quinta-feira, 1 de setembro de 2011

AGORA SÃO OUTROS 500



ALTA RODA - Fernando Calmon




Poucos carros na história da Fiat foram capazes de virar o jogo de forma tão cabal como o 500 ou Cinquecento, como se diz em italiano. Aconteceu em 1957 e se repetiu exatos 50 anos depois, em julho de 2007. O novo 500, releitura modernizada do minicarro original, vendeu o dobro da previsão mais otimista da sede da companhia em Turim. Superou as 700.000 unidades acumuladas, basicamente na Europa, ao atender os desejos da afluente classe média e se tornar o terceiro ou quarto carro da classe alta por suas dimensões ideais para o trânsito e estacionamento urbanos.



Preço elevado não é problema na Europa rica. Tornou-se o primeiro subcompacto a oferecer sete airbags de série (incluindo para joelho do motorista) e uma lista de equipamentos de série inigualável nesse segmento. No Brasil, ao contrário, trata-se de uma grande limitação. Por isso era previsível que, ao preço de lançamento de R$ 63.000, as vendas decepcionassem: apenas 100 unidades/mês, em média.

A opção equivocada de lançar o 500 no País se tomou antes da Fiat decidir assumir a Chrysler e produzir o carrinho no México para atender as Américas do Norte e Latina. De cara, sem imposto de importação de 35%, o preço poderia se reduzir em torno de 25%. Mas os italianos gastaram muito para acomodar o modelo às regras americanas de segurança passiva, fabricar o motor Multiair nos EUA e adaptar a fábrica de Toluca. Quase tanto quanto um carro novo.

O 500 ressurge ao preço razoável de R$ 40.000 (versão Cult) e algumas modificações para o mercado brasileiro, a começar pela motorização flex (mesma do Uno 1,4 l, 85/88 cv). Também perdeu cinco airbags e uma marcha no câmbio manual (agora, cinco), porém ganhou bancos dianteiros mais confortáveis, ar-condicionado de maior vazão, quatro refletores nos para-lamas (obrigatórios nos EUA) e cinco litros extras no tanque.

Na primeira avaliação do Cult, com muito calor em Miami, é nítida a diferença de desempenho: 25 cv a menos (gasolina), inferior até ao Uno 2-portas de mesmo motor, que pesa 136 kg menos. Câmbio automatizado Dualogic (R$ 3.000) vem da Itália e mostra pequena evolução nas trocas de marchas.

A novidade é o câmbio automático, da japonesa Aisin, seis marchas (R$ 4.000,00 extras), da versão Sport Air (R$ 48.800, manual), acoplado ao tecnológico motor Multiair, 1.4 l/105 cv. Essa unidade motriz traz gerenciamento eletro- hidráulico de válvulas de admissão, ganhando 5 cv de potência, mesmo com uma árvore de comando a menos. Coloca-se muito bem em termos de desempenho e na faixa baixa dos R$ 50.000 por incluir uma invejável lista de equipamentos de série e um bom conjunto de áudio Bose.

Não deve ser difícil a Fiat comercializar, inicialmente, umas 1.000 unidades/mês – 10 vezes mais que antes – porque toda a sua rede, superior a 500 lojas, passa a vendê-lo, ajudada por uma forte e criativa campanha publicitária e preço ajustado. No entanto, a sustentação ainda se considera uma incógnita. O 500 está na mesma faixa de preço do Punto e do novo Palio, que chega ainda este ano. Exige atenção redobrada, pois a dispersão dos vendedores nas concessionárias, ao explicar a proposta de subcompacto chic, pode enfraquecer esse relançamento.

RODA VIVA

MOMENTO é mesmo dos minicarros. Além do novo VW Up!, uma das atrações do Salão de Frankfurt em meados de setembro, Fiat vai contra-atacar exibindo também o novo Panda. Há anos este é o mais vendido do segmento específico, na Europa. Semelhança de linhas ao Uno brasileiro é grande. Todavia, o modelo italiano sofreu um atraso superior a 18 meses.

COINCIDENTEMENTE, a Kia apresentou o novo Picanto com motor flex no mesmo dia que o Fiat 500. Os preços são próximos – de R$ 35.000 a R$ 45.000 – embora o subcompacto sul-coreano ofereça cinco lugares/quatro portas e o italiano, quatro/duas. Picanto evoluiu em estilo, é muito bem equipado, mas não oferece tantos mimos de série, nem o charme do 500.

ESSE minicarro da Kia também surpreendeu ao oferecer motor 3-cilindros/1 litro (só o Smart, hoje, tem 3 cilindros no nosso mercado). Engenheiros orientais ousaram na alta taxa de compressão (12,5:1), ao contrário de certos flex capengas daqui. E foram recompensados: 77/80 cv de potência, até 10,2 kgf·m de torque. Lá fora, só a gasolina, motor empaca nos 70 cv, bom cala a boca...

AINDA falta o fluxo ideal, porém tudo indica que a escassez de peças em razão dos desastres naturais no Japão, em março passado, começa a se solucionar. Mais atingida, a Honda previa atrasar o novo Civic para 2012. No entanto, as boas notícias devem fazer a fábrica de Sumaré (SP) preparar o lançamento ainda este ano, provavelmente em dezembro.

ESTUDO do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) demonstra que vibrações de origem própria e da pavimentação, a que estão sujeitos todos os veículos, podem afetar componentes eletrônicos. Trata-se de lembrete a quem produz sistemas de rastreamento e bloqueio. Microfissuras podem gerar mau funcionamento.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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