes de arrancar alguns suspirinhos de inveja do vizinho que ainda tem um hatch pequeno básico. Isto, porque muitos consideram a aquisição de um sedã uma forma de dizer que o sujeito melhorou de vida – mesmo que ele custe o mesmo que um hatch.

Também por este motivo o mercado de sedãs médios no Brasil está tão aquecido. Afinal, são 15 modelos, em sua maioria similares aos vendidos no exterior e que fazem muita gente torcer o pescoço no trânsito pela beleza de suas linhas. Porém, já dizia o ditado que beleza não põe mesa. Alguns destes sedãs parecem ter caído no poço do esquecimento para o grande público consumidor: vendem menos que McFish.

Quero falar especificamente sobre 6 modelos: Ford Focus Sedan, Nissan Sentra, Renault Mégane, Volkswagen Bora, Peugeot 307 Sedan e Kia Cerato. Eu poderia citar ainda o Subaru Impreza Sedan, mas seu nome sequer aparece no ranking ainda. Já o Kia Magentis é considerado médio por seu preço, mas suas dimensões o colocam mais perto de sedãs médio-grandes. Também poderia falar do Astra Sedan, mas coitado... Moribundo, ele não é tão simpático em termos de custo x benefício quanto seu irmão hatch e a queda no preço de entrada do Vectra fez o favor de jogá-lo ainda mais para escanteio. Deixa quieto.

Para se ter uma idéia do quanto esses modelos são rejeitados, basta dar uma olhada no ranking geral de vendas até novembro deste ano. Corolla e Civic, claro, são hors concours: as 93.723 unidades vendidas destes 2 modelos superam as vendas de todos os demais sedãs juntos. Mas conferindo as vendas de outros 4 modelos bem quistos pelo público – Vectra, Linea, City e Pallas – vê-se que o total de suas vendas é quase o dobro da vendagem dos rejeitados: 58.388 contra 31.780. Por que isso acontece?













Ford Focus Sedan

O Focus Sedan é um exemplo clássico de ótimo carro que não caiu nas graças do público. Testado à exaustão por todas as publicações especializadas, venceu praticamente todos os comparativos. Sua dirigibilidade é impecável, seu design é o mesmo do vendido no exterior e ele ainda foi considerado o automóvel menos poluente do Brasil. Porém, a Ford cometeu o erro de lançar um modelo novo com motor movido somente a gasolina, em tempos de flexibilização quase total da frota nacional – e isso, sem dúvida, é fator determinante para a rejeição. Outros, porém, atribuem o insucesso à traseira do modelo, que, dizem, não combina com a dianteira. Eu não concordo, mas não sou a maioria nem tenho um Focus.











Peugeot 307 Sedan

Falando em traseira, não existe exemplo mais claro de falta de sincronia do que o 307 Sedan. Ok, carros familiares não precisam, necessariamente, ser ícones de design; mas ali o negócio desandou mesmo. Mesmo o portamalas enorme e a ótima relação entre custo e benefício do pacote Presence Pack não são suficientes para amenizar o asco causado pelo (mau) impacto visual do prolongamento enxertado na traseira do belo 307 hatch. Mais uma vez, uma marca cometeu o erro de desconsiderar o gosto do brasileiro por carros que agradam primeiramente à vista.












Kia Cerato

Mas nem só de patinhos feios é composto o mundo dos sedãs rejeitados. O novo Cerato é lindo e foi muito elogiado pela mídia, especialmente pelo ótimo desempenho do motor 1.6 e pelo preço, considerando todos os equipamentos de série. O fato de ser importado e não ser flex poderia pesar mais, mas outros coreanos – especialmente i30, Tucson e Azera, todos da Hyundai – têm batido recordes sucessivos de vendas em seus segmentos. O problema é que as 400 e poucas unidades vendidas mensalmente, em média, ainda são poucas frente à concorrência. Um alento é saber que esta média já supera a de sedãs consagrados, como Sentra, Mégane, Astra e Bora. Sinal de que há esperança.












Renault Mégane

Mas se o sedã é nacional, bonito, barato, flex, bem equipado e é sempre elogiado pela mídia, por que será que não vende? Neste caso, falamos do Mégane. Muita gente diz que é preconceito contra marcas francesas, mas o Pallas está aí para provar o contrário. Outros dizem que a mecânica é frágil, mas ele foi aprovado no teste de 60.000 km de Quatro Rodas e vários especialistas consideram o motor 1.6 16v da Renault como um dos que possuem melhor acerto mecânico no Brasil. Aqui, parece que não há explicação. Porém, basta ver o descaso com que a Renault trata alguns de seus modelos para entender o fracasso nas vendas; ela simplesmente não investe em marketing. Como, então, vender um produto do qual as pessoas não se lembram?











Nissan Sentra

O Sentra poderia se encaixar nesta discussão, já que a Nissan faz parte do mesmo conglomerado que a Renault. Porém, o caso dele é um pouco diferente. Para começar, a campanha “Não tem cara de tiozão” acabou gerando um efeito contrário no grande público: todos consideram o Sentra um carro de tio. Isso não anula suas qualidades, é claro, mas causa certa rejeição. Além disso, mesmo sem recolher imposto de importação, todos sabem que o Sentra é importado e, culturalmente, brasileiro tem medo da manutenção de carros importados – mesmo no caso de um carro bem acertado como ele. Finalmente, quando se fala em Sentra entra-se na discussão sobre modelos japoneses, e é muito comum a escolha recair sobre Civic ou Corolla. Aí fica difícil.











Volkswagen Bora

Terminamos com o Bora, que vem muito bem equipado, é bom de dirigir e é barato. Mas há motivos para a VW vender tão poucos Bora (aliás, ele sempre vendeu pouco), e eles são fáceis de perceber. Para começar, é o sedã médio com o pior aproveitamento interno de espaço (entreeixos de 2,51 metros e projeto antigo, com teto baixo e túnel central alto). Depois, possui talvez o motor mais antiquado de toda a concorrência, um 2.0 remanescente da era AP que tem menos potência que o 1.6 do Cerato. Para terminar, se antes o seu design, mesmo discreto, era original, a reforma chinesa deixou o sedã com cara de gambiarra. Trocando em miúdos, o Bora vende pouco porque brasileiro não é tão bobo quanto se imagina.

É para pensar. Dentre os rejeitados pelo mercado temos carros com portamalas maiores e mais equipamentos que o Civic, com mais espaço e melhor acabamento que o City, mais modernos e com melhor desempenho que o Linea, e com design e qualidade de construção melhores que o Vectra. As fábricas sabem que o mercado automotivo brasileiro é extremamente conservador; por isso demoram tanto a lançarem produtos realmente novos. Mas nós temos poder para gerar uma reviravolta no mercado; basta escolher a modernidade, a tecnologia e a segurança em vez da tradição e do comodismo. Isso certamente faria com que as marcas revissem seus conceitos e nos presenteassem com modelos à altura de nossa paixão por carro.

Um comentário:

  1. Olá Maximiliano

    Penso em comprar um carro usado. E tenho mente, dentre outros modelos, o Mégane e o 307. O que vc pode me dizer quanto a mecânica deles ? Elas são confiáveis ? Possuem também uma manuntenção barata e fácil ?

    E quanto ao seguro ? Possuem um bom valor ?

    Abraço

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