quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

HONDA CIVIC EXL x NISSAN SENTRA SL


Japoneses se enfrentam num duelo de design versus conforto
(E até o Cruze LT se enfiou na briga)

Por Maximiliano Moraes, com colaboração de Jean Maciel e Rodrigo Fernandes
Fotos: Maximiliano Moraes e Rodrigo Fernandes





Ambos têm origem japonesa, contam com motores 2.0 acoplados a transmissões CVT e querem conquistar compradores de sedãs médios, mas as semelhanças param por aí. O Honda Civic EXL, versão intermediária (a Touring, de topo, custa R$ 20 mil a mais), e o Nissan Sentra SL, configuração topo-de-linha do sedã, não poderiam ser mais diferentes um do outro mesmo tendo preços próximos.

Colocamos ambos frente a frente. Como é de costume por aqui, o foco foi o custo x benefício. Pontuamos as características de cada um a partir de seu comportamento dinâmico na cidade e na estrada, da vida a bordo, do desempenho, da eficiência energética, do nível de equipamentos e das inovações. O Chevrolet Cruze LT não participou diretamente deste comparativo (e nem seria apropriado, já que ele custa bem menos), mas estivemos com ele também por uma semana e mais adiante você vai entender por que o enfiamos nesta reportagem.

DESIGN


Nissan Sentra foi renovado, mas perto do Civic fica envelhecido

O Sentra está de cara nova desde maio. A frente ganhou a identidade atual da marca; ficou realmente bonita, bem mais agressiva e ganhou faróis de LED. A traseira mudou muito pouco, só as luzes das lanternas o para-choque ganharam novo desenho. Mas o acabamento interno melhorou e a porção central ganhou novo display do ar condicionado e novo console para a alavanca de câmbio. Há ainda mais itens de série e novas rodas.

Só que mesmo com linhas bem resolvidas este Nissan sempre passeou pelas garagens conservadoras e, mesmo atualizado, ao lado do Civic ele fica envelhecido. As linhas do Honda chamam a atenção por qualquer ângulo que se olhe, com um arrojo que causa tanto impacto quanto a geração de 2006. Fica difícil definir o que é mais bonito: a frente com cara de má, a traseira com lanternas-bumerangue (que à noite ficam ainda mais belas), a lateral com perfil de cupê ou o apanhado geral de ângulos.


Versão EXL do Civic tem faróis elipsoidais; full leds, só na versão Touring

O interior também ganhou um upgrade e tanto. Saiu o painel de 2 andares, bacana mas que já cansava, e entrou um painel de um só andar com tela central de TFT que abriga o velocímetro digital e as informações do computador de bordo, ladeada pelo conta-giros e com marcadores de temperatura e combustível nas laterais. O acabamento geral melhorou, com muito mais superfícies macias ao toque e layout geral ainda mais moderno. O console central, que abriga a alavanca de câmbio, o descanso de braços e um porta-trecos imenso, é alto e dá tanto ao motorista quanto ao passageiro a sensação de estarem em um cockpit. Finalmente, o ambiente predominantemente escuro - teto e colunas são também revestidas em preto - deixa o carro mais aconchegante e, por que não dizer, com feeling esportivo.

Civic 1 x 0 Sentra

CONFORTO

Se fôssemos considerar somente a opinião dos motoristas seria muito difícil definir um vencedor para este quesito. Por exemplo, enquanto para uns conforto é ter bancos mais aconchegantes, para outros é sentir-se mais "abraçado" ao volante. Acontece que a família muitas vezes vai junto e eles também precisam se sentir bem no carro. É nessa hora que o Sentra mostra alguns de seus principais atributos.


Porta-malas do Sentra leva 503 litros - parece maior -, mas acabamento deixa a desejar

Para começar, os bancos com tecnologia Zero Gravity conseguem o que muitos não são capazes: manter todos os ocupantes descansados mesmo em viagens mais longas. O do motorista, aliás, tem ajustes elétricos. Há espaço de sobra para todo mundo, já que mesmo com os bancos dianteiros totalmente recuados pode-se até cruzar as pernas no banco traseiro, e a temperatura amena na cabine é garantida pelo ar condicionado dual zone. O sistema de som Bose também merece destaque por si. O porta-malas leva 503 litros, segundo a Nissan. Pena que o revestimento é meio mal feito, com carpetes mal moldados, um pedaço de tecido à mostra no fundo do compartimento e hastes sem qualquer revestimento.

Todo sobre conforto, o Sentra conta ainda com um ajuste de suspensão que privilegia a filtragem de imperfeições e o rodar suave. A direção elétrica é menos direta que no Civic, o que faz as curvas serem sentidas com menos impacto. O silêncio a bordo só é interrompido em acelerações mais bruscas, como numa ultrapassagem, por exemplo. Isso porque o câmbio CVT joga as rotações lá para cima para gerar potência, mas logo em seguida as reduz e, em velocidade de cruzeiro, as mantém cá embaixo - ou seja, na maioria das situações o sedã da Nissan é quieto.


Civic leva 519 litros segundo a marca e o porta-malas é mais bem acabado

O Civic está longe de ser desconfortável, mas o problema não é filtrar buracos ou estradas retas. Quem gosta de dirigir vai simplesmente adorar o comportamento do carro, mas nas curvas ele deixa os ocupantes mais propensos aos sacolejos porque a direção é direta demais. O câmbio do Civic é melhor que o do Sentra, mas outra vez seu ajuste privilegia a esportividade (ainda que pareça contraditório dizer isso sobre um CVT). A programação inclui 7 marchas virtuais que podem ser "trocadas" por paddle-shifters atrás do volante.

O Honda tem ainda menos espaço interno. Foi-se o piso traseiro plano; agora há um ressalto central que limita o espaço para as pernas no banco traseiro. Falando nele, o acesso pelas portas traseiras é ruim tanto porque o teto é mais baixo quanto porque o batente inferior é mais alto. Na frente não é que falte espaço, mas lembra quando falamos do console alto e do revestimento escuro da cabine? Pois é, por causa deles a sensação é de um carro menos arejado. Fora isso, o banco do motorista não conta com ajustes elétricos nem há teto solar (que o Sentra SL tem) nesta versão, e o sistema de som é menos apurado que o do Nissan. Mas nem tudo é desvantagem: o porta-malas é maior (519 litros) e mais bem acabado, o ar condicionado também é dual zone e o nível de ruído é igualmente baixo.

Civic 1 x 1 Sentra

SEGURANÇA

Se no quesito conforto o Sentra leva a melhor, em segurança a vida não é tão mole. Tanto o Nissan quanto o Honda contam com 6 airbags, freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem, Isofix no banco traseiro, câmera de ré, leds diurnos e controles de tração e estabilidade.



O Sentra SL leva vantagem por trazer alerta de tráfego cruzado (RCTA), monitoramento de ponto cego (BSW) e alerta de colisão frontal (FCW), sistemas não disponíveis no Civic EXL, além de faróis em led, que iluminam melhor. O Honda, porém, rebate com assistente de partida em rampas (HSA) e o que a marca chama de "Assistente de Dirigibilidade Ágil (AHA), sistema que freia as rodas do lado interno da curva quando percebe perda de aderência.



Com suspensão traseira bem mais moderna que a do Sentra (multilink com 8 pontos de apoio), o Civic consegue ser mais estável e neutro nas curvas - o Sentra, com suspensão traseira por eixo de torção, é bom mas a carroceria aderna mais e o limite chega mais cedo. Ambos freiam bem e por serem equilibrados em itens de segurança, empatam neste quesito.

Civic 2 x 2 Sentra

DESEMPENHO

Os motores do Sentra e do Civic têm concepções parecidas: bloco 2.0 com 16 válvulas acoplados a um câmbio CVT sem marchas pré-definidas no Nissan e com 7 velocidades simuladas no Honda. Só que os números de potência e torque são distintos: 155 cv e 19,5 kgfm de torque para o Civic, 140 cv e 20 kgfm de torque para o Sentra.


Nissan conta com motor 2.0 16v de 140 cv e 20 kgfm de torque, mas é mais lento...

Com mais torque, a lógica seria de arrancadas mais vigorosas para o Sentra, mas não é isso que acontece. A Nissan sempre foi boa com câmbios CVT - tanto é que praticamente todos os seus modelos são equipados com este tipo de transmissão - mas além de o Sentra ser pouca coisa mais pesado (1.360 kg contra 1.326 kg), o acerto que a Honda conseguiu para o Civic ficou realmente melhor. Resultado: o Civic acelera de 0 a 100 km/h em cerca de 10,5 segundos e é mais ágil em retomadas, enquanto o Sentra demora pelo menos 12 segundos para fazer o 0 a 100.

Interessante é que o Civic, mesmo andando mais, tem o auxílio do sistema ECON, acionado por um botão ao lado da alavanca de câmbio, e por isso consome proporcionalmente menos. A gente sempre avalia os carros com o combustível que está no tanque - o Sentra veio com gasolina e o Civic, com etanol. Ambos, porém, tiveram marcas de consumo muitíssimo parecidas: o Sentra fez 12,1 km/l na estrada e não ultrapassou 9,3 km/l na cidade, enquanto o Civic fez 11,9 na estrada e 8,9 na cidade. Tivesse sido abastecido com gasolina o Honda certamente conseguiria marcas bem superiores às do Nissan.


...que o Civic, que tem propulsor 2.0 16v VTEC de 155 cv e 19,5 kgfm de torque

Como se não bastasse, e como já foi dito, o Civic tem qualidade de rodagem superior, com um compromisso entre conforto e estabilidade muito bom (apesar, novamente, de o Sentra ser mais confortável). A posição de dirigir é muito mais apropriada para a condução esportiva, e quando exigido a fundo suas reações são muito mais prontas e diretas. O Civic faz curva melhor, tanto pela presença do AHA quanto pela suspensão mais refinada e o uso de pneus maiores (215 contra 205 do Nissan), e seu limite demora mais a chegar.

Civic 3 x 2 Sentra

CUSTO x BENEFÍCIO

Cem mil reais não é dinheiro que se ache pendurado num pé de manga. Quem gasta isso num carro espera bem mais do que beleza e penduricalhos. Tanto o Sentra quanto o Civic são capazes de agradar seus compradores, mas um deles faz o dinheiro parecer mais bem gasto.


Sentra SL traz mais equipamentos de série e conta com cabine refinada e arejada

O preço de tabela do Nissan, no site, é de R$ 99.990,00, mas pagando isso você só pode escolher a cor Preto Premium, sólida. Se quiser uma das 3 metálicas disponíveis, o único opcional disponível, vai ter que desembolsar mais R$ 1.250,00. O Honda, por sua vez, custa R$ 105.900,00 no site - se for branco sólido. A pintura metálica custa R$ 1.200,00 e a perolizada, R$ 1.500.

A lista de itens de série dos dois inclui ar condicionado automático digital dual zone, direção elétrica, vidros elétricos nas 4 portas, travas elétricas com alarme, retrovisores elétricos com rebatimento, volante multifuncional, central multimídia com conectividade, CD player, GPS, Bluetooth e entradas auxiliares, acendimento automático dos faróis, computador de bordo, tela de TFT no centro do painel, bancos revestidos em couro, câmera de ré, Isofix no banco traseiro, controlador de velocidade, 6 airbags, controles de tração e estabilidade, freios a disco nas 4 rodas com ABS e EBD e leds diurnos.


Civic é bem equipado, mas não tanto quanto o Sentra e tem cabine mais escura e envolvente

O Civic é o único que traz vetorização de torque (ou, como a Honda chama, sistema AHA), borboletas para trocas de marchas, freio de estacionamento eletrônico, sistema ECON e one-touch para todos os vidros (no Sentra só o da porta do motorista tem). O Sentra, por outro lado, traz itens que todo comprador espera num carro de R$ 100 mil e que o Civic não tem: teto solar, retrovisor interno eletrocrômico, banco do motorista com ajustes elétricos, chave presencial, botão de partida, faróis em led, alerta de tráfego cruzado traseiro, monitoramento de ponto cego e alerta de colisão frontal. A conta é fácil: é mais por menos.

Civic 3 x 3 Sentra

E O CRUZE LT?



Não faz sentido, diriam alguns, incluir a versão de entrada do Chevrolet Cruze neste comparativo. Afinal, ele custa R$ 10 mil reais menos que o Sentra ou R$ 15 mil menos que o Civic. Acontece que seu pacote de itens de série, mesmo tratando-se de um carro de entrada, é muito bem servido e conta com itens que os outros dois não têm.



Direção elétrica, vidros elétricos com one-touch nas 4 portas, sensor de estacionamento, câmera de ré, bancos de couro, cruise-control, computador de bordo, controles de tração e estabilidade, freios a disco nas 4 rodas com ABS e EBD, Isofix, leds diurnos, alarme com levantamento automático de vidros e acionamento pela chave, tudo está ali. Airbags, são 4. O ar condicionado não é de duas zonas mas tem controle automático de temperatura. O retrovisor interno ainda tem a lingueta (o do Civic também). A central multimídia MyLink não tem GPS que se possa operar pela tela, mas conta com orientação por voz. O auxílio de partida em rampas (que o Sentra não tem) é de série.



Só o Cruze, porém, traz retrovisores externos com aquecimento, monitoramento de pressão de pneus, start-stop e OnStar com pacote que inclui rastreamento e bloqueio em caso de roubo ou furto, chamadas de urgência em caso de acidentes ou necessidade de socorro mecânico e serviços de concierge. Além disso ele é o único dos 3 que conta com motor 1.4 turbo e câmbio automático de 6 marchas (que algumas pessoas preferem ao CVT) com opção de trocas manuais pela alavanca. Durante o tempo em que ficou conosco o Cruze conseguiu ainda ser mais econômico que Sentra e Civic, atingindo 10 km/l de gasolina na cidade e ultrapassando os 16 km/l na estrada, em média. E tudo isso custando bem menos.

VEREDICTO

Pela pontuação há um empate técnico entre Civic e Sentra. Em nossa opinião, porém, o Honda Civic EXL é o melhor carro e vence o comparativo. Não tem o melhor pacote de itens de série e é o mais caro dos três, mas é o projeto mais moderno, tem a melhor dirigibilidade, o melhor compromisso entre estabilidade e conforto, o design mais interessante e ainda é a melhor escolha para quem quer perder menos capital, já que tem melhor liquidez e revenda garantida, além de contar com a melhor rede de assistência técnica.

A zebra deste comparativo é o Chevrolet Cruze LT, que entrou de gaiato para mostrar que preço não diz tudo, superando o Sentra. Mesmo sendo bem mais barato que os outros dois ele tem o melhor desempenho, é o mais econômico e tem uma lista de equipamentos de série que não deixa a desejar, com itens exclusivos. É gostoso de dirigir, tem suspensão macia, oferta de espaço interno suficiente apesar de ter um porta-malas bem menor (440 litros) e é extremamente silencioso ao rodar. É a escolha de quem não tem tanta grana para gastar mas não abre mão de certas conveniências nem de bom desempenho.

O Nissan Sentra SL é  o mais familiar deste comparativo, mas talvez por isso não empolgue tanto: é totalmente racional e nada visceral. É, por outro lado, um bom carro, com poucos deslizes que não ofuscam nem de longe a grande quantidade de itens de série, a boa oferta de espaço, o conforto de rodagem e a segurança que proporciona aos ocupantes. Pode ser a escolha de quem busca conforto e bom custo x benefício num sedã topo-de-linha.

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